Índice da B3 fechou na mínima do dia, em queda de 4,25%, aos 95.368,76 pontos
O dólar operou em alta nos negócios da tarde desta quarta-feira, mas em ritmo mais comportado que de manhã, quando encostou em R$ 5,80, levando o Banco Central a injetar US$ 1 bilhão no mercado à vista. Foi a maior intervenção individual do BC desde 12 de março, quando o mercado mostrava forte nervosismo com a pandemia que se iniciava por aqui e ele ofereceu US$ 2,5 bilhões. Nesta quarta, a preocupação maior é com o crescimento acelerado de casos de Covid-19 na Europa e nos Estados Unidos, que está levando a adoção de mais medidas de restrição, sobretudo na Alemanha e França, e pode prejudicar a atividade econômica pela frente.
A quarta-feira foi marcada por forte movimento de fuga de ativos de risco no mercado internacional, com bolsas em forte queda e busca de refúgio no dólar e no iene, mas o real acabou nem sendo a pior moeda, como vem rotineiramente acontecendo.
Nesta quarta, as divisas da Rússia, Turquia e México assumiram as primeiras posições de maiores perdas. Operadores destacam que houve forte venda de dólares de exportadores mais cedo, ajudando a retirar alguma pressão nas cotações, além da ação do BC.
O dólar à vista terminou o dia em alta de 1,39%, cotado em R$ 5,7619, o maior valor desde 15 de março, quando foi a R$ 5,83. No mercado futuro, o dólar com liquidação em novembro, que vence na sexta-feira, subia 0,95%, aos R$ 5,7610.
Para o chefe de gestão e especialista em câmbio e moedas da Galapagos Capital, Sérgio Zanini, o que fez diferença nesta quarta foi a intervenção de US$ 1 bilhão do BC vendendo dólares no mercado à vista, o que ajudou a dar um parâmetro para o mercado. O real, diz ele, virou uma moeda fácil para o mercado atacar, por isso a necessidade de contrapartida do BC atuando. A expectativa era que esta semana já houvesse uma redução da exposição a ativos de risco no mercado internacional por conta da proximidade das eleições americanas, na próxima terça-feira. Mas a aceleração de casos de covid na Europa acabou antecipando este movimento, provocando o sell-off de nesta quarta, ressalta o estrategista.
Como o real já vinha tendo desempenho bem pior que os pares, acabou perdendo menos valor nesta quarta que outras divisas, como a lira turca e o rublo. No ano, porém, ainda segue a pior, com o dólar subindo mais de 43%.
A pressão para desvalorização do real vai permanecer nos próximos meses, em meio ao aumento do risco fiscal do Brasil, a falta de reformas estruturais e o juro real negativo, avalia o banco Société Générale. A previsão é que o dólar deve fechar 2020 em R$ 5,80 e ir para perto de R$ 6,00 em 2021, terminando o ano que vem em R$ 5,95. Nesse ambiente, o real corre o risco de repetir em 2021 o fraco desempenho deste ano, sendo novamente a moeda de país emergentes com pior performance ante o dólar.
O estrategista do Société para mercados emergentes, Dav Ashish, prevê que neste ambiente de falta de avanço das reformas, deterioração fiscal e ainda um desempenho fraco do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e do mundo, a expectativa é de fluxos de capital externo "tímidos" em 2021, o que deve ajudar a manter o câmbio pressionado.
Bolsa
Na antepenúltima sessão do mês, o receio sobre os efeitos econômicos da segunda onda de Covid-19 na Europa bateu forte à porta da B3, levando o Ibovespa a limitar o avanço em outubro a apenas 0,81%, após ter chegado a se aproximar de 8% na semana passada, perto então dos ganhos mensais observados entre maio e julho, quando se firmava recuperação iniciada em abril. Nesta quarta-feira, o índice da B3 fechou na mínima do dia, em queda de 4,25%, aos 95.368,76 pontos, no menor nível desde 2 de outubro (94.015,68), elevando as perdas na semana a 5,82% e as do ano a 17,53%. Reforçado, o giro financeiro chegou nesta quarta-feira a R$ 29,6 bilhões.
A perda de quase 6% na semana é até aqui a pior desde o tombo de 18,88%, o maior da crise pandêmica, observado no intervalo entre 16 e 20 de março, no início da quarentena. Desde o fechamento de 30 de abril (-3,20%), o Ibovespa não encerrava o dia em queda superior a 3%, e, na reta final de hoje, acentuou as perdas além de 4%: foi a maior baixa em porcentual desde 24 de abril (-5,45%). No encerramento, as perdas em Nova Iorque chegaram a 3,73% (Nasdaq) e, na Europa, a 4,17% (DAX, de Frankfurt).
Na B3, destaque nesta quarta-feira para perdas de 6% em Petrobras (PN -6,09% e ON -6,14%), e de 3,63% para Vale ON, enquanto, nos bancos, chegaram a 6,02% (Bradesco ON) e nas siderúrgicas, a 7,74% (Usiminas). Na ponta do Ibovespa, Cielo cedeu 11,66%, à frente de CVC (-9,88%) e Azul (-9,58%). Nenhuma ação do Ibovespa conseguiu fechar o dia em alta.
