por Marina Consiglio
Com refeições apenas para viagem, casas perdem receita e adotam corte de jornada e salário
Restaurantes completam o primeiro mês de vendas exclusivamente por delivery, reflexo da quarentena imposta pelo governo de São Paulo para combater a pandemia do novo coronavírus, com a convicção de que esse é um plano tão emergencial quanto as medidas de controle da pandemia.
O faturamento de alguns restaurantes chegou a cair a um terço do que era antes de fecharem suas portas ao público. Foi preciso cortar jornadas e salários e demitir parte dos funcionários. Os cardápios foram adaptados e parte da equipe mudou de função.
Isso porque a operação de um restaurante convencional é maior do que a cozinha de um delivery: também envolve, por exemplo, equipe de salão, lavadores de pratos e lavanderia para uniformes, guardanapos e toalhas de mesa.
Paulo Shin, chef do coreano Komah, na Barra Funda, conta que após fechar um contrato de exclusividade com o iFood, lançar o serviço de entregas era o grande plano da casa para 2020. "Estávamos visando ter um grande crescimento com o lançamento."
Com a suspensão das atividades do salão, o projeto de abrir uma dark kitchen (cozinha exclusiva para o delivery) teve que ser repensado e a nova operação teve que ser adaptada para o endereço físico do Komah.
"Tivemos que criar várias estratégias", diz. Além de refazer contratos e de dar férias coletivas nos primeiros 15 dias da quarentena, Shin dividiu sua equipe de 30 pessoas em duas, cada uma com meia jornada, na esteira da medida provisória que permitiu a redução de jornada e salário durante a pandemia.
"Meu time é super capacitado, mas está inflado. Acaba que fica uma pessoa só grampeando as embalagens."
A estreia das entregas ocorreu há uma semana e, na avaliação do chef, foi ótima. "Não posso reclamar do faturamento, mas o nosso custo é o de um restaurante operante."
"É normal o faturamento cair quando o restaurante ainda carrega uma parte dos custos de quando funcionava normalmente", explica Cesar Costa, à frente do Corrutela, na Vila Madalena. "Essa adaptação toma um tempo, não é da noite pro dia".
Para Matheus Zanchini, do italiano Borgo, na Mooca, na zona leste, a transição ocorre com alguma facilidade —mas nem por isso seu negócio deixou de ter perdas. Após descartar entrar em aplicativo de delivery —que, segundo o chef, estava cobrando taxas altíssimas no primeiro contato—, ele optou por se comunicar com a clientela pelo WhatsApp, através de um mailing criado para divulgar o menu semanal da casa.
"Deu certo. Vendemos 300, 350 pratos por final de semana. Tem me dado um respiro para pagar a rescisão de quem eu tive que mandar embora". Mesmo com a percepção positiva, ele afirma faturamento da casa caiu pela metade e que está trabalhando apenas com um terço da equipe —eram 14, agora são seis, contando com ele.
"Minha prioridade é conseguir manter a equipe", diz Telma Shiraishi, do japonês Aizomê. Além da matriz, nos Jardins, o restaurante também tem uma unidade dentro do centro cultural Japan House.
O faturamento, ela afirma, não chega a um terço do da operação normal. "O que ajuda é que temos uma clientela fiel. Está dando para cobrir os salários, honrar uma parcela das contas e girar a cadeia de fornecedores." Parte dos funcionários também foi transferido —quem atendia no salão está no delivery, por exemplo. Mas Shiraishi e os outros chefs lembram, ainda, que uma parte do salário dos empregados vem do serviço cobrado no salão.
"Realmente, não cobre o buraco todo. Mas é muito melhor do que estar totalmente fechado e sem perspectivas", afirma.
Segundo dados divulgados pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) no último dia 14, estima-se que o Brasil já tenha 10% dos nego?cios voltados à alimentação fora do lar fechados (cem mil estabelecimentos) de forma definitiva e mais de 15% dos trabalhadores do setor demitidos (mais de 900 mil). O estado de São Paulo representa 30% do percentual nacional.
O governo de São Paulo pretende fazer a reabertura gradual da economia a partir de maio.
“Até 10 de maio, nada muda na quarentena em São Paulo. A partir de 11 de maio, colocaremos em prática um programa em fases, para manter a orientação da ciência e liberar gradualmente a economia. Mas repito, até dia 10 de maio, nada muda”, disse à Folha o governador João Doria.
"Mesmo com o fim da quarentena, a gente não vai voltar com 100% da operação", afirma Shin, do Komah.
"Se eu vou sobreviver? Espero que sim. Agora, como eu vou sobreviver? Vamos ter que remodelar muito."?
"Se eu vou sobreviver? Espero que sim. Agora, como eu vou sobreviver? Vamos ter que remodelar muito."?
Fonte: Folha Online - 24/04/2020 e SOS Consumidor
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