Bolsa terminou em alta de 0,24%, aos 119.409,15 pontos, mais perto de recorde
Após pouco mais de uma semana em que o fluxo comprador prevaleceu no mercado de câmbio, o real teve hoje um dia de recuperação diante do dólar, mostrando uma das maiores apreciações sobre a divisa norte-americana dentro de uma cesta de 34 moedas.
Operadores interpretam o desempenho desta terça-feira como uma possível acomodação da demanda por dólares gerada pelo desmonte de posições de proteção cambial dos bancos, o chamado overhedge, que, num momento de baixa liquidez, puxou a cotação da moeda americana desde antes do feriado de Natal.
Na sessão desta terça-feira, o apetite ao risco marcou a abertura dos negócios na esteira da aprovação pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos de um projeto que eleva de US$ 600 para US$ 2 mil os auxílios emergenciais a americanos de baixa renda.
Durante a tarde, porém, a expectativa de uma tramitação rápida do estímulo no Senado caiu por terra, provocando uma posição mais cautelosa dos investidores. Após oscilar entre a máxima de R$ 5,2465 (alta de 0,16%) e a mínima de R$ 5,1659 (queda de 1,38%), o dólar fechou o dia com desvalorização de 1,06%, a R$ 5,1829.
A instabilidade é também explicada pela disputa entre comprados e vendidos antes do fechamento, que acontece amanhã, da Ptax.
Na avaliação de Otávio Aidar, estrategista-chefe e gestor de moedas da Infinity Asset, a reação de hoje do real sugere que os bancos encerraram a maior parte do desmonte de overhedge causador da demanda que nos últimos quatro pregões fez o dólar subir de R$ 5,10 para R$ 5,25, chegando a passar da casa dos R$ 5,30 na máxima de ontem.
"A puxada do dólar nos últimos quatro dias foi muito forte, com o movimento do overhedge sendo magnificado por causa da baixa liquidez desta época do ano. O Banco Central, no entanto, fez operações de swap que cobrem mais ou menos 70% da demanda gerada pelo overhedge e deu um belo alívio no mercado", comenta Aidar.
Dentro de uma cesta de 34 moedas, apreciação parecida com a apresentada hoje pelo real foi registrada apenas pela rúpia da Indonésia, moeda contra a qual o dólar perdeu 1,1%.
Ibovespa
Com o rali que se impôs a partir de novembro na B3, o Ibovespa se aproxima do fim de 2020 perto de cumprir a profecia de que, apesar das incertezas que marcaram o ano da pandemia, possa fechar o calendário em terreno recorde, renovado nesta terça, 29, no intradia, aos 119.860,91 pontos. Conduzido nos últimos dois meses pelo fluxo estrangeiro, o volume histórico de ingresso externo em novembro - ainda positivo em dezembro, a R$ 17 bilhões - colocou o índice próximo a inéditos 120 mil pontos, referência que passou a ser de parte do mercado para o fechamento do ano. Em dezembro, avança 9,66%, com ganho de 3,25% em 2020.
Hoje, em dia cauteloso em Nova Iorque frente a dúvidas quanto à aprovação pelo Senado do aumento do valor de auxílios nos EUA, o Ibovespa chegou a acompanhar a guinada de Wall Street a terreno negativo à tarde, mas conseguiu emendar o quarto ganho ao fechar em leve alta de 0,24%, aos 119.409,15, agora mais perto da máxima histórica de fechamento, de 23 de janeiro, então aos 119.527,63 pontos. Nesta terça-feira, tocou mínima na sessão a 118.750,10, com abertura a 119.130,06 pontos. Fraco, o giro financeiro totalizou R$ 22,7 bilhões, abaixo do volume das duas sessões anteriores, antes e depois do feriado de Natal. Foi a primeira vez que o índice da B3 conseguiu sustentar os 119 mil pontos em fechamentos consecutivos - e apenas a terceira ocasião em que atinge este nível no encerramento.
"A impressão é de que o Ibovespa pode ir aos 120 mil pontos e aí o ano acaba, só está faltando isso", diz Rodrigo Barreto, analista da Necton, que considera que o salto do Ibovespa neste fim de ano em direção a terreno não mapeado deve ser sucedido por uma correção. Foi mais ou menos o que aconteceu no início de janeiro quando, vindo de rali em dezembro que o havia colocado a 115.645,34 pontos na última sessão de 2019 - tendo encerrado novembro na casa de 108 mil -, buscou a então inédita marca de 118.573,10 pontos ainda na primeira sessão de 2020, para iniciar moderada correção nos seis pregões seguintes, que devolveria o Ibovespa aos 115,5 mil no fechamento de 10 de janeiro - em período anterior à pandemia.
