Sabe muito mais – e é, além disso, mais consciente de seu saber – quem cobriu extensos trechos do caminho, em comparação com quem se deteve a pouca distância de seu ponto de partida. Esse caminho, que é o da vida universal, é também o da própria vida, quando o homem resolve consumar a alta finalidade da existência. Esse caminho está povoado por presenças de toda espécie, umas animadas, outras inanimadas, mas todas visíveis para o olhar perscrutador do observador inteligente e sagaz. Só a torpeza dos sentidos impede vê-las, uma vez que esse caminho é o mesmo que todos percorrem; a diferença consiste em que, enquanto uns andam por ele descobrindo muitas coisas à sua passagem, outros, por mais que andem, não veem absolutamente nada.
As oportunidades que uns perdem por negligência, indiferença ou inadvertência, são as mesmas que outros, mais aplicados e capazes, usufruem. Para ilustrar esse fato, pode servir o caso dos rotineiros, que repetem até o último de seus dias os mesmos movimentos, as mesmas coisas e levam consigo os mesmos pensamentos, e também o dos que realizam estudos, acometem com êxito empresas difíceis e arriscadas e desenvolvem uma atividade múltipla, mas sem nunca estender a vista para fora da órbita na qual se movem.
A vida de cada um de nós é como o texto de um livro que leva o nosso nome
e do qual devemos ser o personagem principal
se não quisermos nos ver rebaixados a segundo plano por termos desempenhado nele um papel de pouca significação. Não deveremos, pois, deixar que nossa vida corra ao acaso pelos caminhos escorregadios da inconsciência. Ao contrário, temos de vivê-la guiados sempre por nossa inteligência, em estados lúcidos de consciência, para que não nos passe em branco um só dia. Desse modo, a vida se enriquece, porque nos incita a superar nossa concepção sobre ela.
O segredo disso consiste em preparar os dias futuros com antecipação, semeando hoje o que anelamos colher amanhã. Assim, saboreamos com antecipação o prazer que nos proporciona a gestação consciente do nosso futuro. Se conseguirmos fazer disso o objetivo principal e permanente de nossa vida, teremos nos convertido em artífices de nossa própria felicidade, o que é muito diferente da vida do carpe diem, idealizada por Horácio. É uma vida que transcorre na ignorância do que o futuro nos depara. De modo que a vida de hoje é o produto da vida de ontem.
A carruagem do destino, cujo alegórico rodar nos fala do caráter cíclico de nossa existência, jamais detém sua marcha, e infeliz daquele que cai sob suas pesadas rodas! O destino carece de sensibilidade; é, portanto, inclemente e inexorável. O homem deve superá-lo com sua inteligência, subindo à simbólica carruagem e conduzindo-a por rotas mais apropriadas ao nível hierárquico de sua espécie. Os que não o fazem se veem forçados a puxá-la como escravos, até que, exaustos, caem esmagados sob suas rodas. A isso se costuma chamar depois de “fatalidade”. É por tal razão que muitos, cedendo às exigências de sua sina, se deixam estar, sem que nada consiga afastá-los de tão absurda crença.
Extraído do Livro O Senhor de Sándara, pág. 137, 138, 139 e 382
Fonte: http://www.logosofia.org.br/artigos/a-carruagem-do-destino/369.aspx
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