Nunca estivemos tão conectados. Mas a maioria das pessoas sente algum grau de solidão – e isso pode ser tão letal quanto fumar 15 cigarros por dia.
Texto Bruno Garattoni e Ricardo Lacerda, com reportagem de Fernanda La Cruz
Ilustração Rafael Sica | Cores Yasmin Ayumi | Design Juliana Caro
Em 1973, o americano Robert King foi preso pela terceira vez. A polícia o levou para a cadeia de Nova Orleans, onde ele conheceu membros dos Panteras Negras: um grupo que misturava ativismo com violência e havia matado pelo menos três policiais nos EUA. King se juntou a eles numa greve de fome para exigir melhores condições carcerárias. Não conseguiu, e foi transferido para a Penitenciária Estadual da Louisiana, também conhecida como Angola (no século 19, lá ficava uma plantação onde trabalhavam escravos trazidos desse país). Ao chegar, foi colocado na solitária – na qual passaria os 29 anos seguintes. Foram três décadas incrivelmente, absurdamente, sozinho. King recebia as refeições por baixo da porta e só podia sair do cômodo, de 2×2,5 metros, uma hora por dia (quando ficava isolado numa gaiola de arame farpado, sem poder falar ou se aproximar dos outros presos).
Em 2001, aos 59 anos de idade, ele foi solto. Ao tentar se readaptar à vida em sociedade, descobriu que não conseguia mais reconhecer rostos nem seguir rotas para ir a algum lugar, e se tornou objeto de interesse da ciência – em novembro do ano passado, King foi convidado a contar sua história no congresso da Sociedade Americana de Neurociência. O caso dele é notável porque nunca um ser humano havia sido submetido a um período de isolamento tão longo e mesmo assim sobrevivido com lucidez para contar como foi. A solitária geralmente enlouquece suas vítimas, e há razões concretas para isso. Estudos com ratos de laboratório revelaram que um mês isolado deforma o hipocampo (região cerebral que coordena a formação de memórias), desregula a atividade da amígdala (ligada ao medo e à ansiedade), mata 20% dos neurônios do cérebro – e, após o primeiro mês, começa a destruir as conexões entre os que sobraram. Um mês representa bem mais tempo, na vida de um rato, do que um mês na vida humana. Mas, em ambos os casos, a conclusão é a mesma: isolamento prolongado tem conse-
quências neurológicas.
Ficar sozinho pode fazer muito mal. E não só para quem está trancafiado numa cela. Você já deve ter se sentido solitário, e sabe o quão desagradável isso é. A solidão pode ser objetiva, ou seja, derivada de um isolamento real, ou subjetiva, uma sensação criada pela mente (esse tipo de solidão se manifesta, por exemplo, quando nos sentimos sós mesmo estando cercados de outras pessoas). Em ambos os casos, ela é um alerta do organismo para que busquemos a companhia de outras pessoas, o que aumenta nossas chances de sobrevivência. Isso era tão verdadeiro na Pré-História (o homem das cavernas precisava da ajuda do grupo para caçar e se defender de predadores) quanto é no mundo de hoje – se você não fizer networking, fica muito mais difícil conseguir um bom emprego. A novidade é que, por motivos ainda não elucidados, a solidão parece estar aumentando – a ponto de se tornar uma epidemia. Nos EUA, nada menos que 76% das pessoas apresentam níveis moderados ou altos de solidão, segundo um estudo da Universidade da Califórnia1. Na década de 1980, cada americano tinha em média 2,94 amigos “do peito”. Em 2011, a média nacional havia caído para apenas 2,03 amigos próximos. Na Inglaterra, 66% da população apresenta sintomas de solidão crônica; e quase 50% das pessoas acham que o mundo está ficando mais solitário.
Não há números a respeito no Brasil, mas os indicadores mais relevantes apontam na mesma direção. Entre 2004 e 2014, o número anual de divórcios aumentou 250% (12 vezes mais que o aumento no número de casamentos). Entre 1991 e 2019, a quantidade de pessoas que moram sozinhas subiu 340% (dez vezes mais que o crescimento da população como um todo).
Em suma: a solidão é onipresente, e está crescendo. O problema é que ela mata. Solitários têm 29% mais chances de sofrer de doenças cardíacas; 32% mais risco de ter um AVC; e são 200% mais propensos a desenvolver Alzheimer. Em mulheres solitárias, a reincidência de câncer de mama é 40% maior, e a propensão à letalidade chega a 60%. Quem já experimentou um grau elevado de solidão tem três vezes mais chances de cair em depressão2. Somando todos os fatores envolvidos, a solidão crônica (ela é medida pelo UCLA Loneliness Scale, teste que foi desenvolvido pela Universidade da Califórnia e você pode fazer no final desta página) aumenta em até 50% o risco de morrer, segundo uma pesquisa publicada pela psicóloga americana Julianne Holt-Lunstad, que analisou os dados de 148 estudos3.
