Agência quer estimular atividades comerciais na ISS — a ideia é privatizar a órbita terrestre baixa para poder focar na exploração do espaço profundo.
Por A. J. Oliveira
(Evans/Getty Images)
Mais do que nunca, a Estação Espacial Internacional (ISS) está aberta para negócios. Foi esse o grande mote de uma coletiva de imprensa com oficiais da NASA que ocorreu na última sexta-feira (7). Durante o evento realizado na Nasdaq, bolsa de valores em Nova York especializada em empresas de tecnologia, os executivos da agência anunciaram um pacote de medidas que visa abrir o complexo orbital ao setor privado.
Uma das que mais se destaca é o turismo. Astronautas desvinculados de agências espaciais prometem se tornar mais comuns nos próximos anos. De acordo com Robyn Gatens, diretor da ISS, a estação tem capacidade de acomodar até duas viagens privadas de curta duração por ano, cada uma levando 6 turistas. Elas podem durar até um mês, e ao todo uma dúzia de astronautas privados podem fazer visitas em um ano.
Essa possibilidade só foi colocada na mesa depois do recente programa Commercial Crew, no qual a NASA ajudou as empresas SpaceX e Boeing a desenvolverem suas cápsulas tripuladas — e as contratou para levarem seus astronautas até a ISS algumas vezes. Antes disso, os norte-americanos tinham de recorrer aos russos para fazer a viagem.
Mas, por enquanto, só pessoas extremamente ricas poderão arcar com essa aventura. Para voar em uma das cápsulas privadas, o preço de ida e volta é estimado em US$ 58 milhões. Atrasos na fase final da montagem e testes das cápsulas adiaram as operações para 2020. Antes disso, será impossível turistar na ISS. E os custos não param por aí. A NASA ainda vai cobrar US$ 35 mil por astronauta para cada pernoite no “hotel” orbital.
Esse valor cobre comida, água e o uso do sistema de suporte à vida. Acesso à internet, contudo, não está incluso no pacote. Se o visitante quiser se conectar para postar uma bela selfie com o planeta Terra de fundo, ou então para matar as saudades dos familiares, terá de pagar um adicional de 50 dólares por gigabyte. Alguns turistas já se aventuraram na ISS: o último a dar rolê lá em cima foi Guy Laliberte, fundador do Cirque du Soleil, em 2009.
Mas, na última década, as coisas ficaram meio paradas nesse ramo. Agora está havendo um renascimento do turismo espacial, com a Rússia também pretendendo voltar a explorar a atividade em 2021. Só que essa é só uma das áreas comerciais que a NASA planeja estimular com muito mais intensidade daqui para a frente.
Fabricação em microgravidade é outra vertente muito promissoras da nova economia espacial — certos materiais ficam muito melhores quando produzidos lá em cima. Além de dispor de mais tempo e espaço na estação orbital para fazer pesquisa e desenvolvimento, a indústria terá um dos módulos dos EUA para chamar de seu por um tempo, para aprender a construir suas próprias estações espaciais comerciais.
Com tudo isso, a NASA deseja criar uma economia comercial pujante na órbita terrestre baixa e tornar-se cliente dos serviços oferecidos. Assim, poderá mudar de foco e canalizar seus recursos para o espaço profundo, através de um programa lunar ambicioso para a próxima década que pode culminar na primeiras viagens a Marte no início dos anos 2030. Para isso acontecer, será preciso passar o bastão da ISS e da órbita baixa ao setor privado.
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