segunda-feira, 13 de abril de 2020

Academias de pesquisa condenam uso indiscriminado de cloroquina

Entidades salientaram riscos de utilização de fármaco que não tem eficácia comprovada

Médicos e pesquisadores alertam para efeitos colaterais e eficácia não comprovada

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia Nacional de Medicina (ANM) divulgaram neste domingo uma nota conjunta na qual condenam o uso indiscriminado da cloroquina (CQ) e da hidroxicloroquina (HCQ) no tratamento da Covid-19, sob a alegação de que a prática “não esta apoiado em achados científicos robustos”. A nota ressalta ainda que efeitos colaterais significativos foram constatados como arritmia cardíaca, toxicidade hepática e problemas de visão.
Sessenta e cinco estudos científicos investigam efeitos da cloroquina contra coronavírus e só três foram finalizados. O presidente, Jair Bolsonaro, é um dos maiores entusiastas do uso desses medicamentos. Ele já defendeu a adoção dessa terapia em cadeia nacional, ao mesmo tempo em que condenou as políticas de isolamento social adotadas pelos governos e prefeituras. “Achamos que era importante fazer esta nota porque persistem algumas informações circulando sem evidência cientifica adequada e isso leva a uma confusão da população com sofrimento e expectativas irreais”, afirmou o presidente da ANM, Rubens Belfort, que assina a nota juntamente com o presidente da ABC, Luiz Davidovich.
“É óbvio que todos nós gostaríamos muito que esses remédios fossem comprovadamente de sucesso. Porém, na fase atual, não existem informações muito fortes e a população enganada por isso pode deixar de dar prioridade ao mais importante neste momento que é o afastamento social e o uso de máscaras.”
No texto, os dois especialistas lembram que, a partir de algumas constatações in vitro, estão sendo desenvolvidos estudos clínicos com o objetivo de confirmar a eficácia do tratamento desses medicamentos na covid-19, mas que, até agora, nada de conclusivo foi encontrado. “Alguns desses estudos, testando poucos pacientes, encontram-se publicados até este momento e são, portanto, preliminares”, ressalta a nota. “Os resultados desses estudos preliminares são controversos. Alguns estudos sugerem boa eficácia em alguns parâmetros clínicos (nenhum deles indica a melhora de sobrevida) e outros sugerem inclusive risco a saúde dos pacientes com covid-19 que usaram a medicaçao. Não há, portanto, qualquer evidencia comprovada clinicamente do benefício do uso da CQ ou HCQ e há relatos de efeitos colaterais potencialmente significativos.”
As academias de medicina e ciências lembram ainda que, além da necessidade de prova cientifica da eficácia clínica dos medicamentos no tratamento da covid-19, há outras questões importantes que seguem em aberto, como o esquema de tratamento e o período do ciclo da doença em que eles deveriam ser empregados. A nota lembra ainda que a experiência científica já demonstrou mais de uma vez que o uso precipitado de um medicamento baseado apenas em resultados preliminares, “pode trazer consequências graves e irreparáveis para a população”, além de impactar negativamente no avanço dos estudos de outros compostos eventualmente mais eficazes. Notícias relacionadas

Estadão Conteúdo e Correio do Povo

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