por Vivian Souza
De janeiro para fevereiro, a variação foi de -1,52%, primeira deflação desde maio de 2019. Mas, analisando os 12 meses, o preço do grão cresceu quase 70%, segundo o IPCA.
Apesar de uma leve queda de 1,52% na inflação de fevereiro, comparado a janeiro deste ano, o preço do arroz continua pesando no bolso do consumidor, já que o produto teve alta de quase 70% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O IPCA é considerado a inflação oficial no país e é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os principais motivos para o arroz ter ficado mais caro foram:
- Com o início da pandemia em março, mais gente ficou em casa, o que aumentou o consumo do arroz pela população.
- A alta do dólar fez os produtores quererem exportar mais. E, com isso a oferta do grão no Brasil diminuiu - vale lembrar que a área plantada vem sendo reduzida nos últimos anos devido à falta de estímulo para esta cultura.
- Do outro lado, os custos nas lavouras foram subindo, puxados principalmente pelos fertilizantes, e isso foi repassado também para o consumidor.
Em fevereiro, já com uma menos gente procurando pelo produto, com mais importações e o arroz estando em plena safra, os valores começam a cair lentamente nas prateleiras dos supermercados.
Analistas entrevistados pelo G1 dizem que vai demorar para os consumidores voltarem a pagar o mesmo de antes a pandemia.
Veja em detalhes o que tem impactado o arroz:
Por que os preços dispararam?
Para entender o motivo do arroz ter disparado entre 2020 e 2021 é preciso olhar para o início da pandemia, segundo o professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, Lucilio Alves.
Ele explica que, quando as restrições de circulação tiveram início, em março, a população começou a consumir mais o arroz comparado a quando tinha que fazer as refeições na rua.
Além disso, muitos acabaram adquirindo os produtos em volume até maior do que o necessário, afirma o professor.
O crescimento do consumo não foi apenas interno. O Brasil também vendeu mais arroz para o exterior.
“O preço do Brasil em dólares ainda estava atrativo no mercado internacional. Então isso contribuiu para que tivesse um incentivo do importador vir buscar o produto no Brasil”, diz.
“A receita em reais e a taxa de câmbio atrativa também fizeram com que tivesse um interesse dos produtores brasileiros em vender para o mercado internacional”, completa.
Com o crescimento da exportação, a oferta no Brasil caiu.
Em paralelo a isso, havia um temor da população da safra não ser o suficiente para a demanda em 2020, o que também valorizou os preços, como conta o assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Fábio Carneiro.
“A produção não acompanhou a demanda de 2020 de arroz no mercado global”, comentou.
“No ano passado teve uma preocupação muito grande se ia faltar arroz no Brasil e isso levou a uma intensificação do período de entressafra, que é geralmente no segundo semestre”, relata o assessor. “E essa preocupação acabou pressionando ainda mais o mercado”.
Apesar deste crescimento da procura, a última safra de grãos no Brasil foi recorde, atingindo 257,8 milhões de toneladas, sendo 11,2 milhões t apenas de arroz, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Ainda que os preços estejam salgados para o consumidor final, o produtor também vem pagando caro pelo cultivo do arroz. Alves conta que, em 11 anos, apenas nos últimos três o produtor teve receita suficiente para pagar todas as contas.
Por que os preços começaram a cair?
Mesmo antes da deflação em fevereiro, a variação começou a desacelerar gradativamente em 2020.
Segundo o pesquisador do Cepea, Lucilo Alves, este declínio é, na verdade, um ajuste de mercado. Isso porque os valores no campo já vinham caindo desde outubro, tendo um recuo de 16% até fevereiro, porém só agora a queda chegou aos supermercados.
Em fevereiro de 2020, comparado com o mesmo período do ano anterior, as vendas do arroz caíram quase 30%, de acordo com o professor.
Para ele, isto é fruto de um menor ritmo de compra pelos consumidores, gerado, entre outros motivos, pelo fim de alguns subsídios do governo, como o auxílio emergencial.
Alves explica, que após os preços subirem, “o Brasil reduziu a tarifa internacional de importação e tentou viabilizar a importação de outros países para atender o mercado doméstico, buscando um equilíbrio”, o que também ajudou a baixar os valores.
Além disso, o arroz está em plena safra, gerando uma maior oferta no mercado.
“A gente tem a colheita de janeiro e fevereiro. No Brasil, ela está perto dos 30%.”, comenta o assessor técnico do CNA, Fábio Carneiro.
“Essa entrada da oferta no mercado começa a dar uma segurança de produto. E começa a diminuir os preços”, completa.
O que esperar para o futuro?
Para Carneiro, ainda no primeiro semestre de 2021 os preços continuarão caindo em um reflexo do que já acontece no campo.
“Para você ter uma ideia ele (o arroz) já está R$ 30,00 mais barato do que o que vimos no segundo semestre”, ressaltou se referindo ao valor para o produtor.
Além disso, a expectativa é de que a colheita continue alta, entregando uma maior oferta à população. Mas, ele observa:
“Não deve ser um preço voltando para as casas dos outros anos. Ele deve ser um pouco acima, mas é um preço bem menor do que vimos no segundo semestre do ano passado”.
Os dois especialistas entrevistados pelo G1 concordam que com o retorno do auxílio emergencial, não está prevista uma alta para o produto, mas talvez uma estabilização dos preços, impedindo assim quedas mais expressivas.
O professor da Esalq/USP, Lucilo Alves, acredita também que o valor do arroz vai depender do parâmetro internacional.
“Os preços estão altos hoje por um contexto de preços em dólar um pouco mais firmes do que o ano passado”, explica. “A gente precisa olhar a perspectiva de câmbio”.
Olhando já para a próxima safra, Carneiro afirma que o custo de produção tem aumentado. O valor estaria sendo puxado principalmente pelos fertilizantes e uso de máquinas, devido ao consumo do óleo diesel.
Para ele é possível que esse fator afete a área plantada, que já foi reduzida nos últimos anos devido à falta de estímulo para esta produção.
Fonte: G1 - 23/03/2021 e SOS Consumidor
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