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terça-feira, 28 de julho de 2020

VERDADE NUA E CRUA


Não existe qualquer sinalização de que a recuperação econômica brasileira seja rápida

Por MÁRCIO COIMBRA  - publicado no Jornal O Tempo

27/07/20 -

A pandemia atingiu praticamente todas as economias do mundo. A brasileira, que experimentava uma lenta e gradual recuperação, enfrenta um abalo que ainda será sentido por muitos anos, talvez por uma geração. Nosso país, que tem por hábito vender ilusão para sua população, mais uma vez segue o mesmo roteiro. A recuperação entretanto, se houver, será difícil e demorada.

O Brasil nasceu com o Plano Real. Antes vivia um sistema econômico caótico. A hiperinflação era apenas a ponta de um problema estrutural que começou a ser resolvido em 1994. O modelo adotado naquele momento foi responsável por fazer com que a economia brasileira desse seus primeiros passos em um sistema global, vendendo confiança e segurança.

Com a chegada de Lula ao poder, a dúvida era sobre a manutenção da estrutura desenhada pelo governo Fernando Henrique, baseado em metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal. Sabedor que para seguir adiante com seu projeto de poder era necessário manter o caminho econômico, o petismo manteve as bases da estabilização tucana e ainda no governo Lula conseguiu que o Brasil atingisse o almejado grau de investimento.

Se no segundo governo petista havia espaço para um leve populismo fiscal, foi nos anos Dilma que a economia começou a sucumbir. O plano da nova matriz econômica tinha claro viés populista e consistia em política fiscal expansionista, juros baixos, crédito barato fornecido por bancos estatais, câmbio desvalorizado e aumento das tarifas de importação para "estimular" a indústria nacional.  Ao inverter a lógica do tripé econômico do Plano Real, em pouco tempo o país começou a sentir o desequilíbrio.

Este mergulho de Dilma fez com que o país entrasse em recessão econômica com retrações brutais do PIB em 2015 e 2016 e leve recuperação em 2017 e 2018 com a gestão Temer, replicando o resultado modesto em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro. Com a necessidade de crescimento médio de 3% ao ano, o Brasil precisaria crescer 13% somente em 2020 para simplesmente retornar ao padrão de 2014 – que já estava longe do ideal. Resultado: estamos ficando um país mais pobre.

Com a pandemia, as notícias não são boas. Em abril estimava-se retração de 5,3% em 2020 – número que deve ser superado com folga, ou seja, nosso caminho de volta a 2014 (ano anterior ao debacle econômico petista) ainda será longo e penoso.

Não existe qualquer sinalização de que a recuperação econômica brasileira seja rápida. Não possuímos arcabouço institucional confiável, plano de reformas definido, base parlamentar governista sólida ou equilíbrio fiscal, que se perdeu com Dilma e nunca mais se encontrou. Com a pandemia deve alcançar patamares medievais, algo que deve demorar mais de uma década de trabalho no rumo certo para ser revertido.

Os caminhos de nossa economia são realmente preocupantes e sinalizam uma série de erros e populismos que jamais podem ser revisitados. Assim como vivemos a década perdida logo após os desatinos do General Geisel, vivemos outra após os desacertos de Dilma, porém, potencializados por uma pandemia. É melhor não nos iludirmos.

Pontocritico.com

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