segunda-feira, 3 de junho de 2019

PREENCHER O VAZIO POLÍTICO!

(Fernando Henrique Cardoso - Estado de S.Paulo, 02) No mês passado o PSDB, em con­gres­so na­ci­o­nal, ele­geu no­va di­re­ção, que te­rá ta­re­fa pe­sa­da: atu­a­li­zar as di­re­tri­zes e, prin­ci­pal­men­te, as prá­ti­cas do par­ti­do. Is­so no mo­men­to em que o Bra­sil pas­sa por uma tem­pes­ta­de e re­quer re­no­va­ção. Com efei­to, na re­cen­te elei­ção pre­si­den­ci­al a mar­re­ta ce­ga da His­tó­ria des­truiu o que já es­ta­va nos es­com­bros: o sis­te­ma po­lí­ti­co e par­ti­dá­rio cri­a­do a par­tir da Cons­ti­tui­ção de 1988, que com o tem­po se foi de­for­man­do. O País per­ce­beu que as ba­ses de sus­ten­ta­ção do sis­te­ma par­ti­dá­rio e elei­to­ral es­ta­vam em de­com­po­si­ção. Or­ga­ni­za­ções em­pre­sa­ri­ais, par­ti­dos e seg­men­tos da so­ci­e­da­de ci­vil cha­fur­da­vam na teia es­cu­sa da cor­rup­ção pa­ra sus­ten­tar o po­der e ob­ter van­ta­gens.
Po­de ter ha­vi­do in­jus­ti­ças e exa­ge­ro da par­te de de­la­to­res e mes­mo de “sal­va­do­res da pá­tria”. Mas o cer­to é que as más prá­ti­cas atin­gi­ram o cer­ne do sis­te­ma de po­der e le­va­ram o po­vo à des­cren­ça. O go­ver­no atu­al nas­ceu des­se sen­ti­men­to e da in­se­gu­ran­ça pe­la pre­sen­ça cres­cen­te do cri­me or­ga­ni­za­do e da fal­ta de bem-es­tar, agra­va­da pe­la cri­se econô­mi­ca. A cam­pa­nha foi ple­na de ne­ga­ti­vi­da­de: não à cor­rup­ção, não ao cri­me, não ao “sis­te­ma”. Mas ra­la na po­si­ti­vi­da­de so­bre o que fa­zer pa­ra cons­truir um sis­te­ma po­lí­ti­co me­lhor.
Re­co­nhe­cer es­ta re­a­li­da­de im­pli­ca fa­zer o mea-cul­pa da par­te que ca­be aos po­lí­ti­cos do “ve­lho sis­te­ma”. Mais do que is­so, re­cons­truir a cren­ça em me­ca­nis­mos ca­pa­zes de re­for­çar a de­mo­cra­cia e le­var o País a um cres­ci­men­to econô­mi­co que pro­pi­cie bem-es­tar à mai­o­ria da po­pu­la­ção. Se­rá pos­sí­vel?
Es­sa é a ta­re­fa pe­sa­da dos que se de­di­cam à po­lí­ti­ca e não acre­di­tam que bas­ta o “ca­ris­ma” ou a men­sa­gem sal­va­do­ra de um de­ma­go­go. Pi­or ain­da quan­do a so­ci­e­da­de dis­põe dos mei­os de co­mu­ni­ca­ção pa­ra as pes­so­as se re­la­ci­o­na­rem sal­tan­do or­ga­ni­za­ções, par­ti­dos in­cluí­dos. O “mo­vi­men­to” é de­sen­ca­de­a­do pe­lo con­tá­gio even­tu­al pro­vo­ca­do por uma men­sa­gem que dis­pa­ra nas re­des. Bas­ta ver a dor de ca­be­ça que a úl­ti­ma gre­ve dos ca­mi­nho­nei­ros deu ao go­ver­no, que não ti­nha sin­di­ca­tos nem par­ti­dos com quem ne­go­ci­ar. Não de­ve ser di­fe­ren­te do que es­tá acon­te­cen­do na Fran­ça com o mo­vi­men­to dos “co­le­tes ama­re­los”.
O Es­ta­do e o po­der do go­ver­no, con­tu­do, não se co­a­du­nam com es­tí­mu­los fre­quen­tes, às ve­zes er­rá­ti­cos, que par­tem das re­des so­ci­ais. Re­que­rem or­ga­ni­za­ção e al­gu­ma es­ta­bi­li­da­de pa­ra a im­plan­ta­ção de po­lí­ti­cas. Daí que, a des­pei­to de as so­ci­e­da­des atu­a­rem “em re­des”, os par­ti­dos e o pró­prio Es­ta­do con­ti­nu­em sen­do ne­ces­sá­ri­os à po­lí­ti­ca. Não os par­ti­dos “co­mo eram an­tes”, nem sem que ha­ja o re­en­can­ta­men­to da po­lí­ti­ca. Ár­dua ta­re­fa!
