domingo, 28 de fevereiro de 2021

Hotéis e comércio sofrem com a ausência de clientes no litoral Norte gaúcho

 Setor imobiliário registrou avanço, mesmo com as restrições impostas devido a pandemia



Uma temporada de verão completamente atípica aconteceu neste ano, por causa da pandemia do coronavírus, que acabou prejudicando os negócios no litoral norte gaúcho, assim como em todo o resto do país. Os hotéis e o comércio sofreram muito com a ausência de clientes. O único setor que conseguiu registrar avanço foi o imobiliário, que viu a clientela procurar imóveis na região, fugindo das grandes cidades, acreditando ser a praia um local mais seguro, longe de aglomerações.

“Esta temporada foi fora da curva, atípica”, constatou a presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, Ivone Ferraz.

O setor hoteleiro está convivendo com a pandemia desde março do ano passado, somando meses de portas fechadas, e se sentindo cada vez mais prejudicado a cada decreto publicado pelo governador Eduardo Leite. “Os empresários do setor, nesta hora têm de ser criativos, e mostrar opções para as pessoas”, disse Ivone. Ela contou que o começo da temporada, em dezembro, superou as expectativas com o turismo, mas que no decorrer dos meses houve uma queda na procura.

Ivone destaca que neste ano houve ainda a ausência das pessoas que costumavam vir do exterior para o litoral norte. E mesmo quem não viajou para fora, não apareceu. “Fomos muito impactados. Mesmo com muitos hotéis baixando as suas diárias”, lamentou. “E como todo o setor da região, o verão é a época mais forte para nós, que precisamos fazer caixa para sobreviver aos meses de inverno. E agora não conseguimos nem pagar direito coisas como luz, água, impostos”, revelou.

Ivone disse, ainda, que os decretos governamentais prejudicaram ainda mais. “Acredito que as pessoas estão cansadas destas determinações. A pandemia está aí, mas acredito que as pessoas têm o direito do livre arbítrio. Não devem ser impedidas de fazer o que querem. E aí ainda vai da consciência de cada um”, disparou. “Eu prego abertamente a desobediência civil”, disparou.

“Os hotéis são locais seguros, e queremos mostrar que as pessoas podem vir tranquilas. Seguimos os protocolos de segurança determinados pela Vigilância Sanitária. E outra coisa, esta determinação de fechar os bares e restaurantes às 20h é muito ruim. É neste horário que os veranistas saem para jantar. Ou seja, mais um setor prejudicado”, protestou.

Único lugar que permanece vendendo revistas e jornais em Tramandaí nestes tempos onde as pessoas acabaram trocando o papel pelos meios digitais, a banca de Joel Luís Spohr, resiste tendo de vender uma variedade grande de outros produtos.

“Está dando muito trabalho manter a loja, vender revistas e jornais. Mas tenho quatro funcionários que dependem de mim, então não posso pensar em fechar, caso contrário teria de demitir todo mundo”, afirmou.

“Mas esta temporada criou uma sensação de ansiedade e preocupação enorme”, confessou. Spohr mantém o local há quase três décadas, e o perfil mudou muito nestes últimos tempos. “A pandemia até não afastou a clientela. Mas mudou muito a característica do que é comprado. “Antigamente eu vendia quase 300 jornais por dia. Hoje saem dez”, contabilizou. “Vendemos outros tipos de produtos. Mas a loja é um trabalho de resistência”, completou.

Já em uma loja de roupas e acessórios de verão em Tramandaí, a atendente Cláudia Borges contou que “a temporada de 2021 foi muito ruim”. Ela contou que muitas pessoas optaram por se mudar para a praia para fugir da pandemia, mas “as pessoas não estão comprando nada. Teve muita quebradeira aqui na cidade”, constatou. “Os veranistas até apareciam, olhavam, mas não compravam nada. Antigamente a gente fazia caixa no verão para poder sobreviver ao inverno”, disse. “E ainda temos de pagar os fornecedores. Não deveremos conseguir manter as portas abertas”, profetizou.

Em um bazar de artigos gauchescos, o proprietário Renato Lima afirmou ter ficado “às moscas neste verão e que a economia está muito ruim”. “O Covid nos pegou direitinho. Em relação as outras temporadas, vendi 40% a menos de meus produtos. Quem comprava eram os turistas, que queriam levar para casa os produtos tradicionalistas. E eles não vieram este ano”, disse. “Eu paguei para trabalhar”, confessou. Lima afirmou que “o inverno será complicado. O que se salva são os supermercados, as farmácias e a construção civil. O resto penando para sobreviver”, lamentou. O comerciante disse ainda “não acreditar em melhoras até 2022”. “Eu observei que aumentou o número de pessoas aqui no litoral, mas elas se mantinham em casa, para se proteger”.

O setor imobiliário, por sua vez, teve crescimento apesar da pandemia. É o que garantiu André Gules, proprietário de uma imobiliária em Capão da Canoa. “Tivemos um grande faturamento. Todo mundo veio para cá para fugir da pandemia nas grandes cidades. E acabou investindo aqui”, comemorou. “Até mesmo notamos a presença de pessoas que costumavam viajar para fora, e acabaram fazendo negócio em Capão”, notou. “A praia é considerada um local mais seguro. E isso aqueceu o nosso mercado. Não temos do que reclamar”, disse. Gules garantiu que a previsão para o inverno também é muito boa. “Não temos do que reclamar, o volume de vendas foi excelente. Enfim, um dos melhores anos em nosso ramo”.

Sua visão é compartilhada por Renan Kroth, também responsável por outra imobiliária. “As pessoas saíram das metrópoles em busca de segurança e vieram para o litoral. Nós, por exemplo, fomos procurados por muitos clientes que possuíam um apartamento de um quarto, e desejavam um imóvel maior”, revelou.

Conforme Kroth, as pessoas alegavam querer um local maior, pois precisavam de um escritório para o home-office ou até mesmo mais lugar para familiares. “E estamos apostando ainda no inverno, pois esta pandemia deve ir longe, e as pessoas não deverão retornar para as suas casas, permanecendo aqui no litoral”, completou.


Correio do Povo


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