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sexta-feira, 29 de março de 2019

CESAR MAIA EXPLICA COMO O FILHO RODRIGO DOBROU O GOVERNO! | Clic Noticias



(Revista Época, 28) Ex-prefeito do Rio de Janeiro diz que Bolsonaro é “lider sindical de policiais e militares” e que filhos causam curto-circuito.
Na última terça-feira, Brasília assistiu a uma demonstração de força dos deputados federais insatisfeitos com os rumos do governo. Foi aprovada, em votação-relâmpago, uma proposta de emenda constitucional que engessa ainda mais o poder de gasto do Executivo, na contramão de tudo aquilo que prega a equipe econômica do ministro Paulo Guedes a favor da desvinculação das receitas. Tratou-se de mais um capítulo da crise instaurada nas últimas semanas entre Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Ele está brincando de presidir o país, e está na hora de parar a brincadeira”, atacou Maia.
Horas antes e a quilômetros de distância da capital, o pai do líder da retaliação parlamentar se preparava para entrar em outra sessão que poderia trazer problemas para um chefe de Executivo. “Me acompanhe ao plenário que você verá uma surpresa”, provocou o vereador Cesar Maia (DEM-RJ) depois de discorrer durante quase duas horas para ÉPOCA sobre o “amadorismo dos atuais donos do poder”. Naquele dia, por pouco — mais precisamente por apenas um voto — a Câmara Municipal não aprovara mudanças na legislação sobre impeachment, em um claro recado para o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella.
Aos 73 anos e depois de ter sido prefeito do Rio por três mandatos (1993-1997 e 2001-2009), Cesar Maia dispensa o dia a dia da política que o filho adora. Enquanto Rodrigo Maia não larga as conversas partidárias por WhatsApp nem em encontros familiares no fim de semana, o barato de Cesar é fazer análises — muitas delas contrariadas pelos fatos, mas no mínimo divertidas. São análises com muitas referências político-culturais. Durante a tarde de terça, por exemplo, em uma minúscula sala chinfrim do Palácio Pedro Ernesto, citou de François Mitterrand a Oscar Wilde. O vereador envia diariamente uma tradicional newsletter, chamada de ex-blog, para quem se cadastrar em seu site. Até o momento, contudo, ainda não tinha falado sobre as troca de farpas entre Maia e o presidente:
“Bolsonaro não me dá raiva, de verdade. Estamos em outro mundo. Sou mais acadêmico, ele tem outro estilo, mais ligado ao Exército. Nas vezes que falei sobre isso com o Rodrigo, eu disse: ‘Esquece isso, não dá bola para isso, não’. Imagina, se preocupar com Carluxo, pelo amor de Deus”, esnobou Cesar, quase blasé, em referência ao apelido de Carlos Bolsonaro, que danou-se a desancar o presidente da Câmara pelas redes sociais nos últimos dias.
A crise de Maia com o governo começou há duas semanas, a partir do congelamento da tramitação do pacote anticrime enviado ao Congresso pelo ministro Sergio Moro. “Desse jeito, o Paulo Guedes pode levar pancada. Se esses dois projetos andarem juntos, não vai ser votada a Previdência. O tema do Moro é de enorme adesão popular, o outro não”, disse Cesar, em defesa da atitude do filho de priorizar o tema econômico.
O clima azedou de vez quando o ex-juiz da Lava Jato enviou mensagens de celular para o presidente da Câmara reclamando de seu projeto ficar em segundo plano. Maia chamou Moro de “funcionário de Bolsonaro” e falou que ele estava “confundindo as bolas”. Chamou ainda a proposta de “copia e cola” do projeto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Dias depois, foi a vez de Moro alfinetá-lo com indiretas: “Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”, ironizou.
Na semana passada, uma nova fase da Lava Jato colocou ainda mais lenha na fogueira. Casado com a mãe da mulher de Maia, o ex-ministro Moreira Franco foi preso preventivamente com o ex-presidente Michel Temer, acusado de corrupção. Não demorou muito para Carlos Bolsonaro, o filho-vereador-tuiteiro do presidente, fazer das suas na internet: “Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?”, questionou nas redes, insinuando que o deputado estaria com receio de investigações da Polícia Federal.
“Analista político frequente nas redes, Cesar Maia vê governo fraco na articulação política e cometendo equívocos na relação com o Congresso. A velha política vence sempre”
Maia, então, chamou os principais jornais do país e anunciou que estava fora da articulação política pela reforma da Previdência. Sem parecer se incomodar, Bolsonaro elevou o sarrafo da crise com um festival de ironias comparando o presidente da Câmara a uma namorada querendo terminar um relacionamento. “Bolsonaro não é um personagem capaz de segurar a liderança desse processo. Agora, será que ele faz esse raciocínio e dá importância a isso? Foi ao cinema nesta semana com a esposa… No fundo, faz isso porque sabe que pode ser aplaudido lá. Ele é um líder sindical dos policiais e dos militares, e assim continua se comportando”, analisou Cesar.
O pai de Rodrigo divide em três os núcleos do governo. O econômico, comandado por Guedes; o da justiça, simbolizado por Moro; e o administrativo, com os militares à frente. Mas e os filhos do presidente, também não são um polo de poder? “São o quarto vetor. O vetor dispersivo. Geram curto-circuito, atrapalham, mas nada grave. Um fala uma besteira, outro fala outra, o Olavo (de Carvalho), que também é desse vetor, fala mais uma… Mas não é o principal”, disse. Ponderei que um filho do presidente, “o Carluxo”, como Cesar o chamou, já havia derrubado o ministro Gustavo Bebianno após uma desavença nas redes sociais. Fui rebatido com uma pergunta: “Será que foi por causa do Carlos? Ou ele foi apenas vocalizador da vontade do pai? Como disse, não vejo organicidade nos filhos, são pessoas querendo aparecer apenas, não é relevante nada disso. Por que perder tempo com eles?”, esnobou de novo.
Erros, no entanto, Cesar já vê vários no governo. Dizer que o golpe militar não foi golpe, quando é óbvio que foi, é um deles, não só do ponto de vista do conceito, como para a própria popularidade de Bolsonaro. “Estudei durante muito tempo a ascensão da nova direita. O golpe de 1964 não é um tema popular, ele tinha de se distanciar disso. É um erro e a consequência virá depois”, disse, apesar de Bolsonaro ter ganho a eleição já defendendo gente do tipo do coronel Brilhante Ustra. “Ele venceu por causa da Lava Jato. Não foi por causa de evangélicos nem da violência, esquece.”
Questiono novamente se não basta resolver a articulação política para o governo andar. E quem recebe críticas, desta vez, é o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que trabalhou pela derrota de Maia na eleição para a presidência da Câmara. “Que articulação política? O Onyx é apenas um representante da Taurus no Congresso que espertamente tornou-se articulador da proposta de dez medidas contra a corrupção.” Cesar não se alinha aos alarmistas que afirmam que o governo pode não durar: “Mas como é que cairia? O tempo não resolve isso tão rapidamente. O PT ficou 13 anos no poder. O que pode acontecer é a crise econômica ganhar uma profundidade”, disse. No dia seguinte, a pedido de ÉPOCA, Cesar comentou as respostas que o Congresso deu durante a semana para Bolsonaro. “Os partidos estão desgastados, mas não confunda com o Congresso como instituição. Ele vai se afirmar sempre.”
Ex-Blog do Cesar Maia


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