A solidão é mais letal do que a obesidade (que eleva em 20% o risco de morrer) e o alcoolismo (30% a mais de risco), e consegue ser tão nociva quanto o tabagismo; é tão mortal quanto fumar 15 cigarros por dia. Mas quase ninguém se dá conta disso. “Apesar de estar associada a altos índices de mortalidade, a solidão é uma questão de saúde pública amplamente ignorada”, afirma a psicóloga Michelle Lim, do Centro de Pesquisas em Ciências Cerebrais e Psicológicas da Universidade de Swinburne, na Austrália, e especialista no assunto.
Mas como a solidão, um fenômeno psicológico, pode ter efeitos tão profundos sobre o resto do organismo, a ponto de matar? E por que ela se tornou uma epidemia no mundo moderno?
1. High prevalence and adverse health effects of loneliness in community-dwelling adults across the lifespan. Ellen E. Lee e outros, 2018.
2. Loneliness and social isolation as risk factors for mortality: a meta-analytic review. Julianne Holt-Lunstad e outros, 2015.
3. Social Relationships and Mortality Risk: A Meta-analytic review. Julianne Holt-Lunstad e outros, 2010.
(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
A vida sem afeto
Em 1966, o ditador romeno Nicolae Ceausescu proibiu a contracepção e o aborto, criando um sistema de premiação às famílias que procriassem. Para ele, quanto mais pessoas no país, melhor. Sem condições econômicas, porém, os pais não davam conta de criar os filhos. Milhares de recém-nascidos iam parar em orfanatos. Neles, uma pessoa cuidava de pelo menos 20 crianças. Não havia abraços ou sorrisos – e as relações afetivas eram paupérrimas. Quando esses orfanatos foram expostos ao mundo, em 1989, agentes estrangeiros de saúde encontraram crianças com 3 anos de idade que não choravam e não falavam. Além disso, alguns tinham apenas 30% do tamanho ideal e estavam muito atrasados em desenvolvimento motor e cerebral.
Guardadas as devidas proporções, o que aconteceu na Romênia encontra eco numa experiência feita por cientistas da Universidade James McGill, nos EUA, com ratos de laboratório4. Os pesquisadores formaram dois grupos de cobaias. No primeiro, as fêmeas tinham liberdade para cuidar de seus bebês. No outro, os filhotes tinham pouco contato com as mães – algo como as crianças romenas, que ficaram conhecidas como “órfãos de Ceausescu”. Os ratinhos que haviam passado a infância sozinhos apresentavam sinais de depressão e altos níveis de corticosterona, um hormônio liberado em situações de estresse. “Em humanos, o processo é semelhante”, diz o psiquiatra Pedro Antônio Lima, do Instituto do Cérebro da PUC-RS.
O isolamento social faz o corpo humano aumentar a produção de cortisol, um hormônio similar à corticosterona. E isso, como mostrou um extenso estudo publicado pelo neurologista John Cacioppo, da Universidade de Chicago5, tem dois grandes efeitos sobre o organismo. O primeiro, ainda não plenamente compreendido, é enfraquecer o sistema imunológico. O cortisol aumenta a quantidade de neutrófilos, um tipo de glóbulo branco, e diminui o de linfócitos (outra categoria de células de defesa). Isso possivelmente desequilibra o sistema imunológico. O outro efeito do cortisol é aumentar o grau de inflamação nos tecidos do corpo. A longo prazo, isso danifica os órgãos e pode estar relacionado ao surgimento de diabetes, aterosclerose (endurecimento das artérias), doenças neurológicas e até na transformação de tumores em metástases.
Além disso, a rejeição e a falta de contato social atingem as mesmas regiões do cérebro ativadas pela dor física. Foi o que constataram pesquisadores da Universidade do Kentucky, nos EUA, após fazer uma experiência com um jogo de computador chamado Cyberball. Na primeira etapa, o participante interage com outros jogadores, que lhe passam a bola. Na fase seguinte, o voluntário é excluído dessa troca de passes – sem saber que se trata de uma atitude proposital. Exames de neuroimagem revelaram que essa rejeição causava um aumento de atividade na ínsula anterior, região do cérebro que é ativada quando alguém está com náusea ou dor, e do cíngulo anterior, ligado à sensação da dor.
A descoberta foi tão surpreendente que os pesquisadores resolveram testar uma hipótese: se a dor da solidão atua no organismo tal qual a dor física, será que ela pode ser combatida com analgésicos? Então eles fizeram um estudo6 que avaliou o efeito do paracetamol em pessoas solitárias. 62 voluntários tomaram um comprimido ao acordar e outro ao dormir durante três semanas. Metade deles estava consumindo 500 mg do analgésico; os demais, placebo. Os participantes registravam seu estado de espírito em um diário. Quem ingeriu o medicamento teve menos solidão. É um resultado instigante, mas não significa que você deva se automedicar com paracetamol (ou qualquer outro remédio) quando estiver se sentindo só. Inclusive porque, em algum nível, a sensação de solidão independe de qualquer ação sua: você já nasce com ela.
Todo mundo precisa de convívio social – mas essa necessidade é diferente para cada pessoa. Tem gente que fica bem sozinha, e já se satisfaz com um pouquinho de interação com outras pessoas; e também há quem procure a companhia dos outros em todos os momentos possíveis, e se sinta solitário após poucas horas sem ela. Uma pesquisa liderada pelo psiquiatra Abraham Palmer, da Universidade da Califórnia7, analisou o genoma e o comportamento de 10.760 voluntários e fez uma descoberta inédita: a genética de uma pessoa é responsável por 14% a 27% do grau de solidão que ela sente. Outro estudo do tipo, feito na Holanda, acompanhou 513 pares de irmãos gêmeos durante duas décadas8 e chegou a um número mais alto: segundo ele, a genética determina 48% do grau médio de solidão que cada pessoa experimenta durante a vida. Os dados divergem, mas apontam na mesma direção. Sim: como praticamente tudo o que é humano, a solidão tem um pé no DNA. E ela não está só escrita nos nossos genes. Também pode ser capaz de fazer algo ainda mais impressionante: interferir com eles.
4. Epigenetic programming by maternal behavior. Michael Meaney e outros, 2004.
5. The Neuroendocrinology of Social Isolation. John Cacioppo e outros, 2015.
6. Acetaminophen reduces social pain: behavioral and neural evidence. CN Dewall e outros, 2010.
7. Genome-wide association study of loneliness demonstrates a role for commonvariation. Abraham Palmer e outros, 2017.
8. Genetic and Environmental Contributions to Loneliness in Adults: The Netherlands Twin Register Study. D. Boomsma e outros, 2005.
(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
A epigenética da solidão
Hitler estava perdendo a guerra. O desembarque dos Aliados na Normandia, em junho de 1944, mudou a relação de forças na Europa. Parte da Holanda foi libertada, e os trabalhadores ferroviários no resto do país, que permanecia sob domínio alemão, decidiram entrar em greve. A ideia era atrapalhar a movimentação de tropas e suprimentos do exército nazista, e ajudar o avanço dos Aliados. Não deu certo. O país continuou sob as garras do Führer, e ele resolveu se vingar barrando a entrada de comida. Tinha início a Fome Holandesa, um dos episódios mais cruéis da história. Conforme os alimentos foram acabando, a ração diária caiu para níveis alarmantes: em fevereiro de 1945, cada adulto de Amsterdã tinha acesso a míseras 500 calorias por dia. A fome durou até o final da guerra, e afetou 4,5 milhões de pessoas. Mas as consequências persistem até hoje – porque afetaram o DNA do povo holandês.
As mulheres que estavam grávidas durante aquele período, e passaram fome durante a gestação, deram à luz filhos mais propensos a vários problemas de saúde de base genética, como obesidade e diabetes. Isso aconteceu por causa das chamadas alterações epigenéticas, um fenômeno que é desencadeado por fatores externos e tem o poder de alterar o funcionamento do DNA. Quando uma pessoa é exposta de forma crônica a certas coisas, como fome ou estresse, o organismo dela reage ligando e desligando conjuntos de genes. A sequência de “letras” que compõem o DNA não é reescrita; ela continua lá, inalterada. Mas algumas delas são metiladas, ou seja, se ligam a moléculas de radical metil (CH3). Isso altera o funcionamento daqueles genes, tornando-os mais ou menos ativos – e essas mudanças passam para os descendentes.
Como o povo holandês não tinha o que comer, os corpos das pessoas sofreram alterações epigenéticas que reduziram seu gasto calórico e os tornaram capazes de absorver mais gordura dos alimentos. E essas modificações, como comprovou um estudo publicado ano passado9, foram transferidas para os bebês nascidos naquela época. Experiências feitas em ratos de laboratório constararam que outros fatores além da fome, como estresse, sedentarismo ou obesidade, provocam alterações epigenéticas10que passam para os descendentes. Em tese, níveis crônicos de solidão também poderiam desencadear esse fenômeno – possibilidade que começou a ser discutida em 2015, em um artigo assinado por sete pesquisadores especializados na neurologia e na genética da solidão11. Mas será necessário fazer mais estudos para comprovar a tese.
E, mesmo se ela for comprovada, os fatores ambientais (como, onde e com quem uma pessoa vive) continuarão sendo determinantes. “Não é como se os genes de algumas pessoas pudessem forçá-las a ser solitárias. Eles influenciam”, diz Palmer, da Universidade da Califórnia. A sociedade é, e continuará sendo, o elemento crucial. Mas ela também está mudando – nem sempre para melhor.
9. DNA methylation as a mediator of the association between prenatal adversity and risk factors for metabolic disease in adulthood. Elmar Tobi e outros, 2018.
10. Implication of sperm RNAs in transgenerational inheritance of the effects of early trauma in mice. Isabelle Mansuy e outros, 2014.
11. The Genetics of Loneliness: Linking Evolutionary Theory to Genome-Wide Genetics, Epigenetics, and Social Science. Luc Goossens e outros, 2015.
(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
A ideologia de estar só
Somos animais sociais. Em estado selvagem, só conseguimos sobreviver se estivermos em grupo. Um tigre solitário se vira bem. Um humano desgarrado tende a virar comida do tigre. Por isso, nossos antepassados hominídeos desenvolveram um profundo senso de comunidade, que está impresso em nosso DNA. “A evolução selecionou genes que favoreciam o prazer da companhia, e produziam inquietude quando se estava sozinho”, afirma John Cacioppo, neurocientista da Universidade de Chicago e especialista no estudo da solidão.
Até a Idade Média, as salas das casas eram usadas para tudo: cozinhar, comer, receber convidados, fazer negócios e, à noite, dormir. (É por isso, aliás, que as peças de mobília se chamam móveis.) Mas a revolução industrial mudou tudo. “A casa se transformou num refúgio da individualidade”, diz José Machado Pais, sociólogo da Universidade de Lisboa e autor do livro Nos Rastros da Solidão: deambulações sociológicas. Isso pode ser notado no próprio nome que damos ao tipo mais comum de residência moderna: “apartamento”, palavra que significa “separação”. Na década de 1950, o sociólogo americano Robert Stuart Weiss já investigava os efeitos dos padrões modernos de trabalho e comportamento. “A perda dos encontros naturais rotineiros na varanda, nas ruas ou na drogaria da esquina tornam mais difíceis o intercâmbio de experiências e a resolução de problemas”, escreveu ele no livro Loneliness: the experience of emotional and social isolation, lançado em 1973. Weiss parecia saber o que estava por vir. A solidão física se propaga para as relações econômicas, e acaba contaminando até a cultura. Isso deu origem a uma espécie de ideologia da solidão, em que o individualismo é sinal de bom gosto, sucesso e bem-estar.
Depois piorou. As pessoas sempre dependeram umas das outras, e continuam dependendo. Mas essa relação está cada vez mais rasa e efêmera. “A interação no mercado e na economia de hoje geralmente tem vida curta, sem senso de obrigação como havia antes”, observa Victor Tan Chen, sociólogo da Virginia Commonwealth University e autor do livro Cut Loose – Jobless and hopeless in an unfair economy (“Cortado: sem emprego e esperança numa economia injusta”, não lançado no Brasil). Se antes as pessoas conheciam o jornaleiro da esquina, os motoristas do ponto de táxi e o dono da mercearia do bairro, hoje são atendidas por funcionários anônimos – ou por aplicativos. E quem está do outro lado, dirigindo Uber ou entregando comida do iFood, também não conhece as pessoas que está atendendo. Na cidade grande, ninguém conhece ninguém.
E mesmo entre as pessoas que conhecemos, a distância tende a aumentar – pois temos cada vez menos pontos em comum com elas. Você já deve ter reparado que as pessoas estão discordando cada vez mais, e de forma mais intensa. E os poucos pontos em que muita gente concorda (como “a exposição da Tarsila do Amaral no Masp é imperdível”, ou qual a série mais legal do momento no Netflix, por exemplo) são rapidamente descartados, sucedidos por outras novidades culturais. Não duram tempo bastante, ou carregam peso suficiente, para construir ou fortalecer vínculos sociais. Antes você ficava amigo das pessoas que gostavam de ouvir e ver as mesmas coisas que você. Hoje, há muito mais opções culturais – e, inevitavelmente, menos pontos de convergência entre elas. É maravilhoso ter opções. Mas isso também possui um lado negativo, que é possuir cada vez menos coisas em comum com os outros. “Quando uma pessoa percebe que deixou de ter significado para os outros, ela se descobre em solidão”, diz Machado Pais.
Estamos mais sozinhos. Mas o corpo e a mente continuam precisando de companhia. “Por mais saudáveis e tecnológicas que as nossas sociedades tenham se tornado, sob a superfície somos as mesmas criaturas vulneráveis que se aconchegavam juntas contra o terror das tempestades 60 mil anos atrás”, diz Cacioppo. Somos só um bando de primatas assustados. Mortos de medo de ficar sozinhos, e do mundo solitário que acabamos construindo.
Nem sempre percebemos isso. E então vamos vivendo sem dar muita atenção aos outros, fumando 15 cigarros metafóricos por dia, morrendo aos poucos sem saber. Um destino terrível. Mas há alguns caminhos para escapar dele. Se você se sente só, o primeiro passo é admitir isso. Vale também buscar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra para entender os eventuais motivos pessoais, e profundos, que podem ter levado você a essa situação (como ansiedade ou depressão, por exemplo).
De toda forma, segue aqui uma dica que serve para todos os humanos: pare e pense nos sentimentos que você tem em comum com as outras pessoas. A começar por este: elas, assim como você, também estão se sentindo meio isoladas. Percebeu? Todo mundo anda meio solitário – e, exatamente por isso, você não está sozinho.
(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
O homem mais solitário do mundo
Ele não tinha ninguém com quem falar. Mesmo.
Em 1904, depois de visitar o Congo, um missionário americano levou para os EUA o pigmeu congolês Ota Benga, um membro do povo batwa. A ideia era exibi-lo na Feira Mundial de Saint Louis e depois mandá-lo de volta. Antes de retornar para casa, contudo, o rapaz recebeu a notícia de que sua tribo havia sido dizimada. Ele era o último dos batwas, para sempre e no planeta inteiro.
É difícil até imaginar o grau de solidão que Ota deve ter sentido. Mas a resposta que o mundo deu a ele com certeza a tornou ainda maior. O pobre pigmeu foi levado para o Zoológico do Bronx, em Nova York, onde virou atração ao lado de chimpanzés. Diariamente, mais de 40 mil pessoas conferiam in loco aquela “criatura” exótica que passava o tempo atirando flechas num horizonte perdido.
O pigmeu desenvolveu um comportamento errático. Acabou libertado do zoológico, mas nunca se encaixou em nenhum lugar, transitando entre orfanatos e lares adotivos. Seus dentes pontudos, afiados seguindo a tradição batwa, chegaram a ser cobertos com capas. Doze anos depois do exílio, e sem nenhuma perspectiva de retornar ao Congo, Ota Benga arrancou a capa que cobria seus dentes, acendeu uma fogueira ritualística e se matou com um tiro no coração. A vida não fazia sentido daquele jeito.
John Cacioppo, neurocientista da Universidade de Chicago, comenta o caso em seu livro Solidão – A natureza humana e a necessidade de vínculo social. Para ele, o isolamento elimina a sensação de propósito da vida de qualquer pessoa. “Os resultados disso podem ser devastadores não apenas para os indivíduos, mas também para as sociedades”, escreve.
(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
Teste: qual o seu grau de solidão?
Descubra com o UCLA Loneliness Scale, teste criado pela Universidade da Califórnia e adotado como padrão nos estudos sobre o tema. Vá somando a sua pontuação e confira o resultado no final.
1. Você se sente infeliz ao fazer coisas sozinho(a)?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
2. Você sente que não tem ninguém a quem recorrer?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
3. Você acha insuportável ficar sozinho?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
4. Você sente que ninguém te entende?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
5. Você fica esperando as pessoas responderem às suas mensagens?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
6. Você se sente completamente só?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
7. Você tem dificuldade em falar com as pessoas em volta?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
8. Você sente falta de companhia?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
9. Você tem dificuldade em fazer amizades?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
10. Você se sente excluído pelas outras pessoas?
Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
RESULTADO
20 a 24 pontos Normal
25 a 29 pontos Solidão moderada
30 ou mais pontos Solidão intensa
Superinteressante
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