Ex-senadora evita se colocar de volta à disputa presidencial e cobra quem não está nos extremos do espectro político para construção de alternativa. Ex-senadora e candidata à presidência da República nas últimas três eleições, Marina Silva vê a divisão entre lulismo e bolsonarismo como o "cúmulo do empobrecimento" da polarização que marca a história do país. "Não há uma disputa em torno de projeto ou concepção de governo", afirma. "Isso vai se espraiando e de repente a gente começa a ver a polarização entre amigos e familiares. As pessoas não conseguem perceber que isso foi engendrado porque beneficia os que têm a lógica do poder pelo poder e acabou nos cidindo. A gente tem que se insurgir contra isso". Em entrevista ao diretor de redação de VEJA Maurício Lima, no programa Páginas Amarelas em Vídeo, a ex-senadora evita, entretanto, se colocar de volta à disputa pela Presidência da República em 2022. "Nesse momento tem que ter um esforço dos que não estão nos extremos, nem do lulismo e do bolsonarismo, para tentar construir algo que faça com que o Brasil recupere a credibilidade do processo político como a única forma de resolver os nossos problemas. E isso não vai ser em torno de projeto de poder, mas em torno de uma visão de país que considere a preservação ambiental, acabar com as iniquidades sociais e o respeito à diversidade cultural e aos direitos humanos." Ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, no governo Lula, Marina Silva sobe o tom para criticar as políticas adotadas pela gestão de Bolsonaro — especialmente no setor. "É a primeira vez que temos um ministro que é antiambientalista e trabalha dioturnamente para eliminar o que existia", afirma. "Não tem como opor meio ambiente e desenvolvimento. As duas coisas fazem parte da mesma equação. Setenta por cento do PIB da América do Sul depende das chuvas produzidas pela Amazônia. A Embrapa já desenvolveu tecnologia que faz com que a gente triplique a nossa produção sem precisar derrubar mais uma árvore", acrescenta. Evangélica, Marina também se incomoda com o que chama de "instrumentalização da fé" na política. "É muito triste quando ouço as pessoas dizendo que há a bancada da bala, da Bíblia e do boi. O que é que tem a ver a Bíblia com a bala? No lançamento do partido do presidente tinha uma arte feita de bala. O número é 38, que também evoca uma arma de fogo, e ficam misturando isso com Jesus Cristo. As pessoas dizem 'conheceis a verdade a verdade vos libertará' e, de forma leviana, que quem derramou o petróleo foi o Greenpeace e que quem colocou fogo na Amazônia foram as ONGs. Onde está a verdade que liberta em tudo isso?", questiona.
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