quinta-feira, 11 de março de 2021

Ato no Palácio Piratini reúne manifestantes a favor da retomada das atividades econômicas

 Protesto que durou três horas deixou o trânsito lento na região na tarde desta quarta-feira



Um protesto contra as medidas restritivas do governo gaúcho, por conta da pandemia do novo coronavírus, reuniu nesta quarta-feira centenas de manifestantes em frente ao Palácio Piratini. O grupo criticava as restrições ao funcionamento do comércio e de outras atividades consideradas não essenciais. Em função da aglomeração na rua Duque de Caxias, o trânsito ficou lento na região do Centro Histórico. E piorou com a chegada de uma carreata com outra parte do grupo.

Profissionais de educação física, do comércio e de serviços exigiam flexibilização das medidas do Estado. A maioria carregava bandeiras do Brasil, além de cartazes e faixas com mensagens pedindo o impeachment do governador Eduardo Leite e de intervenção militar. O ato no Palácio Piratini durou três horas, período em que a Brigada Militar se limitou a garantir a segurança na entrada da sede do governo e nos arredores. O Batalhão de Choque permaneceu de prontidão dentro do Piratini. Durante esse tempo, os manifestantes buzinavam, gritavam, entoavam palavras de ordem. Idosos também compareceram ao ato, uma boa parte sem máscara de proteção.



A Associação da Academias Gaúchas Unidas (AAGU), que organizou a carreata que partiu da avenida Farrapos até o Centro Histórico, defende a reabertura das academias. O diretor-executivo da AAGU, Marcelo de Freitas, garante que o segmento não é responsável pela propagação da Covid-19. "Tanto a AAGU quanto o comércio inteiro nunca foram negacionistas em relação à doença. Sabemos que a doença existe, está matando bastante pessoas. Discordamos da maneira como estão lidando com a doença, não somos culpados da disseminação do vírus e da aglomeração de pessoas", afirma.

Freitas reforça que o segmento adota todos os protocolos do sistema de bandeiras que 'o governo impôs'. "Tivemos gastos e agora ele mesmo diz que não dá pra abrir. Vamos lutar para reabrir", completa. Em meio à manifestação, uma ambulância do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) tentou entrar na contramão da Duque de Caxias, mas desistiu por conta da multidão. Uma boa parte dos manifestantes se deslocou da Região Metropolitana para participar do ato, no mesmo dia em que hospitais da Capital registravam mais um dia de superlotação. Comerciante há 37 anos, Josué Lopes, 66, tem uma loja de confecção em Cachoeirinha e dois postos de gasolina. 

Em meio à pandemia, Lopes demitiu 15 dos 28 funcionários. "Meus funcionários querem trabalhar e me corta o coração ter que mandar 15 pessoas embora nos últimos meses porque o movimento vem caindo. Essa última semana as lojas têm que fechar às 20h. Então para que eu quero uma loja aberta? Fechei tudo", destaca. Na avaliação de Lopes, 'a gente tem que conviver' com essa pandemia. "A pandemia existe? Existe. Ela mata? Mata. Agora com todos os protocolos que a gente já sabe hoje, não tem motivo para fechar. Os ônibus estão lotados, Trensurb está lotado, as pessoas estão se aglomerando na rua", reconhece.

Ele critica a decisão de reduzir o horário de funcionamento dos supermercados, que estão fechando às 20h. "Estão encurtando espaço de tempo para as pessoas fazerem compras", critica. "A sobrevivência está em primeiro lugar também, não é só a vida. Não adianta estar vivo e não ter o que comer. Quem é que vai fazer essa economia andar de volta, se não é o pequeno ou médio empresário", completa. Proprietário de quadras esportivas em Viamão, Elio Fernandes Barbosa, 64, está com o negócio fechado. "Ano passado ficamos sete meses fechados total. Quebramos. Conseguimos sair do lodo devagarinho e agora estamos há duas semanas fechados novamente. Infelizmente não sei nem se eu consigo voltar", admite.

Governo diz que cenário não é oportuno para manifestações

O governo entende as manifestações contrárias às restrições para conter a disseminação do coronavírus, mas lembra que o cenário atual da pandemia não é oportuno, do ponto de vista sanitário, para realizar aglomerações.

Na terça-feira, o Estado registrou um recorde de 275 mortes pela Covid-19 em nosso território. Mesmo com o governo tendo ampliado o número de leitos de UTI em 136%, o Estado tem a capacidade de ocupação das UTIs esgotada, inclusive com pessoas em situação grave à espera de leito.

Esse contexto impõe que o Rio Grande do Sul adote medidas restritivas para diminuir a circulação de pessoas, como fizeram, com sucesso, países como Alemanha, Reino Unido, Itália, França, Espanha, entre outros.

Por fim, o governo reitera que a realização de aglomerações, com pessoas sem máscara, inclusive, em nada ajuda o Estado a superar esse momento. Pelo contrário: amplia a circulação do vírus, coloca vidas em risco (incluindo as de quem participa dessas atividades), atrasa a retomada econômica, que é de interesse de todos, e fortalece aquele que deveria ser o inimigo em comum da sociedade gaúcha: o vírus.


Correio do Povo

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