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quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Dólar cai a R$ 5,22, menor nível desde julho com fiscal e fluxo externo

 Ibovespa oscilou entre a máxima e a mínima, fechando em 111.399,91 pontos, com alta de 2,30%



O dólar começou dezembro com forte queda ante o real. A entrada de fluxo externo, em novo dia de busca por ativos de risco no mercado financeiro internacional, o aumento da intervenção pelo Banco Central e notícias positivas internas sobre o fiscal ajudaram o real a ter o melhor desempenho nesta terça-feira, ante a divisa americana, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas. Assim, o dólar fechou em baixa de 2,21% no mercado à vista, a R$ 5,2278, no menor nível desde 31 de julho (R$ 5,21). No mercado futuro, o dólar para janeiro fechou em queda de 2,35%, a R$ 5,2085.

A terça-feira foi marcada por uma conjunção de notícias favoráveis. No exterior, cresceu a expectativa de vacinação mais rápida da população, ainda em dezembro, e também de algum pacote fiscal nos Estados Unidos, após nova aproximação hoje da Casa Branca com a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara. Assim, o dólar caiu no menor nível em quase 30 meses, considerando o DXY, índice que mede a divisa americana ante moedas fortes. "O dólar retomou a trajetória de enfraquecimento", comentam os estrategistas de moedas do banco americano Brown Brothers Harriman (BBH).

Internamente, o noticiário fiscal agradou. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, confirmou na tarde de hoje que o Congresso votará a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) no próximo dia 16. Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro disse que prorrogar o auxílio "é caminho para o insucesso". Ainda nas reformas, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA) disse que é possível votar a reforma tributária na comissão que preside até o próximo dia 10.

"A situação fiscal do Brasil é precária", afirmam os estrategistas do Bank of America. Contudo, a avaliação deles é que há espaço para reduzir o risco fiscal no País e o banco americano espera que no primeiro trimestre de 2021 o cenário esteja menos incerto. Por isso, passou a ficar "cautelosamente otimista" com o real e reduziu a previsão das cotações do dólar no País de níveis ao redor de R$ 5,38 esperados até o terceiro trimestre do ano que vem para R$ 5,10.

"Os ativos locais seguirão à mercê do cenário e dos fluxos internacionais, mas com um olho nos avanços (ou não) da agenda política interna", avalia o diretor de investimentos e sócio da Tag Investimentos, Dan Kawa. O fluxo não dá sinais de perda de fôlego. Operadores reportaram novas entradas hoje na B3 e, em novembro, os aportes somavam quase R$ 33 bilhões, um recorde mensal.

Para os emergentes, dados preliminares do Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, mostram ingressos de US$ 76,5 bilhões em novembro de investidores não residentes para aplicações nas bolsas e renda fixa. É o maior valor mensal da história que a região recebe e também bem acima do de outubro, que somou US$ 23,5 bilhões.

Ibovespa

O dia de notícias amplamente positivas em relação à retomada da economia tanto global quanto local impulsionou a busca pelos ativos de risco levando o Ibovespa a se firmar na casa dos 111 mil pontos, em uma sessão na qual o índice oscilou três mil pontos entre a máxima e a mínima intraday, para fechar aos 111.399,91 pontos, em alta de 2,30%. O giro financeiro foi de R$ 38,5 bilhões.

Os bons ventos dos pares em Nova York também sopraram a favor em um ambiente no qual a efetividade das vacinas contra o coronavírus se torna cada vez mais próxima. Dados indicando forte retomada econômica chinesa também levaram disposição às compras por parte dos investidores, que engrossaram o fluxo de recursos em direção ao mercado brasileiro. Na sessão, o dólar acentuou o ritmo de queda, encerrando o dia no segmento à vista em baixa de 2,21%, a R$ 5,2278.

"O avanço de papéis mais tradicionais e do gosto de estrangeiros, mostra que os fluxo de não-residentes aporta novamente no mercado acionário brasileiro", afirmou um operador, ressaltando a performance de ações de primeira linha, como bancos, Petrobras e Vale.

Especialmente os papéis de bancos ganharam destaque na sessão, uma vez que estão muito descontados. As ações preferenciais de Bradesco, Itaú Unibanco, as units do Santander e as ordinárias de Bando do Brasil ganharam 5,60%, 4,20%, 7,15% e 2,75%, respectivamente. O profissional chama a atenção para o fato de que, no acumulado de 2020, as perdas são de 21,19%, 16,85%, 9,80% e 32,06%, pela ordem. No ramo de commodities, Petrobras ON fechou em alta de 2,94% e Vale ON, 4,17%.

No meio da tarde, a notícia dada pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, de que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) será pautada no Congresso Nacional no dia 16 de dezembro deu ânimo pontual em um ambiente já favorável. A notícia foi confirmada pelo presidente do Senado, David Alcolumbre (DEM-AP). No entanto, segundo apurou o Broadcast Político, o movimento sinaliza que a Comissão Mista de Orçamento (CMO) não será instalada neste ano. A presidência do colegiado é disputada entre os grupos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Centrão, liderado por Arthur Lira (PP-AL).

Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, ressalta que o que realmente fez preço, foi a fala do presidente Jair Bolsonaro ao sinalizar que o governo não pretende estender o auxílio emergencial. "Isso acaba aliviando o estresse do mercado quanto ao rumo do fiscal", diz. "Prova maior deste alívio foi vista na curva de juros que derreteu hoje e devolveu parte do prêmio que está implícito em vista do risco do fiscal, ao passo que uma queda da curva implica em maior 'upside' para os modelos de precificação de ações e elevando o apetite ao risco".

Segundo Ribeiro, também Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmando que a reforma tributária tem cerca de 320 votos e pode ser aprovada até o final do ano mesmo sem o apoio do governo ajudou.

Já na avaliação de Luís Sales, analista de mercado Guide Investimentos, por enquanto, o mercado deixou de lado os problemas fiscais do País, uma vez que não está contando com a dinâmica no Congresso. "Por enquanto as questões políticas estão um pouco quietas. Mas em janeiro é possível que voltem a preocupar nossas questões internas, com a cena política e as questões fiscais", afirmou.

No entanto, tanto Ribeiro quanto Sales concordam que, para o mercado seguir com o viés de alta, o governo deverá seguir apoiando a pauta fiscal. "Mas, principalmente, transformar palavras em ações", diz o analista de Clear.

Do ponto de vista externo, as sinalizações sobre o posicionamento mais dovish (favorável para políticas monetárias expansionistas) do gabinete do presidente-eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, como da futura secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, reforçando a urgência em aprovar um pacote de estímulos para não retroalimentar os efeitos negativos da crise na economia, são combustível para as compras.

Juros

Os juros tombaram nesta terça-feira, embalados pelo forte aumento do apetite pelo risco que impulsionou ativos de economias emergentes de forma generalizada e também por fatores internos. O mercado gostou de ouvir o presidente Jair Bolsonaro dizer que "perpetuar benefícios é o caminho certo para o insucesso" e, ao mesmo tempo, mostrou mais confiança no andamento da agenda de reformas. A decisão da Aneel, ontem à noite, de aplicar a bandeira vermelha 2 nas tarifas de energia já em dezembro provocou uma enxurrada de revisões em alta no IPCA para este ano, mas não impediu que a curva fechasse, até porque o mercado se protegeu tanto no mercado primário quanto no secundário de NTN-B. Não por acaso, o Tesouro conseguiu vender 8 milhões de NTN-B para 2023, num leilão histórico deste tipo de papel para um único vencimento.

A sessão foi de forte volume, especialmente na ponta curta. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 girou em torno de 750 mil contratos, ante média diária de 417 mil nos últimos 30 dias, fechando com taxa de 3,115%, de 3,315% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 4,76%, de 5,006% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 6,775% para 6,56%. A taxa do DI para janeiro de 2027 fechou em 7,36%, de 7,554%.

O dia já começou com dados positivos da China e alguns PMIs melhores do que o previsto no exterior, e o otimismo ganhou impulso após o presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden, exortar o Congresso a aprovar uma nova rodada de estímulos ficais. "Com esse clima externo mais favorável, dada a perspectiva de mais estímulos fiscais e avanço nas vacinas, o mercado acaba passando por cima de uma série de questões", disse o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, quando perguntado sobre o bom desempenho das taxas mesmo com o anúncio da Aneel.

A decisão da Agência disparou revisões em alta para a inflação por várias casas, que já superam o centro da meta de 4% para este ano. "A interpretação é de que quiseram preservar a inflação no ano que vem dada a leitura de que o BC não vai subir o juro tão cedo. Foi um pecadilho, não um pecado mortal", afirmou Caramaschi.

De todo modo, o mercado buscou proteção nos papéis atrelados à inflação, principalmente NTN-B curtas como a de 15/5/2023 ofertada no leilão de hoje. O Tesouro colocou 8 milhões de títulos, o maior da história para um único vencimento de NTN-B, com giro de R$ 30,4 bilhões.

A ponta longa teve alívio não só com a melhora de humor externo, mas também na percepção de risco fiscal e político. O presidente da Comissão Mista da Reforma Tributária, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), disse que o colegiado pode votar a reforma até o dia 10, enquanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que o Congresso votará a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) no próximo dia 16. Pela manhã, o alívio da curva teve grande contribuição de declaração de Bolsonaro, na linha de defesa da austeridade fiscal. Sem citar diretamente o pagamento do auxílio emergencial, ele ressaltou que "alguns querem" perpetuar benefícios. "Ninguém vive dessa forma, é o caminho certo para insucesso", declarou.

Agência Estado e Correio do Povo

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