sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Dólar cai a R$ 4,21 com BC e dados das exportações

Ibovespa fechou a sessão em terreno positivo, retomando os 108 mil pontos

Real teve o melhor desempenho ante moeda americana entre 34 divisas mundiais

Real teve o melhor desempenho ante moeda americana entre 34 divisas mundiais | Foto: Marcello Casal jr / Agência Brasil / CP

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O dólar fechou em queda nesta quinta-feira, interrompendo uma sequência de três altas consecutivas e sucessivos recordes históricos. Uma intervenção do Banco Central pela manhã e a revisão de dados pelo governo das exportações de novembro, anunciada na tarde desta quinta, ajudaram a estimular as vendas da moeda americana. O feriado nos Estados Unidos, porém, reduziu o volume de negócios. O dólar à vista fechou em baixa de 1,02%, a R$ 4,2153. Com essa queda, o real foi a moeda que teve o melhor desempenho ante o dólar em uma cesta de 34 divisas mundiais.

A moeda americana abriu em queda, mas no patamar de R$ 4,26. Logo pela manhã, o Banco Central fez venda de US$ 1 bilhão no mercado à vista, a quarta operação deste tipo na semana. Com isso, o dólar aumentou o ritmo de queda, mas seguiu no nível de R$ 4,25. A retração ganhou força pela tarde, quando começou a disputa entre investidores pelo referencial Ptax, usado em contratos de câmbio, que será definido nesta sexta-feira. Mas foi o anúncio pelo Ministério da Economia da revisão de dados das exportações de novembro que fez o dólar recuar para as mínimas do dia, a R$ 4,21.

Com a mudança, as exportações das quatro primeiras semanas deste mês passaram de US$ 9,7 bilhões para US$ 13,5 bilhões. "A balança comercial ficou bem mais favorável", afirma o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagen. Antes da revisão, economistas projetavam déficit comercial para novembro, o que seria o primeiro desde fevereiro de 2015.

Mais cedo, o BC fez o quarto leilão de dólar à vista em dois dias. A diferença do de hoje é que ele foi anunciado ontem à noite, enquanto os outros três foram surpresa. Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, o aumento da artilharia do BC mostrou bom impacto. "Não sei se o mercado esquece a quantidade de reservas que o BC tem, por volta dos US$ 370 bilhões, ou tem devaneios", comparou.

Após a disparada do dólar esta semana, o analista do banco suíço Julius Baer, Mathieu Racheter, vê espaço mais limitado para fraqueza adicional da moeda brasileira. Por isso, o banco elevou a recomendação do real para "bullish". O analista ressalta em relatório que "estruturalmente e em termos de fundamentos", a moeda parece atrativa nos níveis atuais. Um dos fatores que podem ajudar a retirar a pressão do câmbio brasileiro é a aceleração do crescimento da economia, ressalta Racheter.

Bovespa

Com liquidez reduzida pelo feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, o Ibovespa fechou a sessão em terreno positivo, pelo segundo dia, recuperando a linha de 108 mil pontos. O principal índice da B3 avançou 0,54%, aos 108.290,09 pontos, firmando-se em terreno positivo no meio da tarde, após ter permanecido em torno da estabilidade boa parte da sessão. Faltando apenas um dia para encerrar o mês, o Ibovespa acumula agora ganho de 1,00% em novembro, com avanço de 23,21% no ano. O giro financeiro hoje foi de R$ 12,8 bilhões.

O Ibovespa se firmou em alta e tocou máxima da sessão após significativa revisão dos dados referentes a exportações, que nas quatro primeiras semanas de novembro totalizaram US$ 13,498 bilhões, frente a US$ 9,681 bilhões inicialmente reportados para o período. A revisão contribuiu para mitigar um pouco os temores quanto a uma deterioração das contas externas, preocupação que dominou a primeira metade da semana, afetando em especial o câmbio e a curva de juros, mas se espraiando também para as ações.

Nesta quinta-feira, o Banco Central fez oferta de US$ 1 bilhão, a quarta intervenção desde a terça-feira no câmbio, o que contribuiu decisivamente para que a moeda americana fechasse hoje em queda de 1,02%, a R$ 4,2153, tendo oscilado entre mínima de R$ 4,2133 e máxima de R$ 4,2609.

"Quando a 'matriz' (EUA) fecha, fica bem devagar na 'filial' (Brasil), mas esta revisão das exportações ajudou a dar direção positiva ao Ibovespa, apesar do desempenho, moderadamente ruim, das ações de bancos", diz Luiz Roberto Monteiro, operador financeiro sênior da Renascença.

O setor financeiro, que responde por 25% da composição do Ibovespa, teve desempenho em geral negativo nesta quinta-feira, em razão da decisão do governo de impor limite aos juros do cheque especial, mas conseguiu restringir, ou mesmo reverter, as perdas observadas mais cedo.

A unit do Santander fechou em baixa de 1,76%, com Bradesco ON em leve perda de 0,10% e a preferencial em queda de 0,78%. A ação preferencial do Itaú Unibanco fechou o dia em baixa de 0,29%, enquanto Banco do Brasil ON subiu 0,55%.

Ante expectativa de forte desempenho nas vendas desta Black Friday, com estimativas de crescimento de dois dígitos, o setor de varejo e consumo esteve entre os vencedores do dia, com Via Varejo em alta de 3,87%, Pão de Açúcar, de 1,87%, e Lojas Americanas, de 3,14%.

Juros

Após passarem a manhã em alta moderada, na contramão do dólar, os juros inverteram o sinal e passaram a recuar no meio da tarde, na medida em que a moeda ampliou as perdas ante o real rumo aos R$ 4,21 e na esteira da revisão positiva do resultado das exportações até a quarta semana de novembro, anunciada pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a 4,69% tanto a sessão estendida quanto a regular, ante 4,749% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2020 passou de 4,675% para 4,665% (regular) e 4,655% (estendida). A do DI para janeiro de 2023 encerrou a 5,89% (regular) e 5,87% (estendida), de 5,991% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,87% a etapa regular e na estendida fechou na mínima de 6,84%, de 6,941% ontem no ajuste.

Ao contrário do que foi visto nos demais segmentos e do que se poderia esperar para um dia de feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, o giro de contratos no DI foi novamente fortíssimo, especialmente nos vencimentos de curto e médio prazos, que melhor captam as apostas para a Selic nos próximos meses.

Com a volta do dólar para perto dos R$ 4,20, que agora parece ser o "novo normal" do câmbio para o curto prazo, a expectativa de que o Copom vai seguir seu plano de voo e reduzir a Selic em 0,50 ponto porcentual em dezembro voltou a crescer. Esta percepção foi abalada nos últimos dias dada a estilingada da moeda e sinais de pressão inflacionária. Na curva a termo, a precificação de queda da taxa básica para o Copom de dezembro passou de 38 pontos-base ontem para 41 pontos, ou seja, de 65% de possibilidade de corte de 0,50 ponto e 35% chance de redução de 0,25 ponto. Ontem, esse quadro estava mais dividido.

A virada das taxas para queda se deu na última hora de negócios da sessão regular, após a Secex anunciar que corrigiu números das exportações do acumulado até a quarta semana do mês, que somaram US$ 13,498 bilhões. O dado divulgado originalmente era de US$ 9,681 bilhões. Com a correção, o saldo da balança comercial de novembro até a quarta semana do mês está positivo em US$ 2,717 bilhões, de um déficit acumulado de US$ 1,099 bilhão anunciado anteriormente.

Além da revisão da Secex, profissionais observam que o câmbio, que já tinha apreciação na etapa matutina, teve melhora adicional à tarde sem que o Banco Central realizasse intervenção extraordinária, a não ser aquela já anunciada ontem. Hoje, pela manhã, o BC vendeu US$ 1 bilhão em leilão no mercado spot.

Teria trazido ainda algum alívio à curva o resultado do julgamento do TRF-4 sobre a possibilidade de anulação da sentença do ex-presidente Lula no sítio em Atibaia. Os desembargadores não só não anularam as condenações como elevaram a pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro de 12 para 17 anos e um mês de prisão. "É um risco a menos. O TRF-4 deu um recado para o STF de que não vê suspeição de Moro", disse o gestor citado mais acima.


Agência Estado e Correio do Povo

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