Vale lembrar que 2020 começou de forma bem diversa da que chega agora ao fim: no início do ano, o otimismo decorria da expectativa para a assinatura da fase 1 do acordo entre EUA e China, algo que viria a sair de cena nas semanas e meses seguintes, com a disseminação do novo coronavírus pelo mundo após sua identificação inicial em Wuhan. Vacinas desenvolvidas em tempo recorde, e o início de sua aplicação nas maiores economias em dezembro, deram algum alento para a chegada do ano novo. Contudo, fatores externos como a nova cepa - possivelmente mais contagiosa - identificada no Reino Unido e domésticos, como a situação fiscal e a incerteza sobre a imunização no Brasil, recomendam cautela para a virada a 2021.
"A indefinição e o atraso no início da vacinação tendem a resultar em custo fiscal maior. Assim, mais do que propriamente ao fiscal em si, os riscos no Brasil estão muito associados à questão de imunizar: quando, como e quais serão os objetivos neste tema, ainda em aberto por aqui. Continuamos retardatários nisso", aponta Shin Lai, estrategista-chefe da Upside Investor Research, que considera que a pandemia deve se agravar em janeiro e fevereiro, com aumento de mortes no inverno do hemisfério norte, antes de dar lugar a uma recuperação econômica liderada pela China, mas que também se observará nos Estados Unidos e na Europa.
"No curto prazo, ainda haverá pressão, volatilidade - o caminho não será suave, existe espaço para correção no início do ano. No Brasil, o primeiro trimestre parece perdido, talvez até mesmo o segundo, caso não sejam tomadas as iniciativas devidas. Há indefinição inclusive sobre como ficará o auxílio ao consumo dos mais pobres. Ainda assim, o segundo semestre deve ser de recuperação. A expansão das receitas e o crescimento dos resultados operacionais das empresas abrem espaço para reprecificação na Bolsa, que sempre antecipa o movimento", acrescenta o estrategista, que vê avanço de cerca de 20% para o Ibovespa em 2021, o que colocaria o índice da B3 na faixa de 144 a 150 mil no fechamento do próximo ano.
Nesta penúltima sessão de 2020, as ações de maior peso - commodities e bancos - tiveram desempenho misto no encerramento, com Petrobras PN em alta de 0,32% e Vale ON, leve baixa de 0,27%, Bradesco PN, de 0,40%, e Itaú PN, de 0,22%. Na ponta do Ibovespa, destaque para CSN, em alta de 4,86%, seguida por Usiminas (+4,29%) e Intermédica (+2,53%). No lado oposto, Multiplan cedeu 2,15%, Sabesp, 2,12%, e Iguatemi, 1,92%.
Juros
O alívio no câmbio, o IGP-M abaixo do piso das projeções e o déficit do governo central mais baixo do que o estimado provocaram a desinclinação da curva de juros nesta penúltima sessão de 2020. O movimento ganhou tração na etapa da tarde, em consonância com o noticiário referente às contas públicas, ainda que a liquidez baixa tenda a distorcer as operações.
O contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2022, o mais líquido da sessão, recuou de 2,924% ontem para 2,88% hoje (regular e estendida). O janeiro 2023 caiu de 4,32% para 4,23% (regular e estendida). E o janeiro 2027 passou de 6,583% para 6,41% (regular) e 6,430% (estendida).
O spread entre as taxas do janeiro 2022 e do janeiro 2027, que ilustra o comportamento da inclinação da curva, passou de 366 pontos-base ontem para 353 pontos hoje.
A devolução dos prêmios da véspera foi induzida pelo dólar, que, no mercado à vista, cedeu a R$ 5,1829 (-1,06%). A baixa da moeda americana ocorreu na esteira da busca pelo risco no mercado internacional, depois de a Câmara dos Estados Unidos aumentar de US$ 600 para US$ 2 mil o auxílio individual a americanos que receberam menos de U$ 75 mil em 2020, numa tentativa de impulsionar novamente a economia. O tema ainda segue pendente de votação no Senado.
Mas o noticiário econômico doméstico também deu sua contribuição ao alívio das taxas. Logo cedo, a Fundação Getulio Vargas (FGV) reportou desaceleração forte do IGP-M na margem em dezembro, de 0,96%, abaixo até do piso de 0,98% de pesquisa do Projeções Broadcast.
Outro indicador que foi acompanhado pelo mercado de juros hoje foi o déficit do Governo Central. A mediana das estimativas apontava para um rombo de R$ 21,90 bilhões em novembro, mas o resultado foi um saldo negativo de R$ 18,241 bilhões.
Um operador de renda fixa resumiu assim o movimento do dia no mercado de juros: "o noticiário ajustou a curva, depois da distorção de ontem. Se tivesse mais liquidez, era dia para jogo grande".
Em termos de liquidez, embora mais alta do que ontem, houve menos negociações hoje do que a média da semana passada nos contratos mais longos: 188,6 mil no janeiro 2023 (ante 250 mil) e 39,8 mil no janeiro 2027 (ante 40 mil). O janeiro 2022, contudo, teve 443,8 mil contratos negociados, ante média de 381 mil no período de 21 a 23 de dezembro.
Agência Estado e Correio do Povo
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