Ex-presidente morreu aos 80 anos em decorrência de um câncer de pulmão
Milhares de uruguaios foram às ruas de Montevidéu para se despedir do ex-presidente uruguaio Tabaré Vázquez (2005-2010 e 2015-2020), proeminente figura da esquerda latino-americana, que morreu na madrugada deste domingo (6), aos 80 anos, em decorrência de um câncer de pulmão.
Após cerca de uma hora de trajeto, o cortejo, que partiu do centro da capital, chegou ao cemitério de La Teja, bairro natal do ex-presidente, onde a família fez uma breve homenagem. O corpo de Vázquez foi enterrado sob aplausos de seu círculo mais íntimo.
"Com profunda dor, comunicamos o falecimento de nosso amado pai de causas naturais ligadas à sua doença oncológica", informaram mais cedo, em comunicado, os filhos do ex-presidente, Álvaro, Javier e Ignacio Vázquez.
No Twitter, Álvaro, oncologista de profissão, como seu pai, indicou que "enquanto descansava em casa, acompanhado de alguns familiares e amigos, por causa de sua doença, Tabaré faleceu". "Em nome da família, queremos agradecer a todos os uruguaios pelo carinho recebido por ele ao longo de tantos anos", acrescentou.
O presidente Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional (centro-direita), que recebeu a faixa presidencial das mãos de Vázquez em 1º de março, disse no Twitter que seu antecessor "enfrentou sua última batalha com coragem e serenidade".
"Tivemos momentos de diálogo pessoal e político que valorizo e lembrarei. Ele serviu a seu país e com base no esforço obteve importantes conquistas. Foi o presidente dos uruguaios", declarou Pou, decretando três dias de luto oficial.
Chuva de reconhecimentos
Vázquez foi diagnosticado em agosto de 2019 com câncer de pulmão, quando ainda era presidente, um mês após perder a mulher, María Auxiliadora Delgado, de quem foi companheiro por mais de 50 anos. "Quero ser lembrado como um presidente sério e responsável", disse no programa "El Legado", do Canal 10, exibido há uma semana.
Oncologista e ex-dirigente do clube de futebol local Progreso, foi o primeiro candidato da coalizão de esquerda Frente Amplio (FA) a se tornar prefeito de Montevidéu em 1989, e chegar à presidência - após duas tentativas frustradas - em 2005, quebrando com a hegemonia dos tradicionais Partido Colorado e do Partido Nacional.
A FA também comunicou no Twitter "com profunda dor" a morte de seu "presidente honorário, Tabaré Vázquez. Seu exemplo de integridade política e compromisso inabalável com nosso país e com o povo nos levará a continuar seu legado", enfatizou.
"Estou aqui porque ele foi o primeiro presidente de esquerda do nosso país e porque, em 2004, ele mudou a vida de todos, isso é inegável", declarou a professora de história Paula Fabra, 23, uma das dezenas de pessoas reunidas em frente ao cemitério. "Como pessoa que nasceu em um bairro pobre, ele mudou a minha vida com o acesso à tecnologia por meio do Plano Ceibal", assinalou, citando um programa emblemático do ex-presidente que entregou notebooks aos estudantes do sistema público.
Vários líderes da região destacaram nas redes sociais a honestidade de Vázquez e seu compromisso com a inclusão. No Uruguai, multiplicaram-se as despedidas e condolências de autoridades de todo o espectro político.
Milhares de pessoas a pé ou em seus veículos uniram-se ao cortejo fúnebre agitando bandeiras do Uruguai e da FA. Familiares de Vázquez indicaram que, devido aos protocolos da pandemia, optaram por não realizar um velório.
Às 13h locais, o cortejo fúnebre partiu da Esplanada da Administração Municipal de Montevidéu, no centro da capital, para o Cemitério La Teja. "Pedimos à população que nos acompanhe nesses atos em suas casas, por meio da cobertura jornalística", destacaram os parentes do ex-presidente.
A família de Vásquez também solicitou "veementemente aos que optarem por saudar pessoalmente a procissão, que o façam desde as calçadas, evitando aglomerações, mantendo distância física, usando máscaras faciais e tomando todas as medidas sanitárias estabelecidas pelas autoridades competentes".
A FA pediu aos uruguaios que, às 21h, "abram as portas e janelas de suas casas e coloquem para tocar o texto de Mario Benedetti transformado em música por Joan Manuel Serrat "Defender la Alegría" e, em seguida, aplaudam por cinco minutos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário