(The Economist - O Estado de S. Paulo, 28) Hosni Mubarak uma vez desconectou a internet para desestimular protestos. Então, o que aconteceu com um de seus maiores apoiadores online é irônico. Karim Hussein compartilha fotos e vídeos do ex-ditador com os 3 milhões de seguidores na página “Sinto muito, Senhor Presidente” do Facebook. Muitos de seus posts são sutilmente políticos, como uma lista explícita das razões pelas quais os egípcios queriam derrubar Mubarak em 2011: uma moeda estável; dívida externa administrável; turismo próspero. Todos itens da lista pioraram desde a revolução.
Hussein também escreveu que o ex-presidente permitiu uma imprensa livre. Isso foi um exagero. Mas o atual presidente, Abdel Fattah al-Sissi, não tolera nem mesmo as limitadas liberdades políticas de seu antecessor. Em 9 de julho, a polícia prendeu Hussein por suspeita de “espalhar notícias falsas”.
Em 2011, quando a revolta popular acabou com o regime de 30 anos de Mubarak, seria difícil imaginar tal nostalgia. Muitos egípcios achavam que seu país estava à deriva, liderado por um velho que não estava à altura do trabalho. Eles zombaram de seu comportamento trêmulo, chamando-o de “la vache qui rit”, a vaca que ri, uma marca francesa de queijo processado com um bovino radiante na caixa.
Oito anos depois, poucos egípcios veem o passado através de lentes corde-rosa. As pessoas comuns se lembram de um presidente que apoiava um esquema de subsídios que mantinha os preços baixos. Os desalentados remanescentes da sociedade civil do Egito sentem falta da relativa abertura.
Mubarak deu um pouco de espaço à oposição, como uma válvula de segurança e algo para aplacar o Ocidente. Sissi aumentou as execuções e persegue até aos próprios seguidores que saem da linha. “Eles eram profissionais. Agora, são amadores”, disse um ativista sobre os que estão no poder.
As reações exageradas do atual governo do Egito contra dissidentes são sinais de sua fraqueza
Mubarak e seus filhos alimentaram a nostalgia ao retornar aos olhos do público. Em maio, o ex-presidente deu uma rara entrevista a um jornalista do Kuwait. A discussão foi predominantemente sobre assuntos estrangeiros. Ele defendeu a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, e os esforços de Donald Trump pela paz entre israelenses e palestinos. No entanto, isso o colocou de volta em seu papel preferido de o mais bem viajado estadista idoso.
Seu filho mais velho, Alaa, também se tornou mais visível. Ele aparece em fotos nas mídias sociais, jogando gamão em humildes cafés e jantando em El Prince, um local popular no distrito Imbaba, da classe operária, famoso por amontoar porções de fígado frito e outras generosas refeições.
Perseguição. Tudo isso parece irritar Sissi. No dia 26 de junho, Alaa foi fotografado torcendo pelo Egito em uma partida de futebol da Copa da África, no Cairo. As autoridades revogaram seu cartão de identificação de fã logo depois, impedindo-o de assistir a futuras partidas. No mês passado, ele tuitou críticas a um ministro que brincou dizendo que aqueles que falam mal do Egito deveriam ter suas gargantas cortadas.
Um jornal subserviente logo acusou o filho de Mubarak de ligações com a banida Irmandade Muçulmana. Samir Sabri, um hiperativo advogado pró-governo, processou Alaa por “solidariedade com um grupo terrorista”.
Isso parece irracional. Ninguém realmente espera que Alaa desafie Sissi. Seu patrimônio não o protegeria – mesmo um ex-chefe do Exército, que ocupou a presidência no ano passado, foi preso. Mas o público ressentiu-se com Sissi, que carece de um partido político e de aliados de confiança (ironicamente, seus próprios filhos são assessores cada vez mais poderosos).
“Mubarak tinha um regime. Sissi tem a si mesmo”, disse um ativista. As reações exageradas do governo são sinais de sua fraqueza, não da força de Mubarak. Por coincidência, desde o mês passado, a EgyptAir não serve mais queijo processado em suas refeições a bordo.
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