terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Valter Nagelstein é indiciado por racismo em razão de áudio sobre a bancada do PSOL

 Candidato ao Paço Municipal em 2020 enviou gravação sobre vereadores pelas redes sociais. Em depoimento, ele argumentou que sua declaração foi uma análise do resultado da eleição



Candidato derrotado à prefeitura de Porto Alegre em 2020, o ex-vereador Valter Nagelstein (PSD) foi indiciado por racismo qualificado em inquérito da Polícia Civil que investigou áudio enviado por ele a um grupo de apoiadores. A apuração foi remetida nesta terça-feira (9) ao Judiciário. 

Na mensagem, que viralizou em 17 de novembro, após o primeiro turno, Nagelstein agradece pelos votos e faz considerações sobre a nova composição da Câmara, referindo-se aos vereadores recém eleitos do PSOL, afirmando que "muitos deles jovens, negros", "sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência, sem nenhum trabalho e com pouquíssima qualificação formal". 

A titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, Andréa Mattos, entende que, além de praticar preconceito e discriminação, Nagelstein incitou as pessoas para as quais enviou o áudio a pensar como ele. Na avaliação da delegada, o crime de racismo ganha a qualificadora pelo áudio ter sido divulgado em rede social:

— Os critérios que identificam a discriminação racial resultam da conjugação de dois fatores. A primeira é a motivação orientada pelo preconceito e a outra é a finalidade de submeter a vítima a situações de diferenciação quanto ao acesso e gozo de bens, serviços e oportunidades. Que é exatamente o que a gente vê aqui.

A apuração partiu de notícia-crime enviada pela Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos, atendendo a pedido feito pelo Movimento Negro Unificado e subscrito por outras 40 entidades, entre elas Sindicato dos Servidores do Ministério Público, Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do RS e Instituto de Acesso à Justiça.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, Andréa Mattos entende que falas foram preconceituosas

— A grande diferença do racismo para a injúria racial é que a injúria ofende a honra subjetiva da pessoa, em uma situação particular. Essa declaração não ofende só a honra dos vereadores, ofende todas as pessoas de raça negra - diz a delegada.

A bancada negra da Câmara foi ouvida no inquérito e disse ter se sentido atacada ao ter qualificação e experiência questionadas. O grupo é formado por Karen Santos (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB), Daiana Santos (PCdoB), Laura Sito (PT) e Matheus Gomes (PSOL)

— Todos têm Ensino Superior, só um deles ainda está cursando. Um deles também é mestrando. São pessoas que, além de ter histórico político, têm, sim, qualificação formal. Além da declaração preconceituosa, entende-se, pela fala dele, que pessoas negras não deveriam ocupar determinados lugares — afirma a delegada.

Em depoimento à polícia, Nagelstein negou que sua fala tivesse cunho racista, argumentou que sua declaração foi uma análise do resultado da eleição, que elegeu jovens negros, com pouca qualificação formal - explicando que se referia à qualificação profissional dos eleitos. Disse ainda que são jovens inexperientes e recém-formados. 

Ainda conforme o depoimento de Nagelstein, descrever pessoas como negras não configura racismo. Também negou ter feito análise de classe social. Frisou que não teve intenção de proferir fala discriminatória, mas sim contextualizar o resultado da eleição que, na visão dele, é decorrente de uma prática política de determinado grupo. Nagelstein ainda disse que já existiram disputas políticas anteriores entre ele e os vereadores eleitos.

Contraponto: 

Nagelstein diz que não teve intenção de praticar racismo e que estranha a posição da Polícia Civil:

— Reitero que é uma questão política. Não houve em nenhum momento intuito meu de praticar nenhum ato de racismo. Fiz uma avaliação em relação ao discurso que essa bancada faz e o resultado eleitoral e ponto. De novo, lamento a posição da delegada.


GaúchaZH

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