Ao reconhecer derrota, ela desejou sorte a Melo e prometeu atuar para que cidade possa "sonhar em ser mais justa"
Faltavam 15 minutos para às 19h e mais de 90% das urnas de Porto Alegre já estavam totalizadas quando Manuela D’Ávila (PCdoB) ingressou no salão do hotel Embaixador reservado para sua manifestação final sobre a eleição municipal de 2020 em Porto Alegre. Na semana de expectativas que antecedeu o pronunciamento, e ante as incertezas de um pleito acirrado e polarizado, em várias ocasiões sua militância sonhou que aquele momento no Embaixador seria de alegria, com Manuela respondendo sobre o futuro de Porto Alegre nestes tempos incertos. Pela segunda vez em menos de 15 dias, contudo, os números projetados em pesquisas sobre as intenções de voto não se confirmaram nas urnas para Manuela. Assim, no Embaixador, ela fez uma manifestação de poucos minutos, e durante a qual ficaram evidentes sua disciplina e autocontrole. Porque só quem não conhece a trajetória da ex-deputada poderia se enganar com a firmeza da voz ou a ausência de lágrimas. Manuela estava emocionada.
Ela começou desejando sorte ao adversário Sebastião Melo (MDB), eleito. Seguiu destacando a campanha marcada por lances polêmicos e muitas agressões. Incentivou seus eleitores a não perderem a esperança. E prometeu seguir atuando pela cidade. Após classificar a eleição como “a mais baixa de nossa história”, se adiantou aos questionamentos sobre o que fará agora. “Vamos voltar para onde sempre estivemos. Para as nossas comunidades, com os nossos mandatos. Para os nossos bairros e vilas, fazendo com que Porto Alegre possa sonhar em ser uma cidade mais justa.” Ao agradecer à militância, fez uma deferência a seu vice, Miguel Rossetto (PT), e deixou a emoção contida transparecer na voz. “Vocês foram incansáveis. As vezes encaminhavam mensagens, perguntando de onde eu tirava forças. Ora, como vocês não sabem de onde eu tirei forças! Nós enfrentamos a violência, o ódio e a mentira com a força que vocês nos deram. Sentindo orgulho de novo de carregar nossos sonhos. Fizeram com que nos levantássemos todos os dias para festejar a democracia.” Ao final, Manuela agradeceu à família, que a rodeava.
Terminava ali uma jornada para a qual Manuela se preparou desde 2018, e de forma diferente das duas ocasiões anteriores em que disputou a prefeitura. Desde o início do primeiro turno, sua superioridade nas redes sociais foi admitida pelos adversários na corrida. A qualidade e o preparo se repetiram em encontros em entidades e pelas periferias, na propaganda no rádio e na TV. E nos debates. Por isso, o resultado do primeiro turno já havia sido um baque. Porque, apesar de as sondagens indicarem o contrário, Manuela ficou em segundo lugar, e abaixo dos 30%. Uma linha de corte importante para garantir que uma candidatura à esquerda na Capital “fure a bolha” do eleitorado que já lhe é simpático.
Em busca dos votos necessários para uma virada que podia ser obtida com parte da abstenção altíssima, e para fazer frente a um adversário que aumentava sua coalizão de forças à direita, a estratégia de Manuela mudou. No segundo turno, ela investiu com força na campanha de rua e em atividades nas periferias. Abandonou os trajes conservadores e se mostrou ainda mais propositiva. Insistiu na importância da questão sanitária, na redução da desigualdade, na educação e em alternativas para a economia. Na propaganda na TV, mostrou peças ainda mais refinadas. E, sempre, destacou bandeiras associadas ao eleitorado feminino. Mas não conseguiu diminuir a abstenção. E seguiu enfrentando uma rejeição alta, ideológica, turbinada pela disseminação de conteúdos falsos. Como o que anunciava que, caso vencesse, a cidade se transformaria em uma nova Venezuela, onde seria preciso comer até “carne de cachorro”.
Correio do Povo
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