segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

No primeiro dia de aplicação do Enem, estudantes são impedidos de realizar prova em Porto Alegre

 Superlotação de salas impediu candidatos de participarem do exame

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que devido à pandemia, começou neste domingo. Mas este primeiro dia de provas foi marcado por problemas, apesar das precauções adotadas para evitar a propagação do coronavírus. Os portões foram abertos mais cedo, às 11h30min, fecharam às 13h e das 13h30min às 19 horas foi a aplicação das provas objetivas de linguagens e ciências humanas, com 45 questões cada, além da redação, que teve como tema "O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Mas em Porto Alegre, muitos estudantes não conseguiram fazer o Enem, devido a problemas de lotação das salas. Também houve filas e aglomerações em acessos e corredores de prédios que receberam os candidatos. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, foi procurado, mas não deu esclarecimentos sobre a situação.

Alegando questões de segurança e sigilo, o Inep não divulgou a listagem de locais de prova. Mas na PUCRS, na zona Leste da Capital, 6.781 candidatos iriam participar do exame distribuídos em oito prédios da instituição. O acesso ao campus estava liberado desde cedo, mas os estudantes compareceram em maior peso a partir das 11 horas, quando foi permitido a entrada nos prédios. “Sou meio adiantada. Cheguei para não ter qualquer problema”, conta a candidata ao curso de Medicina Veterinária, Alice Freitas, 24 anos. Para ela, o pior problema causado pela pandemia na preparação à prova, foi a incerteza. “Não dava para saber se iria ter prova. Tinha ainda que responder um questionário se tinha alguma doença, mas não avisaram quando encerrava e quando respondi não deu mais”, lamenta a moradora do bairro Alto Petrópolis. Por outro lado, quem chegou atrasado, às 13 horas, acabou se deparando com as portas fechadas nos locais de prova.

A estudante Matiely Machado, 21, da Restinga, estava apreensiva e horas antes da prova, chegou a pensar em desistir. “Fiquei com medo. No grupo de WhatsApp com outros candidatos, fizeram uma enquete e uns 50% responderam que iriam desistir. Muita gente que conheço, desistiu. Era a primeira vez que ela enfrentava o exame e tentava entrar para a faculdade de Administração.

Mas para tentar contornar os obstáculos impostos pela pandemia, o Inep ordenou ocupação máxima de 50% de candidatos por sala, para garantir o distanciamento entre os participantes. Durante todo o tempo de realização da prova, os candidatos ainda estavam obrigados a usar máscaras de proteção da forma correta, tapando o nariz e a boca, sob pena de serem eliminados do exame. Além disso, havia a promessa do álcool em gel estar disponível em todos os locais de aplicação.

Mas para Alice Ferreira, 19 anos, que tentaria uma vaga para o curso de Letras, o primeiro dia de Enem foi de frustração. Apesar de ser moradora de Porto Alegre, ela veio da praia exclusivamente para realizar a prova. Ingressou no prédio 50 da PUCRS às 12h10 e permaneceu lá até ser convidada a se retirar da sala. “Não tinha mais que uns 15 alunos na sala. Mas disseram que a sala estava cheia e tive que sair. Aí parece que é para fazer a prova, que será remarcada nos dias 24 e 25 de fevereiro”, relata. Para Alice, os fiscais de sala teria dito ainda para ligar para o Inep para buscar orientações e justificaram a medida por causa de uma liminar da Justiça do Amazonas, o que é uma informação desencontrada, já que o Enem naquele estado foi adiado por causa do lockdown. “Mas eu esperava que tivesse algum problema, por causa de todo este movimento do Enem”, afirma.

Em outros pontos de Porto Alegre, onde ocorria prova, como na unidade da Uniritter na Cavalhada, candidatos chegaram a esperar no corredor de um dos prédios da instituição por uma sala para realocação. Mas a espera foi sem sucesso e dezenas de candidatos, que assim como Alice, tiveram provas adiadas. No Colégio Estadual Odila Gay da Fonseca, no bairro Ipanema, também houve relatos do mesmo problema. Como o Inep não permitiu o acesso da imprensa aos locais de prova, não foi possível atestar a situação de ocupação dos espaços e da distribuição de álcool gel. Até o fechamento desta reportagem, o Inep não respondeu sobre os candidatos impedidos de fazer a prova.

O exame segue no próximo domingo (24), quando os estudantes farão as provas de ciências da natureza e de matemática. Ao todo, cerca de 5,8 milhões de estudantes estão inscritos para fazer as provas. O Enem 2020 terá uma versão impressa, nos dias 17 e 24 de janeiro, e uma digital, realizada de forma piloto para 96 mil candidatos, nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro. A previsão é que os gabaritos sejam divulgados no portal do Inep, em 27 de janeiro.

Maduros e idosos no Enem 

Fazer um curso superior é um sonho para muitos dos candidatos que enfrentaram o primeiro dia de provas do Enem. Para a Milca Marcina Pinto dos Santos, 53 anos, este domingo a colocou de frente com o desejo de entrar para o curso de Ciências da Computação. “Sempre gostei de informática. Fiz um curso técnico e desde jovem tenho este interesse. Agora com a Covid tenho que ter muito cuidado, mas vai dar certo”, conta a moradora da Lomba do Pinheiro, que aguardava para ingressar no prédio 50 da PUCRS.
 
No outro lado do jardim, que fica em frente ao local, os avós de Giovanna Galvão, 18 anos, Deborah, 60, e Hamilton Silveira, 72, acompanhavam a neta, que iria tentar uma vaga em medicina. “Ela tem todo nosso apoio. Semana passada, quando ela tentou a Fuvest (São Paulo), ela foi sozinha. Mas hoje estamos aqui”, conta, feliz, a avó. “A minha maior dificuldade foi assimilar a pandemia nos estudos. Tem uma palavra que significa o que é chegar até aqui: resiliência”, resume Giovanna.

Impactos da pandemia 

O exame, estava inicialmente agendado para outubro e novembro do ano passado, mas foi adiado após uma série de protestos virtuais. O Inep anunciou, então, uma série de medidas de segurança para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Mesmo assim, com o aumento de casos e de mortes por covid-19 em todo o Brasil, o movimento por um segundo adiamento das provas ganhou força.  

A Defensoria Pública da União (DPU) acionou a Justiça pedindo o adiamento. Mas o pedido foi negado pela Justiça Federal de São Paulo, que afirmou que a alteração na data do Enem resultaria em grandes transtornos logísticos, que poderiam “comprometer a própria realização do exame no primeiro semestre de 2021”. A decisão, no entanto, ressalva que se o risco de maior de contágio levar alguma autoridade local ou regional a declarar novo lockdown, isso seria um impedimento para a realização das provas. Caberia ao Inep reaplicar a prova nessas localidades específicas.  

Foi o que ocorreu no Amazonas, estado em calamidade pública por causa da pandemia, com falta de leitos e insumos para tratar os doentes. Diante dessa situação, a aplicação do exame foi suspensa naquele estado.



Correio do Povo


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