Reportagens publicadas pelo Intercept mostram que ex-juiz combinou estratégias de investigação para implicar o ex-presidente Lula em atos criminosos
Por EXAME Hoje
Moro (Rafael Marchante/Reuters)
São Paulo — A noite de domingo trouxe uma notícia com potencial explosivo para o futuro da Lava Jato e para o ambiente político. Pouco depois das 20h o Ministério Público Federal divulgou nota afirmando ter sido vítima de um ataque hacker. A notícia não faz referência direta, mas veio a público pouco depois de uma reportagem exclusiva colocar a Lava Jato contra a parede.
Segundo o site Intercept, do jornalista Glen Greenwald, quando era juiz federal, Sergio Moro combinou com Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Ministério Público Federal, estratégias de investigação para implicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em atos criminosos.
Numa das conversas, de outubro de 2015, Dellagnol e Moro conversam sobre soltura de Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht próximo a Lula.
“Estamos com outra denúncia a ponto de sair”, escreve Dallagnol. “Seria possível apreciar hoje?”. Em outro trecho, o procurador elogia o juiz por manifestações populares pedindo o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em março de 2016.
O Intercept cita conversas mantidas por Moro e Dallagnol no aplicativo de mensagens Telegram. Novos detalhes ainda devem vir à tona, mas a reportagem tem repercutido entre os principais atores políticos do país e analistas.
Segundo Fernando Haddad, candidato do PT às eleições de 2018, é “o maior escândalo institucional da história da República”.
Fernando Haddad
✔@Haddad_Fernando
Podemos estar diante do maior escândalo institucional da história da República. Muitos seriam presos, processos teriam que ser anulados e uma grande farsa seria revelada ao mundo. Vamos acompanhar com toda cautela, mas não podemos nos deter. Que se apure toda a verdade!
57,4 mil
19,5 mil pessoas estão falando sobre isso
Sérgio Praça, professor da FGV e colunista de EXAME, afirma que as conversas desrespeitam a neutralidade do Judiciário e podem acabar levando à renúncia de Moro, atual ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro.
Em nota, o Ministério Público afirma que “os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial”.
Às 20h49, Deltan Dallagnol foi ao Twitter. “A atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do ‘hacker’ para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações atende a interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava Jato”, escreveu.
· 13h
“Os procuradores da Lava Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”. http://bit.ly/2WzFTio
Força-tarefa informa a ocorrência de ataque criminoso à Lava Jato
Procuradores mostram tranquilidade quanto à legitimidade da atuação, mas revelam preocupação com segurança pessoal e com falsificação e deturpação do significado de mensagens
mpf.mp.br
“A atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do “hacker” para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações atende interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava Jato”.
19 mil
8.380 pessoas estão falando sobre isso
A reportagem do Intercept, e seus desdobramentos, têm potencial de mexer com os mercados a partir desta segunda-feira. Segundo conteúdo divulgado pela XP, a Lava-Jato sofreu seu ataque mais importante até aqui. Porém, segundo a corretora, “há que se considerar para o debate jurídico que o material revelado é fruto de ação ilegal”.
Veja também
“Jair Bolsonaro vai ter que tomar cuidado extremo nas suas próximas declarações sobre seu ministro”, afirma a XP. “O próprio Moro terá que descobrir como falar sobre o assunto com a imprensa, sob o risco de se tornar alvo de uma corrida investigativa caso erre a mão”.
A XP afirma ainda que o PT “vai usar isso como mola propulsora da greve geral convocada para 14/6. Para a militância petista o ‘Lula Livre’ ganha um fôlego importante”.
Em nota à imprensa, Moro afirma que as mensagens foram tiradas de contexto. “Sobre supostas mensagens que me envolveriam publicadas pelo site Intercept neste domingo, 9 de junho, lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site que não entrou em contato antes da publicação, contrariando regra básica do jornalismo.
Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”
Exame
Nenhum comentário:
Postar um comentário