País tem sofrido com cortes de energia elétrica, que Maduro atribui a sabotagens
Ajuda humanitária deve começar a ser distribuída em maior escala | Foto: Federico Parra / AFP / CP
A Venezuela voltou a sofrer, nesta sexta-feira, um grande apagão, na véspera dos protestos convocados pelo líder opositor Juan Guaidó contra a situação caótica do país, que atribui ao governo do presidente Nicolás Maduro. Caracas e outras grandes cidades da Venezuela ficaram novamente sem energia elétrica, no momento em que o país se recuperava de um apagão que o paralisou durante quatro dias. A queda ocorreu às 19h10min, deixando às escuras a capital e cidades como Maracaibo, Valencia, Maracay e San Cristóbal.
A estatal Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) não informou sobre as causas ou o alcance do novo apagão. Desde 7 de março passado, repetidos cortes de energia têm afetado a Venezuela, prejudicando o fornecimento de água, o transporte público, os serviços de telefonia e internet, e paralisando as transações eletrônicas, fundamentais em um país onde a inflação é galopante. O governo de Nicolás Maduro afirma que os apagões são provocados por “ataques” contra a hidroelétrica de Guri, que gera 80% da energia consumida no país, patrocinados por Estados Unidos e a oposição.
Em outra frente da disputa entre Maduro e Guaidó, a Cruz Vermelha anunciou nesta sexta que distribuirá ajuda humanitária na Venezuela para reduzir a severa escassez de medicamentos, alimentos e insumos hospitalares. “Em um prazo de aproximadamente 15 dias estaremos com capacidade de oferecer a ajuda. Esperamos ajudar 650.000 pessoas em um primeiro momento”, declarou nesta sexta-feira Francesco Rocca, presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha. O anúncio marca uma guinada na política de Maduro, que nega que o país petroleiro sofra uma “crise humanitária”, como denuncia Guaidó, embora se mostre aberto à cooperação internacional sem “interferências”.
Rocca não deu detalhes sobre a ajuda, mas mencionou antibióticos, kits cirúrgicos e acompanhamento na compra e na renovação de tecnologia destinada aos abalados hospitais, inclusive com fontes de energia, para enfrentar os recorrentes apagões na Venezuela. Um corte maciço, ocorrido na segunda-feira, paralisou o país por quatro dias. “É uma operação muito similar à que está ocorrendo na Síria”, afirmou o diretor sobre o tamanho da ajuda. Rocca destacou que a organização vai agir de acordo com seus princípios de “imparcialidade, neutralidade e independência”, “sem aceitar interferências de ninguém”.
A Venezuela enfrenta uma forte escassez de alimentos e remédios, já que o governo, seu principal importador, não tem liquidez devido ao colapso da produção de petróleo – responsável por 96% de suas receitas – e sua expulsão dos mercados financeiros como resultado das sanções do Estados Unidos. Segundo a ONU, quase um quarto dos 30 milhões de venezuelanos necessitam ajuda “urgente”. Este sábado haverá novas mobilizações convocadas por Maduro e Guaidó, que prepara a “operação liberdade”, uma mobilização em direção ao palácio presidencial de Miraflores, em data a ser definida, para assumir seu controle.
“A operação Liberdade é um trabalho de todos”, afirmou o opositor no populoso setor de El Valle, na capital, onde supostos militantes governistas ativaram uma bomba de gás lacrimogêneo antes de sua chegada, gerando confusão. Os opositores protestarão contra o caos que tomou conta do país, enquanto Maduro ativará a chamada “operação em defesa da liberdade”. A entrada de assistência tornou-se um dos elementos centrais da crítica de Guaidó, presidente interino da Venezuela reconhecido por mais de 50 países, liderados pelos EUA. “Não acho que ninguém, nem o senhor Maduro, nem o senhor Guaidó, possam se orgulhar da vitória. Ninguém está ganhando aqui. Precisamos salvar vidas”, explicou Rocca.
AFP e Correio do Povo
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