sexta-feira, 3 de maio de 2019

O MÉ­DI­CO AO LON­GO DA HIS­TÓ­RIA! | Clic Noticias

(Silvano Raia, professor emérito da Faculdade de Me­di­ci­na da USP – O Estado de S. Paulo, 26) Nun­ca sua atu­a­ção foi tão ne­ces­sá­ria co­mo ba­li­za­dor éti­co dos pro­gres­sos e ino­va­ções
Re­cen­tes pro­gres­sos jus­ti­fi­cam co­men­tar a evo­lu­ção do mé­di­co ao lon­go da His­tó­ria. Su­ces­si­va­men­te, exer­ceu sua pro­fis­são de vá­ri­as for­mas e com di­fe­ren­tes ti­pos de ava­li­a­ção da so­ci­e­da­de a que per­ten­cia.
Pe­la lei­tu­ra de pa­pi­ros apren­de­mos que a par­tir de 6000 a.C. até o iní­cio da Ida­de Mé­dia o mé­di­co ocu­pou uma po­si­ção de des­ta­que. Não dis­pon­do de co­nhe­ci­men­tos so­bre as do­en­ças nem mei­os pa­ra di­ag­nós­ti­co, sua atu­a­ção se li­mi­ta­va a exer­cer uma in­fluên­cia be­né­fi­ca pa­ra que os pa­ci­en­tes acei­tas­sem seu so­fri­men­to co­mo ex­pres­são de um de­síg­nio su­pe­ri­or, im­pos­sí­vel de ser mo­di­fi­ca­do.
Su­as ca­rac­te­rís­ti­cas hu­ma­nas cons­ti­tuíam a ba­se da re­la­ção com o pa­ci­en­te e a au­ra de ser um su­pe­ri­or era res­pon­sá­vel pe­los even­tu­ais re­sul­ta­dos que con­se­guia. Es­se ti­po de atu­a­ção, em par­te má­gi­ca e em par­te ilu­si­o­nis­ta, che­gou até a Gré­cia de Hi­pó­cra­tes, que va­lo­ri­zou a anam­ne­se e o exa­me fí­si­co, con­fe­rin­do à prá­ti­ca mé­di­ca uma pri­mei­ra co­no­ta­ção ob­je­ti­va.
A po­si­ção de eli­te na so­ci­e­da­de se de­te­ri­o­rou na Ida­de Mé­dia e na Re­nas­cen­ça, qu­an­do a atu­a­ção do mé­di­co se li­mi­ta­va a san­gri­as e la­xa­ti­vos. Bar­bei­ro era o no­me pe­lo qual era de­pre­ci­a­ti­va­men­te co­nhe­ci­do.
Do sé­cu­lo 16 ao iní­cio do 19, a ima­gem do mé­di­co vol­tou a se dig­ni­fi­car, ao mes­mo tem­po que a me­di­ci­na pas­sa­va de ar­te a ci­ên­cia hu­ma­na. Ele ten­ta­va en­ten­der as do­en­ças e tra­tá-las com os es­cas­sos re­cur­sos de que dis­pu­nha.
Pou­co mais tar­de, na tran­si­ção do sé­cu­lo 19 pa­ra o sé­cu­lo 20, com o ad­ven­to do raio X e dos pri­mei­ros exa­mes de la­bo­ra­tó­rio, a ima­gem do mé­di­co se eno­bre­ceu ain­da mais, na me­di­da em que era obri­ga­do a ter aces­so aos co­nhe­ci­men­tos da épo­ca, que já não eram pou­cos, pa­ra me­lhor aten­der seus pa­ci­en­tes. Pro­va­vel­men­te foi a épo­ca áu­rea da dig­ni­fi­ca­ção da pro­fis­são mé­di­ca.
Ao con­trá­rio, de me­a­dos do sé­cu­lo 20 até o pre­sen­te, a evo­lu­ção dos mei­os de co­mu­ni­ca­ção e a con­se­quen­te fa­ci­li­da­de de aces­so aos ser­vi­do­res web, ri­cos em in­for­ma­ções mé­di­cas, con­co­mi­tan­te a uma sé­rie de pro­gres­sos e ino­va­ções, de­ter­mi­na­ram que a ima­gem do mé­di­co se ape­que­nas­se pro­gres­si­va­men­te. Is­so por­que os no­vos mé­to­dos te­ra­pêu­ti­cos ten­dem a re­du­zir a im­por­tân­cia do com­po­nen­te hu­ma­no da re­la­ção mé­di­co-pa­ci­en­te.
Pa­ra is­so con­cor­re­ram tam­bém o ad­ven­to da me­di­ci­na à dis­tân­cia e a bi­o­tec­no­lo­gia, com su­as pos­si­bi­li­da­des iné­di­tas e sur­pre­en­den­tes, co­mo a en­ge­nha­ria ge­né­ti­ca, o di­ag­nós­ti­co por in­te­li­gên­cia ar­ti­fi­ci­al (al­go­rit­mos), os chips pa­ra do­sa­gem em tem­po re­al de subs­tân­ci­as pre­sen­tes na cir­cu­la­ção san­guí­nea ou pa­ra in­fu­são con­tí­nua de hormô­ni­os na quan­ti­da­de ne­ces­sá­ria pa­ra man­ter a sua con­cen­tra­ção fi­si­o­ló­gi­ca.
