Pesquisa feita pela empresa Ernst & Young mostra que o esporte em 2018 teve impacto de 0,72% no PIB nacional
Agência Estado e Correio do Povo
Os cuidadores de gramado Francisco Almeida, funcionário do Fortaleza, e Reinaldo Gomes, do Bahia, ficaram preocupados quando a pandemia do novo coronavírus paralisou o futebol brasileiro e forçou os clubes a diminuírem despesas. Juntos, os dois sustentam oito pessoas e compõem uma parcela numerosa do mercado de trabalho. Se a modalidade parece se resumir a jogadores, técnicos e altos salários, na verdade se trata de um segmento que emprega 156 mil pessoas no País, segundo estudo publicado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
A pesquisa divulgada no ano passado e feita pela empresa Ernst & Young mostra que o futebol brasileiro em 2018 teve impacto de 0,72% no PIB nacional, ao movimentar R$ 52,9 bilhões. Embora existam salários milionários no meio, a modalidade conta com uma turma bem mais humilde. Para cada jogador empregado, há uma série de outros trabalhadores que também dependem do funcionamento dos times para garantir o sustento das famílias.
Enquanto negociam com os elencos para reduzir salários e evitar prejuízos durante a pandemia, os clubes demonstram preocupação justamente com funcionários mais humildes. Quem trabalha nos times profissionais seja na jardinagem, lavanderia, cozinha ou limpeza, têm recebido atenção especial para não ter os empregos colocados em risco em uma época de queda brusca de receitas com bilheteria, cotas de televisão e patrocínios.
"Como um grupo de funcionários classificados como mais humildes temia pela descontinuidade de seus empregos com a parada involuntária das suas atividades e das competições, resolvemos blindar e proteger em especial esses colaboradores", disse ao Estado o diretor administrativo do Fortaleza, Gildo Ferreira. O clube vai reduzir os salários do elenco em até 25% durante a pandemia. O Atlético-MG teve atitude parecida, ao diminuir 25% dos salários de todos, exceto de quem ganha até R$ 5 mil.
O Fortaleza criou um programa chamado Rede de Proteção ao Funcionário e se propôs a ajudar os empregados que têm salários mais baixos. "O saldo de estoque de produtos alimentícios do clube que não seriam utilizados com a parada do futebol foi transformado em cestas para serem distribuídas com nossos colaboradores, para evitar desperdício", explicou Ferreira.
Sem pânico
Por isso o cuidador do gramado do CT do Fortaleza, Francisco Almeida, de 37 anos, ficou mais tranquilo quando soube que o elenco do clube aceitou receber menos. Funcionário do clube há 19 anos, ele sustenta três pessoas com o salário. "A partir do momento em que o elenco se coloca nessa posição de reduzir o deles para preservar os funcionários, mostra também que o clube não é só o jogo em si, mas também uma equipe que faz tudo isso acontecer. É imensa gratidão por essa atitude", disse.
Colega de profissão dele, Reinaldo Gomes trabalha no Bahia há 20 anos e até foi homenageado na inauguração do CT da equipe, em janeiro deste ano. "É ruim ficar parado porque não tem mais jogo. Gosto de participar do futebol e de arrumar o gramado para o time. Mas o importante é manter o emprego mesmo nessa época, porque cinco pessoas da minha família dependem de mim", disse.
Segundo o estudo da CBF, os funcionários de clubes de futebol representam 33% dos 156 mil empregos gerados pela modalidade no Brasil. A maior parcela da força de trabalho, 55% do total, atua em estádios em dias de jogos, principalmente na venda de alimentos e bebidas. Esse contingente aguarda o calendário ser retomado para poder voltar a trabalhar.
"O futebol, eu costumo falar que é a maior empresa do mundo, porque tem em todos os países e tem milhares de pessoas que vivem dele", brincou o supervisor de futebol do Atlético-GO, Junior Murtosa.
Há 15 anos no clube, ele coordena uma equipe de mais de 130 funcionários. "Para um time entrar em campo, precisa desde a comida ser preparada, do uniforme estar lavado até a manutenção do hotel do time estar bem-feita", completou.
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