Escritor sofreu um infarto em seu apartamento, no Leblon
Correio do Povo
Morreu no início da tarde no Rio de Janeiro um dos maiores escritores do Brasil, Rubem Fonseca.
A menos de um mês de completar 95 anos, Fonseca sofreu um infarto hoje, perto da hora do almoço, em seu apartamento, no Leblon. Foi levado imediatamente ao hospital Samaritano, onde morreu.
Um dos maiores contistas brasileiros da segunda metade do século XX, Rubem Fonseca é autor, entre outros, de "Feliz ano novo" (1976), "A Coleira do Cão" (1963), "O Cobrador" (1979). Seu último livro de contos inéditos foi lançado há dois anos, "Carne crua", lançado pela editora Nova Fronteira. O livro é composto por 26 contos, com crueza de assassinatos, traições e injustiças sociais, e a avidez das descobertas, a delicadeza das histórias de amor e uns flertes com a poesia.
Rubem Fonseca ficou conhecido por suas narrativas velozes e urbanas, repletas de violência, erotismo e irreverência, presentes em seus clássicos como "Agosto", "Bufo & Spallanzani" e “Romance negro e outras histórias”. Em seus contos e romances destacam-se a narrativa policial e tramas envolvendo delegados, inspetores, detetives particulares, advogados criminalistas e escritores. O domínio deste estilo devia-se a sua experiência antes de ser escritor, quando atuou como advogado, aprendeu medicina legal e chegou a ser comissário de polícia, nos anos 50, no Rio de Janeiro.
Seus protagonistas em nenhum momento são atormentados por qualquer remorso ou culpa. São perversos e frios, sejam ricos ou pobres. Em “O caso Morel”, o leitor irá acompanhar a narrativa do ex-delegado e escritor Vilela & Morel; em “Bufo & Spallanzani”, o inspetor Guedes, e “Agosto”, o “O Anjo Negro” ou Fortunato. Ele criou um personagem que se imortalizou nos meios literários – o advogado Mandrake, despido de valores morais, sempre cercado de mulheres, habituado a circular pelo underground carioca. Mandrake foi transportado para as telas da TV em uma série popular do canal HBO, vivido pelo ator Marcos Palmeira, em roteiro adaptado pelo filho de Rubem. A mescla de ficção com fatos históricos também é uma característica da produção literária de Fonseca, como no retrato de Getúlio Vargas em “Agosto”, e a representação da trajetória existencial do compositor Carlos Gomes em “O Selvagem da Ópera”.
Considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira, Rubem Fonseca costumava ser avesso a eventos públicos. Em 2015, recebeu o Prêmio Machado de Assis, entregue pela Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo conjunto da obra. Ele também escreveu críticas cinematográficas para a revista Veja e recebeu, ao longo de sua carreira literária, várias premiações importantes, entre elas o Prêmio Camões, o mais importante do idioma português. Foi igualmente consagrado por seus roteiros para o cinema.
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