As águas em disputa se tornaram motivo de atrito na relação tensa entre Pequim e Washington
Jurandir Soares
O presidente Joe Biden já conseguiu um feito marcante na sua primeira semana de governo que foi a renovação do acordo sobre armas nucleares com a Rússia. O acordo, chamado de New Start, venceria dia 5 de fevereiro. Além de limitar o número de ogivas e mísseis, o acordo autoriza o mútuo monitoramento por satélites e inspeções anuais. Portanto, um passo importante no controle de armas nucleares. O objetivo, porém, era de que a China também participasse do mesmo. Tanto que ao longo das negociações, ainda durante o governo Donald Trump, havia essa tentativa. Em outubro último, o embaixador da China para Assuntos de Desarmamento, Li Song, afirmou: “Existem apenas duas potências nucleares no mundo. Não três”. A publicação foi respondida pelo diretor da Associação de Controle de Armas dos Estados Unidos, Daryl Kimball, que argumentou: “Sim, os EUA e a Rússia possuem os dois maiores arsenais nucleares, mas 300 armas nucleares são mais do que qualquer um precisa, e uma arma nuclear pode destruir uma cidade”. Mas Pequim ficou de fora.
No aspecto militar, a China está preocupada hoje é com o controle sobre Taiwan, que considera uma província rebelde. Especialmente depois que o governo Trump passou a promover uma aproximação maior dos EUA com a ilha, com a qual tem um acordo de defesa. E estabeleceu com Pequim o que ficou conhecido como a Guerra Fria 2.0 que envolve desde tecnologia 5G até o domínio sobre o mar do Sul da China, passando pela autonomia de Hong Kong e disputas comerciais. Desde o último trimestre do ano passado, os EUA vêm realizando manobras militares no mar do Sul da China, numa aérea que Pequim entende que lhe pertence, mas que é reivindicada também por seus vizinhos continentais e insulares Vietnã, Malásia, Filipinas, Brunei e Taiwan.
Ao falar por videoconferência nesta semana no Fórum Econômico Mundial, o presidente Xi Jinping disse que “sanções, isolamento e uma nova Guerra Fria só levam ao isolamento”. Ao mesmo tempo, o porta-voz do Ministério da Defesa chinesa, Wu Qian, alertava que a China estava realizando manobras militares em torno de Taiwan para “evitar influência estrangeira”. E acrescentou que um movimento de independência de Taiwan “será considerado uma declaração de guerra”. Porém, navios dos EUA, liderados pelo porta-aviões USS Theodore Roosevelt, ingressaram no mar do Sul da China no sábado para defender a “liberdade dos mares”, disseram os militares norte-americanos, dias depois de Biden tomar posse como presidente. As águas em disputa se tornaram mais um motivo de atrito na relação bilateral cada vez mais tensa entre Pequim e Washington. Os militares dos EUA vêm aumentando suas atividades constantemente no local nos últimos anos. Atividades que, como se observa, não cessaram com a mudança de governo, passando para Biden o desafio de como lidar com a China.
Correio do Povo
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