quinta-feira, 2 de julho de 2020

PODER, DESVARIO, LAGOSTA E VINHOS CAROS

A política brasileira - perdoem-me aristotélicos, tomistas e afins – jamais foi virtude, ciência e arte do bem comum. Ao contrário: caminho fácil, seguro, para alguém se dar bem a viver sem trabalhar, sem qualquer compromisso com a ética, os bons costumes, a altivez moral. No Brasil, política e crime são xifópagos.



Há exceções? Sempre as há. Mas, para que servem exceções no Brasil? Os profissionais da política têm na lábia o sortilégio, a magia malfeitora e o encanto canalha no eleitorado com nenhuma consciência crítica, educação desqualificada, miseráveis necessidades materiais. Têm, também, no Judiciário, condescendência e abrigo para a prescrição de seus crimes. 



Em 2018, 57,8 milhões de brasileiros votaram para desmontar a gangue que assaltou o dinheiro do povo, bandidos acoitados na megaquadrilha do PT, MDB, PP, PC do B e acólitos, além de infiltrados no Executivo e no Judiciário, tribunais aparelhados. O candidato contra o sistema não sugeria estadista polido com peroba acadêmica. Mas prometia não roubar nem deixar que roubassem o Erário. Furto, na caserna verde-oliva, escola do ex-capitão, é crime intolerável, sabem todos os que passaram pelo EB. O PT elegeu Jair Bolsonaro presidente da República.



Desmontar um estado corrupto não é tarefa para único homem. Então, surgiu no céu da Pátria nesse instante o fator Flávio Bolsonaro. O pai disse, mas não cumpriu: o filho pagaria pelo que fez, como assim tem de ser. Rodrigo Maia, David Alcolumbre e Dias Toffoli  saíram das tocas para roer o pai transtornado com o “rachid” ou “rachadinha”, prática introduzida na República pelo PT com disfarce estatutário. No ano seguinte, o coronavírus. Era tudo que faltava para a rataria da Praça dos Três Poderes. O Supremo Tribunal Federal escancarou de vez a índole prepotente: reviveu a censura da ditadura; instaurou inquérito inconcebível por um rábula - não há lei anterior que defina o crime?, arruma-se: o regimento do STF que, na leitura de Dias Toffoli, com seu pavoroso dessaber jurídico, transforma cada ministro em território, dependência do lote urbano da Corte; só pode  ser piada de primeiranista de Direito -; imiscuiu-se em ato privativo do Executivo na nomeação na Polícia Federal; impediu a expulsão de diplomatas de ditadura não reconhecida pelo Brasil; tornou pública, casuisticamente, reunião ministerial, esfacelou a federação ao atribuir a governadores mandos e desmandos de suseranos, que a Constituição Federal não prevê. Que tipo de desvario se apossou do STF? O diabo talvez saiba. Resultado: não apenas os mortos, as responsabilidades políticas e administrativas estão sendo jogadas nos caixões com os cadáveres. O Estado brasileiro é abominável aberração sem precedentes nas democracias civilizadas.



A mídia ressentida com o corte do faturamento empresarial e da grana para “conferencistas midiáticos” saltou para as pautas mórbidas, necrófilas, sinistras, lúgubres. Se um passarinho fizer cocô sobre o prédio do STF, é possível instaurar inquérito frankstein contra o agressor ornitológico das divindades togadas e o Jornal Nacional rotulará como “ato inconstitucional e ilegal”, eco nas notas enfadonhas do quarteto medíocre: presidentes do STF, Senado, Câmara, OAB. O constitucionalismo de bordel envergonha as legendárias arcadas do Largo de São Francisco, da USP, em Sampa, onde Toffoli estudou. Largo por largo, viva o da Trindade, em Belém: contemporâneos meus esplendem em saber da Ciência Jurídica.  Desde quando é crime expressar opinião em textos ou cartazes sobre o que o cidadão considera errado? O que é inconstitucional, exibir cartaz pedinte da extinção do STF ou a sessão do Senado, presidido pelo presidente do mesmo STF, que rasgou texto linear da Carta Magna no tristemente inolvidável julgamento político  do impeachment da criminosa Dilma Rousseff? Qual o nexo entre o  descontrole verbal do ex-ministro Abraham Weintraub e o inquérito das "fake news"? Quem se surpreenderá se, a qualquer momento, um Tomás de Torquemada togado boiar no Lago Paranoá? Politizada a peste, os cadáveres se tornaram troféus da mídia articulada para derrubar o presidente da República. À conspirata aderiram as mesmas presidências: do STF, da Câmara, do Senado Federal e da petista OAB. No fundo e na superfície, tudo se resume na grana do povo para a patifaria parlamentar, para o ativismo usurário do  funcionalismo federal bem pago, para a lagosta e os vinhos caros dos ministros do STF, criaturas regidas por leis vigentes fora do sistema solar. 



José Maria Leal Paes, Bacharel em Direito, jornalista, escritor, poeta



Pontocritico.com

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