domingo, 19 de abril de 2020

Morte em massa por Covid-19 e abandono de idosos em asilo choca o Canadá

Ao menos 31 pessoas morreram na residência Herron, cujo dono cumpriu pena de prisão por tráfico de drogas e fraude, e funcionaram pararam de trabalhar por temor ao vírus

Uma ação coletiva por


Idosos abandonados sem ninguém para cuidar de sua alimentação, higiene ou fornecer remédio, um proprietário com um passado criminoso e 31 mortos em poucas semanas: as revelações que surgem de um asilo perto de Montreal, dizimado pelo novo coronavírus, deixaram o Canadá em estado de choque. A residência Herron, no subúrbio de Dorval, tornou-se o símbolo doloroso da catástrofe que atinge as casas de repouso no país. 
No Canadá, como em vários outros locais, metade das mortes relacionadas à Covis-19 correspondem a óbitos nesse tipo de estabelecimento. "Horrível", disse o primeiro-ministro de Quebec, François Legault, sobre o caso, que ele chamou de "negligência grave", e ordenou várias investigações, inclusive da polícia criminal, depois que os detalhes do que ocorreu foram revelados em uma investigação publicada pelo jornal Montreal Gazette. 
Segundo o jornal, os funcionários das entidades governamentais de saúde que participaram do resgate encontraram uma cena de desolação no local: pacientes que não recebiam comida há dias, fraldas transbordavam excrementos e pacientes que tropeçavam no chão. Além disso, encontraram dois idosos mortos em suas camas. 
Muitos funcionários do estabelecimento deixaram de trabalhar por medo de contrair a doença respiratória. "Isso realmente me deixou nauseado", disse Moira Davis, filha de Stanley Pinnell, uma das vítimas fatais em Herron, em 8 de abril. "De repente, muitas perguntas passaram pela minha cabeça: o que poderíamos ter feito de diferente? Por que ninguém nos contou nada? Por quê?", lamentou. 

"Tratamento desumano e degradante"

Pelo menos cinco das 31 mortes neste centro são atribuídas diretamente ao vírus, e o restante está em análise. Segundo Davis, o caso desta residência está longe de ser encerrado. "Os holofotes ao redor do mundo estão apontando para Herron, o exemplo perfeito do que há de errado com os cuidados de saúde para idosos", declarou. "Me assusta, me aterroriza, porque tenho 60 anos e um dia eu posso acabar em uma dessas residências", acrescentou com lágrimas nos olhos. 
Uma ação coletiva por "tratamento desumano e degradante" em nome dos 130 residentes do centro foi levada à justiça, com um pedido de indenização  de cerca de 3,6 milhões de dólares. O jornal La Presse, com sede em Montreal, revelou que o presidente do grupo proprietário da Herron, Samir Chowiera, cumpriu pena de prisão por tráfico de drogas e fraude.
"Em 7 de abril, minha mãe ficou em sua cadeira de rodas, com suas fraldas sujas, por horas, porque ninguém respondeu" a seus pedidos de ajuda, disse Peter Wheeland à AFP, acrescentando que sua mãe, Connie, de 87 anos tinha diarréia, um dos sintomas do novo coronavírus. A idosa foi transferida para um hospital, onde foi diagnosticada com a COVID-19, e não retornará a Herron, onde paga uma anuidade de cerca de 32 mil dólares, disse o filho.
Diante do escândalo causado pelo caso, o primeiro-ministro de Quebec pediu aos médicos a "fazer o trabalho das enfermeiras" nesse tipo de estabelecimento, onde são necessários cerca de 2.000 funcionários. Já o primeiro-ministro Justin Trudeau, cuja esposa foi diagnosticada com a doença e já se recuperou, anunciou o envio de 125 oficiais de saúde do exército para ajudar a província de Quebec durante esta crise em casas de repouso.
AFP e Correio do Povo

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