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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

O que os tiros em Cid Gomes dizem sobre a política da força e do medo



Por Paulo Polzonof


Cid Gomes tem 56 anos. Desde 2018, ele é senador da República pelo PDT. Formado em engenharia civil, ele foi ministro da Educação no governo de Dilma Rousseff e governou o Ceará por dois mandatos. Ah, e ele é também irmão do eterno presidenciável Ciro Gomes. Esse homem, cria de um Brasil patrimonialista, de um Estado personalista e de uma dinastia política indissociável da palavra “coronelismo”, quase provocou uma tragédia em seu reduto eleitoral, a cidade de Sobral.

Em meio a um motim de policiais militares que assola a cidade de 200 mil habitantes, o senador da República, que teoricamente (teoricamente!) deveria resolver conflitos na tribuna do Senado, munido de palavras, raciocínio lógico e poder de convencimento, subiu numa retroescavadeira, uma máquina com até 10 toneladas, e a lançou contra os amotinados. A retroescavadeira avançou por poucos metros e arrancou um portão de ferro. Cid Gomes estava prestes a causar uma tragédia quando alguém resolveu tomar uma atitude extrema.

Um dos policiais militares amotinados e mascarados sacou sua arma e disparou contra o senador Cid Gomes. Os dois tiros o atingiram no peito, mas milagrosamente desviaram dos órgãos vitais. Depois de uma noite na UTI tratando dos ferimentos, Cid Gomes já está na enfermaria, de onde gravou um vídeo assustadoramente eleitoreiro, levando em conta que ele quase perdeu a vida por uma sandice que poderia ter custado também a vida de outras pessoas.

Violência física e retórica

O confronto físico de Cid Gomes é muito simbólico dessa elite política brasileira que enche a boca para falar em democracia, Estado Democrático de Direito, paz social e outras abstrações virtuosas quando na tribuna do Parlamento, mas que não hesita em bancar uma espécie de sinhozinho com poderes divinos e absolutos na boleia de uma retroescavadeira. Vale repetir para que o ato tresloucado do nobre senador não seja banalizado: sem os tiros que, por sorte, não o mataram, Cid Gomes poderia ter provocado a morte de um, dois, dez policiais militares.

Cid Gomes, juntamente com seu irmão, Ciro, foram, nos últimos anos, protagonistas de vários episódios que mostram esse estranho pendor familiar para o confronto verbal e, às vezes, físico. Quando ministro da Educação, por exemplo, Cid Gomes ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados para, fiel ao estilo belicoso que lhe é característico, derrubar todos os protocolos e eventuais decoros, xingando os colegas deputados de “achacadores”.


Artigo completo aqui.










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