terça-feira, 7 de julho de 2020

Isolamento social de populações inteiras é um erro, diz epidemiologista de Stanford

Por Jon Miltimore
  • Foundation for Economic Education


Isolamento social


O médico John Ioannidis se tornou um cientista reconhecido por expor a “má ciência” praticada por seus pares. Mas a Covid-19 pode ser o maior desafio de sua carreira.
Ioannidis ocupa a cadeira C.F. Rehnborg em Prevenção de Doenças na Universidade de Stanford (a posição é uma homenagem criada pela família do pesquisador Carl Rehnborg, que passou a vida acadêmica trabalhando na prevenção de doenças), e foi alvo de críticas nos últimos meses por sua oposição a medidas de isolamento social determinadas pelos governos, como o lockdown. Segundo ele, tais medidas causam mais danos do que benefícios. E mesmo com os ataques que vem recebendo, o médico parece não querer recuar na questão.
Em uma entrevista recente concedida ao Greek Reporter, Ioannidis tratou de diversos assuntos. Entre eles, o fato de que dados recentes mostram que ele estaria certo a respeito dos danos sociais causados pelos lockdowns. Além disso, os modelos matemáticos que baseiam tais medidas de isolamento social teriam falhas estruturais terríveis.
Ioannidis disse também que uma revisão mais detalhada da literatura médica sugere que a Covid-19 está muito mais disseminada do que a maioria das pessoas acredita.
“Já são mais de 50 estudos que mostram resultados sobre pessoas, nos mais diferentes países e regiões, que desenvolveram anticorpos para o vírus”, disse Ioannidis. “É lógico que nenhum desses estudos é perfeito, mas juntos eles nos dão evidências muito úteis. Uma estimativa básica sugere que em todo o mundo de 150 milhões a 300 milhões de pessoas já podem ter sido contaminadas pelo vírus, muito além dos10 milhões de casos documentados.”
Ioannidis disse também que os dados médicos sugerem que o risco de morte pela doença é muito menor do que as estimativas iniciais apontaram, e que para indivíduos abaixo dos 45 anos esse risco “é quase zero”. A taxa média de mortalidade entre os infectados é de 0,25 por cento. Porém, esse risco “aumenta substancialmente” para indivíduos acima dos 85 anos, e pode chegar a 25% entre aqueles que estão em asilos.
“A taxa de mortalidade em um determinado país depende muito da idade, quem são os infectados e como eles são tratados”, disse Ioannidis. “Para pessoas mais jovens, abaixo de 45 anos, a taxa de mortalidade entre os infectados é de quase 0%. Entre 45 e 70 anos fica provavelmente entre 0,05% e 0,3%. Para aqueles acima dos 70 anos aumenta substancialmente.”
Por isso, Ioannidis vê o isolamento social de populações inteiras como um erro, embora ele admita que essas medidas ainda faziam algum sentido quando os especialistas acreditavam em uma alta taxa de mortalidade da Covid-19, entre 3% e 5%.
Em março, em um artigo na STAT, Ioannidis disse que não era possível prever por quanto tempo um isolamento total poderia ser mantido sem que a medida trouxesse consequências sérias.
“Um dos resultados é que nós não sabemos por quanto tempo as medidas de isolamento total podem ser mantidas sem que haja consequências graves para a economia, a sociedade e a saúde mental”, escreveu Ioannidis. “Diversas situações imprevisíveis podem se seguir, como crise financeira, agitações, conflitos civis, guerra e o total derretimento do tecido social.”
Cerca de três meses depois dessa entrevista, foram registrados níveis de desemprego nunca vistos desde a Grande Depressão de 1929, fechamento em massa de empresas, aumento no número de casos de suicídio e overdose de drogas e conflitos sociais em uma escala nunca vista nos EUA desde os anos 1960.
“Sinto-me extremamente triste porque minhas previsões estavam corretas”, disse Ioannidis, que continuou:
“Já aconteceram consequências sérias na economia, na sociedade e na saúde mental. Eu espero que elas sejam reversíveis, e isso depende em grande parte de ações como evitar o prolongamento desses lockdowns draconianos. Depende também da forma como lidamos com a Covid-19: de uma forma inteligente, com uma abordagem direcionada ao risco de precisão, em vez de fechar tudo cegamente. De forma similar, nós já começamos a ver as consequências da crise financeira, agitações e conflitos sociais. Eu espero que isso não seja seguido de guerras e do derretimento do tecido social. Globalmente, as medidas de isolamento social total resultaram no aumento no número de pessoas em risco de morte por fome para 1,1 bilhão. Outras milhões de vidas estão sendo colocadas em risco com a possibilidade de ressurgimento da tuberculose e doenças infantis como o sarampo -- que teve os programas de vacinação interrompidos -- e a malária. Eu espero que os responsáveis por tomar essas medidas de isolamento olhem para todos os problemas que o isolamento pode trazer, isso como um todo, e não só aquela fatia importante, mas pequena, da Covid-19.”
Ioannidis não poupou aqueles que previram mais de 40 milhões de mortes, nem aqueles que disseram que o sistema de Saúde dos EUA entrariam em colapso.
“As previsões da maioria dos modelos matemáticos sobre quantos leitos de UTI seriam necessários estavam astronomicamente erradas”, disse Ioannidis. “Muito embora vários hospitais tiveram suas rotinas submetidas a um estresse bastante severo, o sistema de saúde não entrou em colapso em nenhum lugar nos EUA”.
Ao contrário, ele disse, essas medidas de isolamento tiveram um efeito prejudicial no sistema de saúde dos EUA, que sofreu “danos severos” por causa das medidas tomadas.
Só o tempo vai dizer se Ioannidis está correto em seus argumentos. Mas se ele estiver só metade certo, isso já seria uma prova de que os especialistas falharam em suas avaliações.
Não há muito o que se falar sobre como o isolamento social total causou uma carnificina econômica, social e emocional. Evidências de que estados americanos que tenham passado por lockdowns se saíra melhores que os outros são difíceis de encontrar.
Embora ainda tenha um futuro incerto, a pandemia de Covid-19 pode muito bem se tornar mais um exemplo de como um planejamento central que deu errado.
Como dito anteriormente, é uma triste ironia perceber que alguns dos maiores desastres da humanidade moderna – desde o sistema de plantações coletivas de Stalin, o “kolkhoz”, até o “Grande Salto Adiante”, de Mao, e muitos outros -- são resultado de planejadores centrais tentando melhorar a raça humana por meio de ações coercitivas.
Durante a pandemia de coronavírus, os especialistas podem, de forma não intencional, ter criado um dos mais sérios desastres humanos da história moderna pelo fato de terem tirado das pessoas, que têm um maior conhecimento sobre o local onde vivem, o direito de escolha.
“Não é uma disputa sobre se um planejamento é necessário ou não”, escreveu Hayek em “O Uso do Conhecimento na Sociedade”. “É uma disputa sobre se o planejamento deve ser feito de forma central, por uma autoridade para todo o sistema econômico, ou se ele deve ser dividido entre os indivíduos”.


Gazeta do Povo

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