En­tre­tan­to, nun­ca foi tão ne­ces­sá­ria a atu­a­ção do mé­di­co, co­mo ba­li­za­dor éti­co des­ses pro­gres­sos. Por exem­plo, uma téc­ni­ca re­cen­te­men­te des­cri­ta, de­no­mi­na­da CRISPR-Cas9, per­mi­te mo­di­fi­car, com fa­ci­li­da­de, o ge­no­ma de qual­quer ser vi­vo, in­clu­si­ve o nos­so. Es­sas mo­di­fi­ca­ções de­ter­mi­nam mu­ta­ções vo­lun­tá­ri­as que acar­re­tam um ris­co de gran­des pro­por­ções. Se­rão ine­vi­tá­veis ten­ta­ti­vas de cri­ar hu­ma­nos mais per­fei­tos do pon­to de vis­ta in­te­lec­tu­al, fí­si­co e es­té­ti­co, ou se­ja, um pro­je­to de eu­ge­nia. Di­fe­ren­te­men­te do que ocorreu na Ale­ma­nha na dé­ca­da de 1930, qu­an­do se ten­tou cri­ar uma ra­ça su­pe­ri­or pe­la eli­mi­na­ção dos me­nos do­ta­dos fí­si­ca e in­te­lec­tu­al­men­te, ago­ra agi­ría­mos cri­an­do su­per-hu­ma­nos.
Pa­ra evi­tar es­se ris­co o mé­di­co de­ve dis­tin­guir cla­ra­men­te os mé­to­dos de en­ge­nha­ria ge­né­ti­ca que cu­ram do­en­ças, de­vol­ven­do ao ge­no­ma sua con­fi­gu­ra­ção nor­mal, da­que­les que o mo­di­fi­cam trans­mi­tin­do a no­va con­fi­gu­ra­ção às ge­ra­ções se­guin­tes.
Uma vi­são abran­gen­te da evo­lu­ção dos ob­je­ti­vos dos mé­di­cos mos­tra que, no iní­cio, eles se li­mi­ta­vam a con­for­tar os pa­ci­en­tes, a se­guir, e su­ces­si­va­men­te, a di­ag­nos­ti­car as do­en­ças e tra­tá-las e de­pois, pe­la bi­o­tec­no­lo­gia, a evi­tar sua trans­mis­são por he­re­di­ta­ri­e­da­de. Ago­ra ten­ta cu­rá-las, e não ape­nas tra­tá-las. Por fim, pre­ten­de, no fu­tu­ro, evi­tá-las de uma vez por meio de va­ci­nas de DNA, bus­can­do com is­so pro­lon­gar a vi­da e evi­tar a mor­te.
Sa­li­en­te-se que es­ses no­vos ob­je­ti­vos exi­gem do mé­di­co uma atu­a­ção mui­to mais im­por­tan­te do que a de sim­ples exe­cu­tor de téc­ni­cas com­ple­xas, com­pu­ta­do­ri­za­das ou não.
Ele de­ve iden­ti­fi­car e in­cen­ti­var as que efe­ti­va­men­te be­ne­fi­ci­em seus pa­ci­en­tes e a nos­sa es­pé­cie co­mo um to­do. De fa­to, sua aten­ção não se de­ve li­mi­tar às ne­ces­si­da­des de um úni­co pa­ci­en­te, mas con­si­de­rar que, se fo­rem ge­ne­ra­li­za­das, as no­vas téc­ni­cas po­dem exer­cer efei­tos so­bre to­da a es­pé­cie hu­ma­na.
Nes­se sen­ti­do, co­mo diz o professor bra­si­lei­ro de Bi­oé­ti­ca Leo Pes­si­ni, ho­je atu­an­do no Va­ti­ca­no, “de­ve­mos apren­der a acei­tar a ou­sa­dia ci­en­tí­fi­ca ao mes­mo tem­po que es­ti­mu­la­mos um diá­lo­go in­te­li­gen­te en­tre éti­ca e ci­ên­cia, ou se­ja, de­ve­mos es­ti­mu­lar uma in­te­ra­ção eti­ca­men­te cri­a­ti­va e res­pei­to­sa des­ses dois uni­ver­sos”.
Sem es­sa vi­são hu­ma­nís­ti­ca o mé­di­co po­de se trans­for­mar ape­nas num exe­cu­tor de ta­re­fas pro­gra­ma­das, ou se­ja, um tec­no­cra­ta, e o pa­ci­en­te num co­bra­dor de so­lu­ções.
Pro­va mar­can­te des­se ris­co de­sa­len­ta­dor é sa­ber que, ao jul­ga­rem ca­sos de re­la­ção mé­di­co-pa­ci­en­te dis­cu­tí­vel, vá­ri­os juí­zes têm se ba­se­a­do no Có­di­go de De­fe­sa do Con­su­mi­dor!
Ao con­trá­rio, se acei­ta­rem es­sa no­va in­cum­bên­cia, os mé­di­cos vol­ta­rão a des­fru­tar a au­ra que me­re­cem e, mais do que tu­do, ga­ran­ti­rão um fu­tu­ro me­lhor, fe­liz e se­gu­ro pa­ra os nos­sos des­cen­den­tes.
Fi­na­li­zan­do, va­le ci­tar a fra­se do pre­si­den­te Bill Clin­ton, qu­an­do da con­clu­são da lei­tu­ra do ge­no­ma hu­ma­no: “Ho­je es­ta­mos apren­den­do a de­ci­frar a lin­gua­gem que Deus usou pa­ra es­cre­ver o li­vro da vi­da”.
É nos­sa res­pon­sa­bi­li­da­de fa­zer com que a lin­gua­gem de Deus se­ja em­pre­ga­da com a mes­ma fi­na­li­da­de com que Ele a usou, ou se­ja, pa­ra o bem e a dig­ni­da­de do ser hu­ma­no.
Ex-Blog do Cesar Maia
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