Com que mei­os pre­en­cher o va­zio po­lí­ti­co e evi­tar, ao mes­mo tem­po, o pre­do­mí­nio do me­ro ar­bí­trio dos po­de­ro­sos? Vê-se no dia a dia o de­sen­con­tro en­tre se­to­res do go­ver­no – os da área econô­mi­ca, os com ex­pe­ri­ên­cia da dis­ci­pli­na e dos va­lo­res mi­li­ta­res, os in­to­xi­ca­dos por ide­o­lo­gi­as re­tró­gra­das e os que ve­em cons­pi­ra­ções an­ti­cris­tãs, an­ti­o­ci­den­tais, etc. E, prin­ci­pal­men­te, en­tre o go­ver­no e par­tes da po­pu­la­ção. Dis­so de­ri­va a sen­sa­ção de que vi­ve­mos mo­men­tos de cri­se até mes­mo ins­ti­tu­ci­o­nal. Co­me­çam a apa­re­cer pro­pos­tas, umas tres­lou­ca­das (é só es­pe­rar e... ha­ve­rá mais um im­pe­a­ch­ment, ima­gi­nam), ou­tras mais ins­ti­tu­ci­o­nais (pre­pa­re­mo-nos pa­ra o... par­la­men­ta­ris­mo), e no meio tem­po, aos tran­cos e bar­ran­cos, a má­qui­na pú­bli­ca an­da, mas tão de­va­gar que dá a sen­sa­ção de es­tar qua­se pa­ran­do e o País per­den­do a cor­ri­da glo­bal.
Sem trom­be­te­ar alar­mis­mo e de­pois de re­co­nhe­ce­rem que fa­lha­ram, os par­ti­dos – em par­ti­cu­lar o PSDB –, de­vem pôr os pés no chão. O ca­mi­nho mais ime­di­a­to e dis­po­ní­vel pa­ra re­li­gar o po­der aos elei­to­res se­ria mu­dar a le­gis­la­ção elei­to­ral e ins­ti­tuir o vo­to dis­tri­tal mis­to. Há pro­je­tos em an­da­men­to no Con­gres­so que po­de­ri­am ser apro­va­dos an­tes das pró­xi­mas elei­ções mu­ni­ci­pais. Es­se é o pas­so viá­vel, por du­as ra­zões fun­da­men­tais: ca­be aos par­la­men­ta­res fe­de­rais to­mar a de­ci­são, que não afe­ta­rá de ime­di­a­to o fu­tu­ro de ca­da um de­les, mas, sim, o dos ve­re­a­do­res, o que fa­ci­li­ta a apro­va­ção. Se­gun­do, no ní­vel mu­ni­ci­pal é mais vi­sí­vel a teia que li­ga os ve­re­a­do­res com os elei­to­res, me­ca­nis­mo in­dis­pen­sá­vel pa­ra for­ta­le­cer os par­ti­dos. Sem tais vín­cu­los a ta­re­fa de go­ver­nar se con­fun­de com a de for­mar co­li­ga­ções ocas. Mais ain­da: a ex­pe­ri­ên­cia mos­tra que qu­e­rer re­sol­ver tu­do de uma só vez mais de­sor­ga­ni­za do que ins­ti­tui no­vas prá­ti­cas. Me­lhor, pois, an­tes de fa­lar em par­la­men­ta­ris­mo for­ta­le­cer os par­ti­dos, mu­dan­do a cir­cuns­cri­ção em que os re­pre­sen­tan­tes dis­pu­ta­rão o elei­to­ra­do.
Além das me­di­das já apro­va­das que di­fi­cul­tam a cri­a­ção de par­ti­dos – os quais no ge­ral são mais so­pas de le­tras do que ins­ti­tui­ções pa­ra ori­en­tar o vo­to do elei­tor –, é con­ve­ni­en­te au­men­tar as exi­gên­ci­as dou­tri­ná­ri­as pa­ra a sua for­ma­ção. Os par­ti­dos, pa­ra so­bre­vi­ve­rem, te­rão de ser ca­pa­zes de vi­ver “nas re­des” e ex­pli­ci­tar a que vi­e­ram pa­ra além de­las. Um par­ti­do co­mo o PSDB po­de mu­dar de no­me, mas de pou­co adi­an­ta se não atu­a­li­zar seus pro­pó­si­tos e prá­ti­cas.
Ho­je, quan­do não há mais “mu­ros de Ber­lim”, os par­ti­dos po­dem pro­cla­mar que o Es­ta­do não de­ve subs­ti­tuir o mer­ca­do e que es­te não re­sol­ve, por si, os pro­ble­mas da de­si­gual­da­de. E de­ve­ri­am sa­ber que, sem acei­tar a di­ver­si­da­de e a re­gra da mai­o­ria, as di­ta­du­ras po­dem che­gar lon­ge na eco­no­mia. Mas, vi­ven­do co­mo nós nos ares da li­ber­da­de, a tro­ca não va­le a pe­na, mes­mo que tra­ga so­lu­ção rá­pi­da do cres­ci­men­to e, com ele, a da po­bre­za: seu cus­to hu­ma­no e po­lí­ti­co é mui­to al­to.
De­mo­cra­cia, cres­ci­men­to, em­pre­go, in­clu­são so­ci­al e se­gu­ran­ça são os te­mas a se­rem en­fren­ta­dos. Se um par­ti­do so­zi­nho não con­se­gue trans­for­mar es­ses ide­ais em po­lí­ti­cas pú­bli­cas, que fa­ça ali­an­ças e crie for­ça for­man­do par­te de um cen­tro pro­gres­sis­ta que apon­te ao elei­to­ra­do o ru­mo do fu­tu­ro.


Ex-Blog do Cesar Maia



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