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domingo, 5 de abril de 2020

'Não acho que a Páscoa está perdida', diz executivo à frente da dona da Lacta

Liel Miranda, presidente da Mondelez Brasil Foto: Silvia Costanti / Valor/3-3-2020 / Valor
Liel Miranda, presidente da Mondelez Brasil Foto: Silvia Costanti / Valor/3-3-2020 / Valor

Presidente de multinacional fabricante de várias marcas de chocolates, Liel Miranda aposta no comércio eletrônico para enfrentar crise do coronavírus

RIO - As incertezas geradas pela pandemia do coronavírus atingiram em cheio a Mondelez, dona de marcas de chocolate como LactaOreo, Sonho de Valsa e Bis. Em entrevista ao GLOBO, Liel Miranda, presidente da companhia no Brasil, revela que as vendas, às vésperas da Páscoa, estão um pouco abaixo do esperado no período mais importante do ano para a indústria de chocolates.
Com o comércio fechado, exceto os supermercados, a companhia montou uma estratégia para fazer chegar aos consumidores os ovos de chocolate diante das limitações.
A saída foi reforçar a venda pela internet e por aplicativos. Miranda revela que os cuidados com o Covid-19 na empresa começaram já em fevereiro, após troca de informações com as subsidiárias da multinacional na China e na Europa.

Que medidas a empresa tem adotado para  mitigar os riscos da pandemia?

- Como somos  uma empresa multinacional com presença na China e na Europa, de alguma forma fomos sendo alertados para o que iria acontecer com antecedência. Então, desde fevereiro, já tínhamos estabelecido um grupo de gestão de crise para acompanhar o que estava acontecendo lá fora de forma a ter certeza que estaríamos preparados aqui no Brasil quando chegasse a hora. E desde fevereiro começamos a trazer matéria-prima já antes, com medo que depois ficasse mais difícil. Aumentamos os estoques com antecedência. E até agora estamos mantendo capacidade máxima nas nossas duas fábricas, uma em Curitiba e outra em Vitória de Santo Antão, perto de Recife. 

Qual sua opinião sobre a quarentena? Isso precisa ser mantido?

- Seguimos as instruções das autoridades locais. Nosso papel como empresa é proteger os funcionários ao máximo. Começamos a adotar medidas de segurança nas nossas unidades, como verificação de temperatura. Começamos a separar os colaboradores que estavam em grupo de risco. E conforme as coisas ficaram mais sérias e arriscadas, fechamos as nossas unidades, como escritórios. E flexibilizamos os horários dos 2.500 promotores das lojas para que eles não trabalhassem no horário de pico.
Recentemente, oferecemos transporte privado e individual para todos os nossos colaboradores, sejam das fábricas, dos centros de distribuição e promotores.  Além disso, há preocupação em manter o abastecimento das lojas para que não haja falta de produtos para os consumidores, evitando uma sensação de crise. E tentar também contribuir socialmente nesse momento. Doamos 500 mil ovos de Páscoa, mesmo não sendo item de primeira necessidade.

A Páscoa está perdida?

- Não acho que a Páscoa está perdida, pois as pessoas estão continuando a comprar as marcas e os produtos que elas precisam para se manter durante a quarentena. E isso não é só para feijão, arroz e papel higiênico. Inclui também os nossos produtos que fazem parte da dieta diária da maioria das pessoas.  Acredito que nessa última semana antes da Páscoa as pessoas vão  lembrar de  comprar os ovos para dar para as pessoas que moram com elas. Normalmente, as famílias com filhos são as maiores compradoras e nesse período as crianças estão em casa.

A pandemia exigiu mudanças com as lojas fechadas?

- Exigiu uma flexibilidade muito grande porque uma parte dos produtos vão para lojas que estão fechadas como as localizadas em shopping centers. Estamos redistribuindo esses  produtos para lojas que  estão abertas e o comércio eletrônico, como sites de varejo e de aplicativos de entrega. Isso tudo foi uma reação imediata depois que ficou claro que o comércio seria fechado, já que cerca de 10% a 12% do volume vão para lojas que não são supermercados. A gente começou uma estratégia de e-commerce para tentar literalmente desovar os ovos das lojas que iam ser fechadas. Tivemos que lançar com rapidez  um esforço muito maior que tínhamos imaginado. Nossa ambição é que esses novos canais somem  10% do volume a ser vendido. Vamos ver o que vai acontecer. No ano passado, esse canais foram menos de 1%.

E como estão as vendas até o momento?

- O brasileiro sempre deixa tudo para última hora.  E 90% do volume de vendas começam agora a partir do dia primeiro de abril. Até hoje a gente teria que ter vendido 10% do total. A gente está um pouco abaixo. Já vendemos algo como 7% a 8%.  Hoje, é difícil ter uma previsão para essa Páscoa, pois a compra é concentrada nos últimos dias. As pessoas já perceberam que não vão faltar produtos. E, assim, há uma tendência de que as pessoas vão de novo abrir a cabeça para prestar atenção na Páscoa. 

Então é difícil fazer uma previsão?

-  Os consumidores estão indo menos a lojas e têm uma atenção mais voltada a produtos mais básicos. E tem a insegurança do que vai acontecer nos próximos meses, com as pessoas que estão com uma situação econômica mais insegura e não vão talvez ter a mesma disponibilidade para comprar produtos para dar de presente. O segundo trimestre tende a ser muito ruim. Há o efeito de lojas fechadas. A Páscoa, que é um momento bom de venda de chocolate, talvez não seja tão boa como esperávamos. E as pessoas que dependem de trabalho informal ou pequenos empresários vão ter um impacto na renda a médio prazo.  E esperamos que a crise não se prolongue por tanto tempo para iniciar uma recuperação no segundo semestre.  

O Globo

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