Cidades mais próximas das encostas da Serra Geral, como Caraá e Maquiné, foram as mais atingidas pela chuvarada
Correio do Povo
Não diferente de outras áreas da metade norte gaúcha, o litoral sentiu os efeitos da formação de um novo ciclone extratropical. Diferente do ciclone-bomba da semana passada, quando as rajadas de vento de quase 100 km/h prevaleceram, desta vez foi a chuva. Cidades mais próximas das encostas da Serra Geral, como Caraá e Maquiné, foram as mais atingidas pela chuvarada.
Entre as cidades da orla, Capão da Canoa foi a que teve problemas mais severos de alagamento. Os acessos foram a parte da infraestrutura que mais sofreram danos, mas também houve muitos prejuízos na agricultura. Algumas famílias também precisaram ser removidas de suas casas para fugir dos alagamentos. Havia ainda a expectativa de ressaca, que ainda não aconteceu, mas poderá vir a acontecer até o dia 10, conforme alerta da Marinha.
Em Maquiné, foi observada a situação mais grave. Várias estradas foram danificadas, algumas foram destruídas e pelo menos 80 famílias ficaram isoladas. Com a forte precipitação entre a madrugada de terça-feira e a manhã de quarta-feira, o Rio Maquiné saiu do leito em vários pontos. Na RS 484, que faz a ligação da cidade com São Francisco de Paula, passando pelo distrito de Barra do Ouro, a água invadiu vários trechos. Em alguns deles, o saibro foi levado e sobrou apenas as pedras de seixo. “A Defesa Civil nos alertou. Então quando começou a chover forte e o rio encher, ficamos sem dormir”, conta a agricultora Elenir Beatriz Bobsin, 61 anos, que mora ao lado do rio. Segundo ela, o pico da cheia foi por volta das 4h30 desta quarta-feira.
O prefeito de Maquiné. João Marcos Bassani dos Santos, disse que os agricultores perderam 100% da produção de hortigranjeiros. “O rio desceu com muita rapidez. Tivemos perdas de pontes de arame, de galpões de agricultura. Piorou o que já vinha com problemas da semana passada”, relata, ao se lembrar de que muitas propriedades ainda estavam sem luz até hoje. Ao todo, 20 famílias foram levadas para o salão comunitário do município. Na terça-feira passada houve o destelhamento de cerca de 100 casas.
As localidades mais afetadas com a enchente foram Cerrito, Pedra do Amolar, Encantada e Barra do Ouro. “Perdemos tudo as plantações, as cercas, o gado. Foi uma enchente muito forte. Fazia uns 4 anos que a gente não via algo assim”, conta o produtor rural Emerson Moreira Pretto, 42 anos, que mora em Barra do Ouro. No começo da tarde desta quarta-feira, ele ainda não conseguia ir ver a situação em outra área por causa da água, que tomava conta da estrada que vai para a Serra do Umbú.
No município do Caraá, a cheia do arroio que leva o nome da cidade provocou alagamento da área urbana do município. Segundo o coordenador da Defesa Civil local, Antônio Augusto Borges, a enchente só não foi pior por que o Rio dos Sinos não subiu muito. “Interditamos o acesso ao Centro das 11 da noite até às 6 horas da manhã de hoje (quarta-feira)”, informa. Nenhuma família precisou ser removida. Mas na metade da manhã, ainda havia ruas alagadas. “Foi só o Rio Caraá que botou pra fora. Não chegou a dar um ‘enchentão’. Se tivesse o Rio dos Sinos junto, ninguém passava”, acredita o aposentado Dinaldo Guilherme de Oliveira, 55, que tentava atravessar de carro a Rua Jorge Von Saltiel. Ainda que não tenha subido muito, as águas do Rio do Sinos conseguiram cobrir a ponte que fica na localidade de Sertão Rio dos Sinos.
Em Capão da Canoa, segundo o coordenador da Defesa Civil, Maurício Porto, os bairros Arco-Íris e Vale Verde foram os mais atingidos. Pelo menos 12 famílias precisaram ser removidas por causa dos alagamentos, fora aquelas que deixaram suas moradias por conta própria. “Quando dá chuva, como esta, a água vai toda lá para os fundos do terreno. Se eu fechar com terra aqui na frente, daí sim acumula ainda mais”, relata Rogério Petry, 61, morador da Rua Chapecó, uma das atingidas. “Aqui em Capão da Canoa tivemos chuva acumulada em 24 horas de 67 milímetros. Foi bastante água”, salienta Porto.
Em Tramandaí, o Corpo de Bombeiros não recebeu nenhum pedido de ajuda durante a chuva. A Prefeitura também não reportou transtornos pela chuva. Em Imbé, segundo o prefeito Pierre Emerim, a situação foi mais tranquila, pelo fato de não ter tido maiores transtornos como a necessidade de remoção de famílias. “Alagamentos daqueles dos piores. Este foi o alagamento do ano. Muita sujeira nos canos, nos locais de drenagem. Mas estamos trabalhando para fazer com que a água escoa o mais rápido possível e ainda reparar os danos da semana anterior”, assegura. Na Barra de Imbé, por exemplo, máquinas seguiam trabalhando na tarde desta quarta para reparar os danos ao guia-corrente depois da ressaca do ciclone-bomba.
Havia um aviso de ressaca emitido pelo Centro Hidrográfico da Marinha (CHM), que vigorava até às 15h desta quarta-feira. Mas diante da expectativa de intensificação e manutenção do vento de oeste e sudoeste, que pode atingir rajadas de até 87 km/h nos próximos dias, o órgão preferiu estender o alerta de ressaca até o dia 10. Entretanto, nesta quarta-feira o fenômeno não havia ainda se configurado, o que permitiu os trabalhos de recuperação da Barra do Imbé.Correio do Povo
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