quarta-feira, 3 de junho de 2020

Inflação da comida explode sob pandemia de coronavírus, mostra OCDE

por Ana Estela de Sousa Pinto

Nos 37 países do bloco, alta anual no preço dos alimentos saltou de 2,4% para 4,2% em abril; em outros itens, inflação recuou

A crise do coronavírus provocou uma queda brusca na inflação anual dos 37 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em abril, mas os preços da comida explodiram nesse mês.

Na média, a inflação em 12 meses da OCDE caiu de 2,3% em fevereiro para 1,7% em março e 0,9% em abril.

A alta anual no preço dos alimentos, por sua vez, foi de 2,4% em março para 4,2% em abril, maior aumento desde janeiro de 2012.

No Brasil, que não faz parte da OCDE, dados do IBGE mostram que até meados de maio o grupo alimentos e bebidas tinha inflação acumulada no ano de 5,47% (IPCA-15).

Na OCDE, os três países que registraram a maior alta em 12 meses na inflação da comida foram Hungria (8,9%), Colômbia (8,2%) e Austrália (7,4%), os três países em que houve a maior alta em abril.

O alerta sobre o impacto da pandemia nos preços dos alimentos vem crescendo, por causa de distúrbios no plantio, na colheita e na comercialização. No começo de abril, a ONU e a OMC alertaram para o risco de escassez de comida e no mês passado o alerta foi reforçado pela professora da escola de políticas públicas Kennedy School, de Harvard, Carmen Reinhart, e pelo economista-chefe do Global Markets Research, Rob Subbaraman. 

Em artigo publicado no site do Fórum Econômico Mundial, eles afirmaram que a escassez de ração animal, fertilizantes e pesticidas aumentou os custos da agricultura e o risco de quebra de colheitas.

Embora os estoques de grãos ainda estejam altos, a intensidade e duração da pandemia pode colocá-los em risco, segundo os autores.

Restrições a viagens impediram a entrada de trabalhadores sazonais e afetaram a colheita de frutas e legumes na Europa e na Índia, e o avanço da doença reduziu a mão de obras em indústrias e frigoríficos nos EUA.

Com restaurantes, hotéis e escolas fechados em muitos países, as cadeias de atacado tiveram que ser reorganizadas para supermercados e entrega em domicílio, o que exige mudança tanto no preparo quanto na embalagem.

Durante a adaptação, muitos produtos frescos tiveram que ser destruídos: a imprensa europeia relatou vários casos envolvendo leite, queijo, batatas e cebolas.

Alguns dos principais países produtores de alimentos também barraram exportações, como fizeram a Rússia e o Cazaquistão com grãos e a Índia e o Vietnã com arroz.

Outros aceleraram importações para fazer estoques, como as Filipinas (arroz) e o Egito (trigo).

“Intervenções simultâneas de muitos governos podem resultar em um aumento global do preço dos alimentos, como aconteceu em 2010 e 2011”, afirmam Carmen Reinhart e Rob Subbaraman.

Cálculos do Banco Mundial estimam que o protecionismo tenha sido responsável por cerca de 40% do aumento do preço global do trigo e 25% do aumento dos preços do milho naquele período.

Em abril, a inflação dos alimentos em 12 meses na União Europeia foi de 4,3% na média, segundo a OCDE, e no G7 (grupo das sete maiores economias globais), de 3,7%.

Única exceção entre os 37 países da OCDE, a Irlanda viu deflação no preço dos alimentos, de 1,2%.

?O principal vetor da queda da inflação em abril foram os preços da energia, que despencaram em média 12,2%, depois de recuarem 3,7% em março, refletindo a queda no valor do petróleo.

A redução de abril ou a maior desde setembro de 2015.

Mesmo excluídos alimentos e energia, a alta anual de preços desacelerou nos países da OCDE em abril, para 1,6%, ante 2,1% em março.

É a menor taxa de inflação, excluindo alimentos e energia, nos países do grupo desde fevereiro de 2014.

A organização ainda não tem estimativas para maio, mas o acompanhamento da agência de estatísticas europeia para os países que usam o euro como moeda mostram inflação de 0,1% no mês passado, abaixo dos 0,3% de, por causa de novo recuo nos preços de energia.

Em abril de 2020, a inflação anual diminuiu em todas as principais economias do mundo, com exceção da Rússia, onde subiu de 2,5% para 3,1%.

No G20 (20 maiores economias do mundo, do qual faz parte o Brasil), a inflação anual também diminuiu em abril, para 2,4%, em comparação com 3,2% em março. Os preços em 12 meses subiram menos no Brasil (2,4% em abril, contra 3,3%), na Argentina (para 45,6% em abril, de 48,4% em março) e na China (para 3,3%, de 4,3%).

A OCDE ressalva que as medidas de combate à pandemia de coronavírus afetaram coleta, compilação de dados e cálculo de indicadores em vários países, e que pode haver impacto na qualidade dos números, embora estejam sendo desenvolvidas ferramentas estatísticas para minimizar problemas.

Fonte: Folha Online - 02/06/2020 e SOS Consumidor

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