Em todo o Rio Grande do Sul foram invadidas cerca de 90 instituições e servidores que tiveram dados expostos
Perícia no material apreendido durante a operação “Capture the flag” já está sendo realizada | Foto: PF / Divulgação / CP
A reportagem do Correio do Povo teve acesso à listagem das prefeituras e câmaras municipais que foram alvos da organização criminosa de hackers que está na mira da Polícia Federal com a operação “Capture the flag”. A ação foi realizada ao amanhecer desta sexta-feira nas residências de um adolescente de 17 anos em Porto Alegre e de um jovem de 19 anos em Nova Bassano, além da casa de um menor de 17 anos em Fortaleza, no Ceará. Houve o recolhimento de computadores, mídias e documentos que serão agora periciados. “As buscas foram um sucesso e acessamos os dados nos computadores”, adiantou o superintendente regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, delegado José Antônio Dornelles de Oliveira. “Vamos analisar o material apreendido e ver o que tem de mais concreto”, resumiu.
A investigação começou há um mês com as informações recebidas sobre os ataques cibernéticos. A Polícia Federal apurou que os criminosos cibernéticos obtiveram e expuseram de forma ilícita dados pessoais de mais de 200 mil servidores e autoridades públicas, com o objetivo de intimidar e constranger tanto as instituições quanto as vítimas que tiveram seus dados e intimidade expostos. Os policiais federais verificaram ainda que a organização criminosa invadiu sistemas de universidades federais, prefeituras e câmaras de vereadores municipais no Rio de Janeiro, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul, além de um governo estadual e diversos outros órgãos públicos. Somente no RS foram mais de 90 instituições invadidas.
O grupo gabou-se de ser o responsável pelo vazamento do exame da Covid-19 do presidente da República Jair Bolsonaro, realizado no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, além de dados de 121 instituições hospitalares. “Estamos investigando sim o vazamento de dados do presidente da República. Com a perícia vamos confirmar as suspeitas ou não”, explicou o superintendente regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul. “Eles publicavam dados em páginas nas redes sociais e se vangloriavam dos ataques”, observou. Ele acrescentou que as motivações do grupo hacker podem ser por atitude política, venda de informações, exposição de vulnerabilidade das vítimas e posterior venda da solução do problema, além de compras fraudulentas na internet e bancárias. “Esse pessoal se acha inatingível e que não serão descobertos”, supôs.
O grupo criminoso acessou também, por exemplo, cerca de 4 mil dados da Universidade de São Paulo (USP) e em torno de 5 mil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), inclusive de professores e estudantes. Nem as instituições militares e os seus efetivos escaparam da ação hacker. “Causou preocupação a invasão de dados inclusive pessoais de servidores públicos e de militares. Isso coloca em risco a segurança de todos esses servidores e até a segurança nacional”, avaliou o delegado José Antônio Dornelles de Oliveira. “Eles faziam ameaças aos órgãos e agentes públicos”, lembrou.
Conforme a listagem em poder dos policiais federais, o grupo hacker invadiu os sites das prefeituras de Boa Vista do Buricá, Santo Antônio das Missões, Santo Cristo, São José do Inhacorá, São Luiz Gonzaga, São Martinho, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Valério do Sul, Sete de Setembro, Tiradentes do Sul, Tucunduva, Tuparendi, Alecrim, Bossoroca, Caibaté, Cândido Godói, Capão do Cipó, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Giruá, Independência, Itacurubi, Nova Candelária, Nova Esperança, Novo Machado, Pirapó, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Porto Xavier, Redentora, Rolador, Ronda Alta, Roque Gonzales, Santa Bárbara do Sul e Sede Nova.
Já as câmaras municipais gaúchas atacadas foram de Cerro Largo, Novo Machado, Pirapó, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzales, Santo Antônio das Missões, São José do Inhacorá, São Luiz Gonzaga, São Martinho, São Miguel, São Nicolau, São Valério do Sul, Sete de Setembro, Três de Maio, Tuparendi, Vitória das Missões, Campina das Missões, Alecrim, Alegria, Bossoroca, Caibaté, Dezesseis de Novembro, Maurício Cardoso, Independência, Itacurubi, Mato Queimado, Santa Bárbara do Sul e Tenente Portela.
Estão sendo investigados os crimes de invasão de dispositivo informático, corrupção de menores, estelionato e organização criminosa. Para o titular da Delegacia Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, delegado Alessandro Maciel Lopes, a vaidade também motivava o grupo hacker mas “não diminui a responsabilidade do crime pelos danos causados ao expor instituições e servidores públicos”. Na opinião dele, trata-se de uma verdadeira organização criminosa com um grau de periculosidade. “A conduta de cada um será apurada”, afirmou.
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