Gaúchos planejam adiamento da convenção nacional e realização de prévias, mas enfrentam oposição dentro e fora do Estado
Por Flavia Bemfica
"Reforma da Previdência estará promulgada em outubro", disse a senadora em Porto Alegre | Foto: Pedro Tesch / MDB / Divulgação / CP
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Em pelo menos três reuniões realizadas desde a noite de domingo, lideranças do MDB gaúcho definiram qual será a estratégia para tentar emplacar o nome da senadora Simone Tebet (MDB/MS) como candidata ao comando nacional do partido, mas não conseguiram que ela anunciasse publicamente sua candidatura. O grupo estabeleceu como prazo o final desta semana para tentar articular um adiamento de pelo menos um mês na convenção nacional da legenda, marcada para 6 de outubro, e que ela seja antecedida pela realização de prévias com a participação de todos os filiados.
“Só vamos ter clareza deste movimento nos próximos cinco dias. Vamos ver qual a reação do grupo lá, se eles estão somando conosco, porque ninguém quer dividir o partido. Precisamos fazer um mea culpa, mas não queremos apontar dedo e nem olhar para trás”, disse Tebet, que presida da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, na manhã desta segunda-feira, em Porto Alegre, durante encontro promovido na sede estadual da sigla para tratar do assunto.
Por enquanto, a senadora tem apoio de parte do MDB gaúcho, por onde o movimento começou, dos estados de Santa Catarina e Paraná, que estavam representados na reunião por seus respectivos presidentes, Celso Maldaner e João Arruda. E de seu próprio estado, o Mato Grosso do Sul. Juntos, os quatro estados possuem 24,5% dos 425 votos da convenção nacional. O RS, maior colégio do país, tem 41, SC tem 32, o PR 21 e MS 10.
A pretensão de lançar Tebet, contudo, esbarra em alas e lideranças de peso dentro do partido. E em resistências no próprio diretório gaúcho. Nacionalmente, o líder da bancada do MDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi (MDB/SP), é apontado como franco favorito à sucessão do atual presidente, Romero Jucá. Ele é o preferido da bancada federal, onde já começaram as disputas sobre quem o deverá suceder na liderança. E tem apoio no atual comando após este ter visto naufragar a iniciativa de mudar o estatuto para que um governador (as apostas recaíam principalmente sobre Ibaneis Rocha, do Distrito Federal) pudesse assumir a presidência da sigla. SP, estado do deputado, tem 27 votos na convenção. Minas Gerais, apontada como aliada, tem outros 40.
Partidários da candidatura de Tebet no RS afirmam que a união em torno do nome de Baleia Rossi é mais uma ‘cartada’ do grupo que domina há décadas o comando nacional. E que o movimento não atende ao desejo de “refundação” do MDB como partido de centro, porque ele representaria “mais do mesmo”, já que é filho do ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi, aliado do ex-presidente Michel Temer. Já os críticos do nome de Tebet entre gaúchos argumentam que ela fala em refundação, mas que na prática é apoiada por antigos caciques. E que diz combater o fisiologismo, mas defende a participação da sigla no governo de Jair Bolsonaro (PSL), como fez na reunião desta segunda.
Posicionada ao lado do ministro da Cidadania, Osmar Terra, na mesa principal da reunião, Tebet usou argumentos conhecidos dos emedebistas para justificar as participações no governo: as qualificações pessoais e ‘o trabalho pelo bem do Brasil’. “O ministro está lá sim representando o MDB, mas não esse MDB fisiológico. Ele carrega a bandeira do MDB no governo, mas não está lá com o compromisso do MDB de apoiar o governo sejam quais forem as medidas que venha a tomar. A bancada no Senado, por exemplo, é independente, embora tenha um senador que foi escolhido para ser líder do governo. Alguns podem pensar que o que interessa é o novo. Eu repito que o que a juventude e o país precisam é do tradicional: são os costumes, os valores da ética, do trabalho e da história”.
Caciques x juventude no Rio Grande do Sul
Não tiveram o resultado esperado as articulações iniciais de parte do MDB gaúcho para que a senadora Simone Tebet (MS) assumisse uma candidatura ao comando nacional da sigla. Antes do encontro desta segunda-feira, caciques da sigla no Estado se reuniram, na noite de domingo, por mais de três horas na residência de Luís Roberto Ponte para fechar uma estratégia. Pela manhã, antes do encontro aberto ao público, fizeram uma nova rodada de conversações. E uma terceira no almoço e parte da tarde.
O ex-senador Pedro Simon não escondia sua contrariedade, após ter insistido, sem sucesso, para que Tebet se lançasse publicamente. Na manhã desta segunda, em público, a senadora disse que ele, Simon, é quem seria o mais indicado à função. Em outro momento do discurso, assinalou que não vai “fechar as portas do partido porque, se sou operária, sou operária para qualquer posição. Então não tem nada fechado”. Ao final, destacou que seu tempo ainda “é de semeadura, e não de colheita.” Parte do público, reunido para endossar o apoio à senadora, ficou confuso.
Enquanto Tebet falava, integrantes da Juventude do MDB discorriam, na plateia, sobre o que consideram uma tentativa de “Imposição dos caciques”. Porque a Juventude decidiu, em encontro realizado em 3 de agosto, em Gramado, lançar o deputado estadual Gabriel Souza à presidência nacional do partido. A maior parte das lideranças da chamada ‘velha guarda’ ignorou o movimento. E, em 19 de agosto, a executiva estadual nomeou uma comissão de ‘emedebistas históricos’, liderada por Simon, e integrada ainda por Ponte, Ibsen Pinheiro, José Fogaça e Cézar Schirmer, para articular um movimento pela renovação do comando nacional.
Na disputa, os ‘históricos’ assinalam que Souza também não representa de fato renovação, já que é afilhado político do ex-ministro Eliseu Padilha e, portanto, do grupo de Temer. “Na verdade eles querem é compor e ocupar espaço na executiva nacional, mas não representam uma mudança”, argumenta um dos interlocutores da comissão. “Respeitamos toda a história e todas as lideranças, mas discordamos do que está acontecendo aqui e reafirmamos que nosso candidato é o deputado Gabriel”, rebateu o presidente em exercício da Juventude do partido no RS, João Ricardo Vieira Oliveira.
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