sexta-feira, 10 de abril de 2020

A falta que o trabalho faz



Em sua coluna dessa semana, Fabiana Mendonça Machado analisa o papel do trabalho em meio a pandemia de COVID-19

Inúmeras incertezas e duas grandes preocupações: saúde e dinheiro. É só o que temos ouvido nos últimos dias. Com um olhar um pouco além, convido você a refletir sobre o que há por trás: o trabalho. Enquanto uns trabalham para salvar vidas, muitos necessitam voltar ao trabalho porque a vida não pode parar.
O trabalho é uma necessidade, independente de esforço, de equipe ou de dinheiro. O que importa é o resultado. Mas qual resultado?
Trabalhamos para o provento, para o sustento, para suprir as necessidades e os desejos. Fazemos uma troca, um escambo, ou substituímos por dinheiro. Foi a escolha que fizemos no passado. Dinheiro facilita a circulação do comércio e serviços. E tudo flui. Mas, se o dinheiro falta, vem a preocupação e, logo, o desespero. Em desespero, é difícil raciocinar.
Ao contrário, cobramos a conta. Há alguém para nos salvar? Buscamos amparo, apoio dos próximos ou distantes, mas, nessa hora, é difícil saber onde encontrar a resposta. Muito menos entender o que se passa com as nossas emoções, diminuir a ansiedade, não se desesperar com o medo e conter a raiva. Pra quê?
Afinal, é chato esse assunto de ter que lidar com as emoções. Apenas trabalhe, trabalhe, trabalhe e procure ganhar dinheiro com isso. Ou seja esperto e inteligente o suficiente para ganhar dinheiro sem trabalhar. Nesse contexto, infelizmente, quem ganha pouco carrega um atestado de fracasso e incompetência durante toda a vida. E está sempre na luta.
Mas, de repente, surge um cenário nunca imaginado. E o pior: incerto. Como ficará a saúde e o dinheiro, quais as medidas, por quanto tempo e quais as consequências? Não se sabe. Mas vem à tona uma grande necessidade: a de trabalhar urgentemente.
Voltamos ao início: trabalhar é uma necessidade. Atualmente, para socorrer os doentes, para encontrar a cura, para produzir equipamentos e remédios, para construir hospitais de campanha, para cuidar de quem precisa de cuidado, para entregar alimentos e remédio à população, enfim, para proteger vidas.
Trabalhamos porque precisamos do resultado, mesmo que seja o dinheiro, porque esse irá nos proporcionar outros resultados: comida, conforto, segurança, saúde, prazeres, etc.
Trabalhamos porque o outro precisa de nós. Mesmo quem não precisa trabalhar pelo dinheiro, pode ser útil em algo para ajudar. Se não tivesse trabalho, como o mundo estaria sendo atendido? Além dos profissionais, há muitos voluntários. E enquanto alguns não podem trabalhar, outros trabalham por eles. Enfim, trabalhar, além de necessário, faz bem. (Confere a minha coluna sobre o valor de quem cuida).
Muitos empreendedores que geraram grandes fortunas trabalharam muito. E contaram com a colaboração de muitos trabalhadores. Porque o trabalho é necessário para alcançar o que deseja. E o dinheiro pode fazer muito mais do que suprir as próprias necessidades e desejos. Pode ajudar a salvar o mundo.
Já tive uma cliente preocupada com o filho que se interessava muito por dinheiro e sempre queria vender e negociar alguma coisa. Respondi: se ele tem essa facilidade em gerar dinheiro, não o condene. Apenas o oriente a fazer bom uso do dinheiro.
Talvez você não queira depender do trabalho para gerar dinheiro, mas o que impede de trabalhar? E por que trabalho é sinônimo de sofrimento?
O momento mostra que o corpo pode ser frágil diante de uma doença, mas é um valioso instrumento do trabalho, não apenas braçal, mas também intelectual. Com o trabalho, descobertas são feitas a todo momento, ideias são transformadas em produtos ou serviços, há inovação, aperfeiçoamento e mais benefícios são gerados à humanidade.
Como resultado do trabalho, recebemos conhecimento, ficamos conectados, viajamos a diversas partes do mundo, vivemos experiências, nos alimentamos, etc etc etc.
Melhor ainda quando utilizamos, além da mente, o coração, não apenas para ser solidário e ajudar o próximo, mas para realizar com amor, gratidão e dedicação o nosso trabalho.
Por estarmos diante de tantas incertezas e desordem, é possível perceber que ainda estamos aprendendo a organizar, respeitar e valorizar o trabalho. Ainda não nos habituamos a reconhecer o que fazemos e o que o outro faz. E a encontrar no trabalho a sua verdadeira utilidade.
Para a falta de dinheiro existirá um remédio, ainda que amargo.
Mas para o trabalho… talvez um dia não seja mais necessário. Enquanto isso não acontece, que ele possa ser valorizado em todas as suas formas e resultados porque, como vivemos, dele precisamos e a vida não pode parar.
Quer saber mais? Acompanhe a minha coluna semanal aqui no Bella Mais. Vamos juntas nesta jornada!

por Fabiana M. Machado
Fabiana Mendonça Machado é especialista em comportamento financeiro. É casada, mãe de dois filhos, empresária e uma das fundadoras da MoneyMind. Escreva para fabiana@moneymind.com.br para contar se este texto foi útil para você. @fabiana.m.machado



Correio do Povo

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