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sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Reino Unido corta definitivamente os laços com a União Europeia

 Às 23h locais, o país abandonou a união alfandegária da UE para um futuro solitário repleto de desafios



O Reino Unido cortou definitivamente nesta quinta-feira seus laços com a União Europeia (UE), encerrando 48 anos de uma relação agitada, para se tornar um "país livre", com um futuro solitário repleto de desafios.

"Quando o sol sair amanhã, em 2021, o Reino Unido será livre para fazer as coisas de forma diferente e, se for necessário, melhor do que nossos amigos da UE. Livre para fechar acordos comerciais em todo o mundo e livre para impulsionar nossa ambição", declarou o premier Boris Johnson, em uma mensagem de fim de ano mais centrada no novo coronavírus do que no Brexit.

Às 23h locais, o país abandonou definitivamente a união alfandegária da UE. Devido à pandemia, não houve celebrações. Apenas o Big Ben, situado na torre do Parlamento britânico e em restauração desde 2017, quebrou seu silêncio excepcionalmente e suas badaladas anunciaram o momento histórico.

Johnson vive uma importante vitória pessoal após assumir as rédeas do Brexit, em julho de 2019. Seu Executivo ainda evitou um choque de última hora, chegando a um acordo com o governo espanhol nesta quinta-feira para manter a fronteira com Gibraltar aberta: o pequeno enclave britânico no extremo sul da Península Ibérica será integrado à zona Schengen de livre circulação de pessoas.

Esperança e preocupação

Após anos de caos e confronto político, o Reino Unido deixou oficialmente a UE em 31 de janeiro, colocando em prática o que os britânicos decidiram por 52% dos votos em um polêmico referendo de junho de 2016. No entanto, durante onze meses, o país viveu o chamado "período de transição", durante o qual continuou a aplicar as regras europeias enquanto negociava a sua futura relação com os seus 27 antigos parceiros.

Impedida pela pandemia do coronavírus e pela resolução de Londres de "recuperar sua total soberania" e pela UE de "proteger o mercado único", a negociação parecia condenada em várias ocasiões. Porém, em 24 de dezembro, acabou dando frutos: a façanha de chegar ao acordo de livre comércio mais completo e abrangente possível no prazo recorde de dez meses, em vez dos vários anos que esses acordos costumam exigir.

Com ele, a UE oferece ao seu ex-parceiro acesso sem precedentes sem tarifas e sem cotas ao seu enorme mercado de 450 milhões de consumidores em troca do compromisso do Reino Unido de respeitar uma série de regras que irão evoluir ao longo do tempo sobre o meio ambiente, trabalho e direitos fiscais para evitar qualquer concorrência desleal.

Isso evitará que o caos se instale nas fronteiras britânicas às 11:00 GMT (20h, Brasília), meia-noite na Europa continental, seus portos sejam bloqueados pelo acúmulo de cargas sujeitas a procedimentos aduaneiros deixando o Reino em escassez de produtos em meio a um terceiro pelo alta dos casos de coronavírus.

No entanto, apesar do acordo, a burocracia vai aumentar e os despachantes aduaneiros de Dover, principal porto britânico no Canal da Mancha, estão preocupados com os novos procedimentos. "Será melhor, devemos nos autogovernar e ser nossos próprios patrões", disse Maureen Martin, uma inglesa aposentada, à AFP, enquanto Kirk Hughes, um funcionário de TI, reconheceu estar "um pouco ansioso" com possíveis transtornos durante as "semanas de transição".

Olhar para o futuro

Os desafios são consideráveis para o governo Johnson, que prometeu dar ao Reino Unido um novo lugar no mundo. No entanto, ele está prestes a perder um aliado poderoso com a saída de Donald Trump, um apoiador do Brexit que será substituído na Casa Branca pelo democrata mais pró-europeu Joe Biden.

Em nível nacional, o Executivo conservador deve se esforçar para reunificar os britânicos, divididos por um Brexit que contrariou a Escócia e a Irlanda do Norte. "Deixamos um lugar vazio à mesa na Europa" mas "não ficará vazio por muito tempo", ameaçou na quarta-feira o deputado escocês pró-independência Ian Blackford, cujo partido, o SNP, exige um novo referendo sobre autodeterminação, depois do vencido em 2014, com a esperança de poder reintegrar a UE como um Estado independente.

Desde a sua entrada na Comunidade Econômica Europeia, em 1973, a relação britânica com o bloco tem sido marcada por conflitos. Mais interessado na integração econômica do que política, Londres se recusou em 1985 a participar dos acordos de Schengen e em 1993 da moeda única europeia, além de pedir redução na contribuição do orçamento comum.

Agora, a UE perde definitivamente este importante membro, de 66 milhões de habitantes e uma economia de 2,85 trilhões de dólares, e ganha o medo de que outros nacionalismos populistas sigam o exemplo. Porém, livre dos freios britânicos, poderá continuar trabalhando em seu projeto de maior integração política.

"Foi um longo caminho. É hora de deixar o Brexit para trás. Nosso futuro se constrói na Europa", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.


AFP e Correio do Povo

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