Lados opostos apostam em desconfiança
Emoção mantém seguidores em alerta
Ideia é chegar com força à próxima eleição
Bolsonaro disse que dados sobre desmatamento na Amazônia eram 'mentirosos'. Lula insistiu que facada no então candidato à Presidência não existiuSérgio Lima/Poder360
PAULO SILVA PINTO
03.set.2019 (terça-feira) - 5h50
atualizado: 03.set.2019 (terça-feira) - 7h22
Nesta semana, dia 6 de setembro, faz 1 ano que Jair Bolsonaro sofreu uma facada em Juiz de Fora (MG), quando ainda era candidato à Presidência.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, deu uma entrevista à BBC Brasil na semana passada na qual voltou a insistir na crença de que a facada não existiu. Ele já havia dito isso em outra entrevista, em junho, para o UOL.
Mesmo perguntado sobre a impossibilidade de sustentar uma história inventada, com a conivência indispensável de tanta gente, Lula insistiu na tese.
Bolsonaro também nega fatos. Disse que os dados divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), uma instituição com reputação internacional, sobre o desmatamento da Amazônia eram “mentirosos”.
A sequência de fatos é conhecida: o diretor do centro de pesquisa, Ricardo Galvão, respondeu agressivamente ao que considerou uma ofensa do presidente e foi demitido. Seguiu-se toda a altercação com o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre o desmatamento da Amazônia.
Essa contestação de fatos, que beira o surreal, seria inimaginável no Brasil alguns anos atrás. A diferença é que, naquela época, não existia a polarização ideológica que vivemos hoje. A negação dos fatos é alimentada pela guerra ideológica e, ao mesmo tempo, se alimenta dela. Toca direto na emoção, e cria imensa energia a favor dos propósitos que se busca.
Especialistas na propagação de informações falsas dizem que o mais difícil não é identificar o que está errado. É conseguir convencer as pessoas da verdade.
Muitos brasileiros parecem decididos sobre o que é verdade ou não, pouco importando as evidências. Não é todo mundo assim, certamente. Mas é o caso dos mais empolgados defensores de cada 1 dos lados na disputa política e ideológica.
É compreensível, portanto, que os líderes políticos insistam em negar fatos, ou em tomar como verdade outros que não são comprovados. Eles são especialistas em sobrevivência.
O que importa é manter o ânimo de sua militância mais aguerrida. Aquela que está disposta a gritar em sua defesa. Sobretudo falar alto e intensamente do ponto de vista metafórico, nas redes sociais. É a boia que os manterá na superfície até a próxima eleição.
A insistência em negar os fatos só vai desaparecer, ou diminuir de intensidade, quando a polarização tiver perdido seu apelo na sociedade.
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Autores
Paulo Silva Pinto
Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), com mestrado em história econômica pela LSE (London School of Economics). No Poder360 desde fevereiro de 2019. Foi repórter da Folha de S.Paulo por 7 anos. No Correio Braziliense, em 13 anos, atuou com repórter e editor de política e economia.
Poder 360
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