Operação atendeu pedido do ministro do STF Gilmar Mendes
PF apreendeu uma pistola, um tablet e um celular no apartamento de Rodrigo Janot | Foto: Nelson Jr. / STF / CP
PUBLICIDADE
Um dia após afirmar ao jornal O Estado de S. Paulo que por pouco não executou um plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot foi alvo de ações de busca e apreensão executadas pela Polícia Federal em sua casa e escritório, em Brasília. A ordem foi dada nesta sexta-feira, pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que atendeu pedido feito por Gilmar para suspender o porte de armas de Janot e impedi-lo de entrar nas dependências do Supremo.
A PF apreendeu uma pistola, um tablet e um celular no apartamento de Janot. As ações de busca e apreensão foram decretadas no inquérito das fake news — aberto para apurar ameaças a ministros do STF e suas famílias — e, de acordo com Moraes, tiveram o objetivo de verificar a "eventual existência de planejamento de novos atos atentatórios" contra Gilmar. "O quadro revelado é gravíssimo, pois as entrevistas concedidas sugerem que aqueles que não concordem com decisões proferidas pelos ministros desta Corte devem resolver essas pendências usando de violência, armas de fogo e, até, com a prática de delitos contra a vida", observou Moraes.
Em entrevista ao Estado, Janot revelou que, em 2017, chegou a entrar armado com uma pistola no Supremo, decidido a matar Gilmar. "Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele e depois me suicidar", afirmou o ex-procurador. Duas equipes da Polícia Federal chegaram por volta de 17h40min na casa de Janot, no bairro Asa Sul. O ex-procurador acompanhou as buscas ao lado do segurança particular e de um morador chamado pelos policiais para servir de testemunha.
Além de suspender o porte de armas de Janot, de impedi-lo de entrar nos edifícios do STF e de barrar sua aproximação com ministros da Corte, Moraes também determinou o recolhimento imediato de depoimento do ex-procurador-geral, "salvo se houver recusa", "por tratar-se de direito do investigado ao silêncio'". Janot preferiu não depor.
Reações
O episódio e seus desdobramentos chocaram o mundo político e provocaram reações de perplexidade. Janot disse ao Estado que a intenção de atirar em Gilmar foi motivada por ataques que o ministro fez à filha dele. Quando era chefe do Ministério Público, Janot chegou a pedir a suspeição de Gilmar na análise de um habeas corpus do empresário Eike Batista, sob o argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório de Sérgio Bermudes. Ao se defender, o magistrado afirmou que a filha de Janot advogava para a empreiteira OAS em processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e poderia ser "credora por honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato".
A história aparece no livro de memórias Nada Menos que Tudo, a ser lançado pelo ex-chefe do MP em outubro. Na publicação, porém, Janot preferiu "não dar nome aos bois". Em tom irônico, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que "esse é o Brasil". Depois, disse que a revelação de Janot pode afetar os investimentos privados no País. "O Brasil é um país estranho. Cada dia é uma novidade. Hoje descobrimos que o procurador-geral queria matar um ministro do Supremo. Quem é que vai querer investir num país desse?", perguntou Maia, em um seminário na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, sobre parcerias público-privadas.
Agência Estado e Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário