quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Confrontos entre hindus e muçulmanos deixam 20 mortos na Índia

Governador da capital quer que governo central decrete toque de recolher

Muitos trabalhadores abandonaram área e voltaram para vilarejos
Muitos trabalhadores abandonaram área e voltaram para vilarejos 

Ao menos 20 pessoas morreram e 189 ficaram feridas nos confrontos entre nacionalistas hindus e muçulmanos que começaram no domingo em Nova Délhi, segundo um balanço atualizado divulgado nesta quarta-feira. Estes são os piores confrontos em décadas em Nova Délhi.

O governador da capital do país pediu ao governo central que decrete toque de recolher e envie o exército à cidade. Homens armados com pedras, facas e armas de fogo provocam o caos desde domingo nas áreas periféricas de maioria muçulmana ao nordeste da capital indiana, a uma dezena de quilômetros do centro da cidade, onde moram trabalhadores migrantes pobres.

Os grupos armados hindus atacaram locais e pessoas identificadas como muçulmanas, informou a imprensa local. Os agressores gritam "Jai Shri Ram" ("Viva o Deus Rama"), de acordo com testemunhas. Nas redes sociais circulam vídeos que mostram um grupo de nacionalistas hindus subindo no minarete de uma mesquita para colocar a bandeira indiana. O principal hospital da zona registrou 20 mortes até esta quarta-feira.

"Há 189 pessoas hospitalizadas. Quase 60 pessoas foram feridas a tiros", declarou Sunil Kumar, diretor do hospital GTB. Os confrontos são motivados pela polêmica lei de cidadania, que para muitas pessoas é discriminatória em relação aos muçulmanos.

A nova lei facilita a concessão da cidadania aos refugiados, desde que não sejam muçulmanos. O texto cristalizou o temor de que os muçulmanos podem ser relegados a cidadãos de segunda categoria, em um país onde os hindus representam 80% da população. A lei provocou as maiores manifestações na Índia desde a chegada do primeiro-ministro Narendra Modi ao poder em 2014.

Arvind Kejriwal, o governador de Délhi, estado que inclui a a capital, considera a situação "alarmante" e pediu ao governo do primeiro-ministro Modi a adoção do toque de recolher e o envio de militares. "Apesar de seus esforços, a polícia não consegue controlar a situação e restaurar a calma", disse Kejriwal. A segurança em Délhi, território que dispõe de um estatuto particular, é responsabilidade do governo central.

O primeiro-ministro fez um pedido de paz e fraternidade aos habitantes de Délhi. "A paz e a harmonia são fundamentais para nosso espírito. Faço um apelo a meus irmãos e irmãs de Délhi para que mantenham a paz e a fraternidade a todo momento", afirmou Modi, um nacionalista hindu, em uma mensagem divulgada no Twitter. É importante que exista calma e que a normalidade seja restabelecida o mais rápido possível", acrescentou o primeiro-ministro.

Muitos trabalhadores migrantes começaram a abandonar o distrito dos confrontos para retornar a seis vilarejos. "Não há trabalho, vale mais a pena sair do que ficar. Ficar aqui para morrer?", afirmou um alfaiate que pretende voltar a seu vilarejo natal, no estado vizinho de Uttar Pradesh. "As pessoas estão se matando. Há tiros", completou. A explosão da violência coincidiu no domingo com o início da visita do presidente americano Donald Trump, que terminou na terça-feira.


Correio do Povo

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