"Nos primeiros minutos de hoje, o Ibovespa perdia o suporte de 98,3 mil, já abaixo da referência anterior, de 99,5 mil, do fechamento de ontem. Agora, o suporte está aos 95,4 mil e, se perdê-lo, a linha seguinte está aos 93,5 mil pontos", observa Rodrigo Barreto, analista gráfico na Necton. "Nestas últimas quatro sessões, negativas, o Ibovespa saiu de um ganho que se aproximava de 8% para menos de 1% no mês", acrescenta o analista, referindo-se à volatilidade em Nova Iorque, com o VIX a 40 pontos, como um fator a que nenhuma bolsa consegue ficar imune. "Outubro parecia que ia terminar melhor, mas veio água no chope."
Além da segunda onda de pandemia na Europa enquanto os EUA ainda não conseguem diminuir o número de casos, a eleição americana permanece como fator de incerteza a ser ponderado pelos investidores nos próximos dias e semanas.
Após a frustração com a falta de entendimento entre republicanos e democratas sobre novo pacote de estímulos fiscais, a dosagem das medidas, quando e se vierem a se materializar, é outro fator de dúvida: não pode ser tímida a ponto de não produzir efeito, nem exuberante a ponto de levantar questões quanto ao endividamento americano.
"A expectativa é de que a volatilidade continue e, caso a pior combinação se concretize, o Ibovespa pode tomar o caminho dos 80 mil pontos", diz Renato Chain, economista da Parallaxis Economia. "Além da segunda onda na Europa, a pandemia segue em curso nos EUA, com piora no Centro-Sul do país - o que no momento não tem chegado à atenção do mercado, concentrado na eleição americana", acrescenta.
"A turbulência pode piorar caso se confirme a derrota de Trump para Biden e o resultado, conforme se espera, seja questionado pelo presidente, atrasando definição. Se Biden ganhar, a situação também não fica boa para o Brasil, tendendo a estar ainda mais isolado, politicamente, num momento em que nossos fundamentos já afastam o investidor estrangeiro", conclui o economista.
Juros
Os juros operaram em dois turnos nesta quarta-feira de liquidação global em ativos de risco e, por aqui, decisão de política monetária. Na primeira etapa, estiveram em alta firme, alinhados à tensão no câmbio e nas ações, mas o avanço foi perdendo força ao longo do dia e no meio da tarde as taxas já reduziam bastante o avanço, com viés de baixa nos longos.
A pressão foi suavizada na medida em que foi ficando claro para os agentes que a segunda onda de covid-19 que se espalha na Europa e nos Estados Unidos, gatilho para o estresse generalizado, é deflacionária e deve forçar a manutenção dos estímulos de liquidez por um longo período.
Essa percepção acabou por alterar a expectativa para o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) no período da noite, que nos últimos dias era de um tom mais conservador. Agora, diante do aumento no risco de prolongamento na recessão mundial, a percepção é de que o colegiado pouco deve alterar o texto. Sobre a Selic em si, a curva mantém precificação indicando quase 100% de chance de estabilidade em 2%.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 3,51%, de 3,445% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2023 fechou acima de 5% pela primeira vez desde o fim de abril, aos 5,03%, de 4,936% na terça. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 6,70%, de 6,675% na terça, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 7,494% para 7,47%.
Nos últimos dias, o ritmo descontrolado da disseminação de Covid-19 nas economias centrais já assustava e nesta quarta se acentuou com alertas das autoridades europeias. Pela manhã, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o número de casos na Europa deve continuar crescendo nas "próximas duas a três semanas", enquanto países como França e Alemanha estão apertando regras de restrição de circulação. "O vírus circula pela França com velocidade não prevista mesmo pelos pessimistas", afirmou o presidente Emmanuel Macron, que anunciou que o país adotará um segundo lockdown a partir de sexta-feira.
Já os Estados Unidos registraram meio milhão de casos da doença em apenas uma semana e ainda não há perspectiva para o fechamento de acordo para o pacote fiscal, a poucos dias da eleição presidencial.
Num primeiro momento, a ponta longa chegou a subir em até 15 pontos-base, mas à tarde, numa análise menos emocional, o desenho da curva foi mudando, com taxas até o miolo com alta moderada e viés de queda nos longos. "O mercado acordou não entendendo muito para onde ir, mas ao longo do dia botou a cabeça para funcionar. Se o motivo do estresse é a segunda onda de covid, o efeito será deflacionário", disse Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset.
Na avaliação dos profissionais, o clima mais sombrio nos mercados internacionais, com possibilidade de recessão mundial por mais tempo, desestimulou nesta quarta apostas em mudanças no comunicado do Copom. "O cenário de risco ampliado dá conforto para o BC não mexer tanto no que já vinha falando, não alterar o forward guidance", afirmou Braga.
Para outro gestor, falando em condição de anonimato, os eventos no exterior complicam a situação do Banco Central. "Se não fosse isso, o texto seria com certeza menos dovish. Acredito que isso ainda possa acontecer, retirando por exemplo a menção à possibilidade de novo corte da Selic", disse.
Agência Estado e Correio do Povo
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