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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

FORÇA DO SISTEMA - 11.02.21

 Por Márcio Coimbra, publicado no jornal O Tempo


 


O Brasil vive o desfecho da mais importante operação anticorrupção da história do país. Ao mirar na Petrobras, a Lava Jato descobriu um sofisticado mecanismo de desvios de recursos públicos que atingiu personagens centrais do mundo político brasileiro. Ao desvendar esses caminhos, os petistas, que governavam o país havia mais de uma década, sucumbiram, assim como alguns sócios do consórcio governista.


A Lava Jato levou a população para as ruas em um movimento inédito para um povo que não tem o hábito de protestar. A indignação do povo brasileiro mexeu com as estruturas políticas e sacudiu a sucessão presidencial. Na visão da população, ali se daria a grande virada, mudando a dinâmica do jogo e iniciando um novo tempo em nossa democracia, finalmente longe do domínio sistemático da chamada velha política.


 


Ao movimentar as estruturas políticas nacionais, a Lava Jato tornou-se um capítulo importante de nossa história, assim como a operação Mãos Limpas transformou-se em episódio ímpar no combate à corrupção do modelo interno de poder italiano. Infelizmente, os resultados, tanto lá quanto aqui, são muito similares. Apesar do esforço das forças-tarefa, a capacidade de luta e regeneração do sistema mostrou sua face com enorme resiliência.


Em ambos os países, a rejeição da população ao sistema engoliu os partidos políticos tradicionais, levando outsiders ao poder. Nesse novo momento da política italiana surgiu Berlusconi, e na geopolítica do poder brasileiro emergiu o nome de Bolsonaro. Ambos conseguiram se viabilizar em uma espécie de discurso de uma nova política, que desprezava métodos tradicionais e pregava uma nova virtude no exercício do poder.


Assim como na Itália, no Brasil o sistema refluiu para depois voltar com uma força descomunal em união entre esquerda e direita para destruir seus oponentes. Em Roma, a reação partiu do governo e do Parlamento italiano, que promoveram um verdadeiro movimento de restauração, aprovando leis para proteger a classe política e tornar as investigações da magistratura mais difíceis. Em Brasília, seguimos pelo mesmo caminho.


Assim como no Brasil, a resposta contra a força-tarefa veio por meio de processos e denúncias contra magistrados e procuradores como forma de deslegitimar suas ações e reputações. Mesmo que improcedentes, serviram para desgastar a imagem dos procuradores e juízes diante da opinião pública. O movimento se intensificou quando a força-tarefa partiu para investigar exatamente aquele que se elegeu no embalo da popularidade da operação e que rejeitava o sistema: Silvio Berlusconi. Qualquer se melhança é mera coincidência.


Depois de décadas, muitos ainda se perguntam se os resultados políticos da operação Mãos Limpas foram benéficos para o país, uma vez que a reação levou um populista ao poder. Ao mesmo tempo, aquele que deveria mudar a política valeu-se do cargo para restaurar o status quo e blindar o sistema de impunidades italiano. Antonio di Pietro, que esteve à frente da operação, diz que hoje os delitos são cometidos com maior inteligência criminal.


Ao olharmos para o Brasil, vemos que seguimos os mesmos passos. Resta ao brasileiro escolher um final diferente para nossa versão dessa história. Se ainda estiver ao nosso alcance, talvez 2022 seja a última oportunidade.


Pontocritico.com

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