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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Polícia investiga se suposto desvio dinheiro na FCDL ocorria há 13 anos

Operação deflagrada nesta sexta cumpriu sete mandados de busca e apreensão

Sede da entidade, no Centro da Capital, foi investigado

Sede da entidade, no Centro da Capital, foi investigado | Foto: Guilherme Testa

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A 17ª Delegacia de Polícia deflagrou nesta sexta-feira uma operação para cumprir sete mandados de busca e apreensão em investigação de um suposto desvio de mais de R$ 10 milhões da Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas (FCDL), que seria cometido desde o início da gestão do atual dirigente, há 13 anos. O delegado Juliano Ferreira, explicou que, em outubro de 2018, foi protocolado no Ministério Público do Estado uma notícia-crime, assinada por dois vice-presidentes da própria entidade, após auditoria interna apontar “uma série de irregularidades praticadas pelo presidente”.

Nesta manhã, cerca de 60 agentes em 30 viaturas foram mobilizados para cumprir três ordens na Capital e quatro em Três Coroas, nas residências de sete investigados e nas sedes da entidade e de um estabelecimento de venda de vinhos. Houve o recolhimento de documentos, computadores, mídias e celulares, entre outros, para posterior análise, além do bloqueio judicial de contas bancárias, bens móveis e imóveis dos suspeitos e da empresa.

O Departamento de Polícia Metropolitana prestou apoio. Os crimes apurados são de estelionato, lavagem de dinheiro, organização criminosa, falsidade ideológica e falsidade documental. Ressaltando que a FCDL é a vítima, o titular da 17ªDP explicou que a entidade tem orçamento mensal em torno de R$ 1,5 milhão junto às cerca de 130 câmaras de dirigentes lojistas em todo o RS e também através de serviços prestados.

O esquema

Os desvios seriam basicamente na contratação de serviços não realizados e inexistentes bem como a compra de bens que não ocorreu. Em 2014, teria sido justificada a compra de mais ou menos R$ 700 mil de vinhos para eventos que nunca se realizaram e cujos vinhos nunca chegaram até a entidade. Os vinhos nunca existiram. “Os valores eram repassados para a empresa de vinhos de Três Coroas, criada só pára isso mesmo, e ela emitia recibos como se tivesse fornecido a bebida, sendo entregues ao presidente da FCDL”, observou o delegado, recordando que o dirigente é dono de uma loja na mesma cidade.

Segundo Ferreira, o trabalho investigativo teria comprovado o esquema por meio do “levantamento do sigilo bancário e fiscal” e também por depoimentos. Conforme o delegado Juliano Ferreira, o proprietário da empresa de vinhos colaborou com os policiais civis. “Ele deu dois depoimentos extensos. Ele sabia de tudo e resolveu colaborar. Desde o início, parte do contrato com a FCDL tinha de repassar por mês um percentual para o presidente”, revelou.

Os valores começaram com R$ 25 mil e terminaram em R$ 45 mil por mês. "A FCDL pagava e depositava na conta da empresa e do empresário que emitia recibos fraudulentos para justificar o pagamento. Esse dinheiro era retirado e entregue em espécie ao presidente”, esclareceu. Além do dirigente e da esposa, o inquérito aberto pela 17ª DP apura a atuação de dois funcionários administrativos da entidade e do empresário no esquema. “Tenho certeza que com a busca e apreensão, junto com análise da documentação, outras irregularidades serão comprovadas”, previu.

Ele estima que outras pessoas podem também ser alvo da investigação, acrescentando a possibilidade de mais empresas de fachada envolvidas. De acordo com o delegado Juliano Ferreira, a operação é “a finalização da parte não ostensiva” do trabalho investigativo. “Queremos buscar outros elementos probatórios para comprovar esses desvios, transferências bancária, saques de dinheiro…”, complementou.

Câmara se manifesta

Em nota oficial, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre fez questão de comunicar que não fazia parte da FCDL/RS desde 2010. "Entre os motivos apresentados estava o modelo de gestão da Federação que acarretava a retirada da liberdade de atuação das filiadas. Desde então, de forma autônoma, a CDL POA formou a sua Rede de Parceiras, constituída por 128 entidades, presentes em 207 municípios do RS. Para as associadas da CDL POA e entidades parceiras é disponibilizado, por meio da Boa Vista Serviços, o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), com abrangência nacional", informou.

Federação das Câmaras fala em perseguição política

"A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul – FCDL-RS, em razão dos fatos noticiados nesta manhã, em especial da operação da Polícia Civil deflagrada em relação à entidade e seu presidente, vêm a público prestar os seguintes esclarecimentos:

1º) As denúncias que ensejaram a operação policial ocorrida nesta data tem forte cunho político, conforme atestam as diversas atas de reuniões no âmbito interno da entidade, da sua diretoria, do Conselho Fiscal e assembleias, assim como ações judiciais ajuizadas e ocorrência policial registrada pelo presidente da Federação denunciando tentativa de extorsão, praticada por um dos denunciantes, diretor da entidade.

2º) A Federação informa também que não há nenhuma irregularidade ou quaisquer desvios de recursos no âmbito da Entidade, cujas contas foram aprovadas sem ressalvas pelo Conselho Fiscal, pela auditoria independente, pela contabilidade e pelas assembleias, das quais participaram os próprios denunciantes.

3º) A situação em que se vê envolvida a FCDL-RS decorre de um embate político instaurado por aqueles que perderam o último pleito eleitoral, aliados a membros opositores da atual diretoria.

4)A FCDL-RS está em contato com as autoridades para tomar conhecimento dos fatos e do teor do inquérito policial para que possa prestar maiores esclarecimentos ao Movimento Lojista e para a sociedade gaúcha.

5)A Entidade se coloca à inteira disposição da Polícia Civil, do Ministério Público, do Poder Judiciário, bem como de seus associados, para prestar todos os esclarecimentos que se fizerem necessários.

Porto Alegre, 29 de novembro de 2019.

Vitor Augusto Koch
Presidente da FCDL-RS"


Correio do Povo

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