segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Conta de luz mais cara agora afasta risco de estouro da meta da inflação em 2021

 por Eduardo Cucolo

Antecipação da volta do sistema de bandeiras tarifárias levou a revisão dos números para baixo

O BC (Banco Central) ganhou um aliado no combate à inflação em 2021, o sistema de bandeiras tarifárias na conta de luz. A adoção da bandeira vermelha eleva o preço da energia a partir deste mês de dezembro, mas afastar o risco de descumprimento da meta de inflação no próximo ano —que estava no radar de alguns especialistas.

Na primeira versão de seu trabalho sobre o repasse de preços do atacado para o varejo, o economista Andre Braz, do Ibre FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), previa que a inflação de 2021 ficaria, no mínimo, na meta de 3,75%, com chances de estourar o limite de tolerância de 1,5 ponto percentual, estabelecido pelo BC,e chegar a 5,5%.

A notícia da antecipação da volta do sistema de bandeiras tarifárias, com a adoção da bandeira vermelha na conta de energia, o patamar mais oneroso para o consumidor, anunciada na segunda-feira da semana passada (30), levou a uma revisão dos números para baixo: 3,55% e 4,50%, respectivamente.

 

Como a meta de inflação considera o IPCA no final do ano, o que interessa para a autoridade monetária é a diferença entre a bandeira de dezembro de cada ano.

Mesmo se ela ficar em seu nível mais alto (o atual vermelho 2) pelos próximos 12 meses, onerando o consumidor de dezembro deste ano a novembro de 2021, uma mudança em dezembro do próximo ano para vermelho 1, amarelo ou verde será contabilizada no IPCA como alívio no preço da energia.

A decisão da agência reguladora do setor, a Aneel, de adotar a bandeira vermelha em dezembro eleva um pouco a inflação desta ano, no entanto, no final de 2021, pode representar um alívio de até 0,50 ponto percentual, no ano em que a meta é de 3,75%.

O aumento neste ano, por exemplo, deve representar um reajuste médio de 10% na conta de luz (uma tarifa adicional de R$ 6,24 a cada 100 kWh de consumo).

As projeções do mercado, segundo a pesquisa Focus do BC, que reúne análises de economistas de diferentes instituições, são de um IPCA de 3,54% neste ano e 3,47% no próximo.

 

Os números, no entanto, começaram a ser revistos após a decisão da Aneel e devem contar dos próximos boletins. Nenhum dos economistas consultados previa estouro da meta.

Para os preços no atacado, as projeções são de alta de 32% neste ano e 4,3% no próximo.

A volta da cobrança extra na conta de energia pegou de surpresa até os especialistas do setor. A decisão representou um recuo com relação a diretriz tomada pela agência em maio, que previa a manutenção da bandeira verde, sem custo adicional, até o fim do ano, para evitar sobrecarregar os consumidores na pandemia.

A agência disse que a revisão foi necessária diante da queda do nível de armazenamento nos reservatórios das hidrelétricas e da retomada do consumo de energia com o fim das medidas de isolamento.

Em novembro, o volume de energia armazenada nos reservatórios das regiões Sudeste e Centro Oeste atingiu a média de 18,1%, a menor para o mês desde 2014. No Sul, onde os reservatórios fecharam novembro com 18,6% de sua capacidade de geração de energia, o menor valor para o mês pelo menos dos últimos 20 anos.

Fonte: Folha Online - 06/12/2020 e SOS Consumidor

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