Algo que ainda é muito propagado no senso comum é a falta de utilidade em ser ter um posicionamento político e ainda que, quem faz parte ou, pelo menos, se interessa por política, das duas uma: ou é um militante apaixonado, alienado de tudo que é razoável, ou está sendo beneficiado de alguma forma, direta ou indiretamente. Entretanto, há um critério fundamental que poderia justificar tanto as escolhas políticas quanto o motivo para se fazer uma escolha política. Tal critério é a capacidade de avaliação da realidade.
Primeiramente vamos avaliar quais são os argumentos mais corriqueiros para não se fazer uma escolha política. O primeiro, e talvez o mais fraco, é dizer que “política não serve pra nada”,- que está geralmente na boca daquele “tiozão” que faz a piada do pavê no Natal. É notório que as principais decisões de bem-estar social, econômicas e até morais passam pelo âmbito da discussão política, uma vez que por definição dizemos que a atividade política é a ciência de governo dos povos. Então descartamos facilmente esta possível objeção.
Em segundo lugar, há o seguinte argumento: “política serve apenas para privilegiar interesses pessoais ou de algum grupo determinado”. Esta possível objeção tem até um caráter verdadeiro, uma vez que os políticos se articulam em grupos para conseguir que seus interesses sejam cumpridos, entretanto isso está longe de ser um argumento poderoso contra a atividade política – e aqui será suficiente apresentar somente um argumento, em que não pretendo me demorar. Há inumeráveis grupos políticos, e cada grupo político se articula movidos por interesses diferentes, que na maioria das vezes são contrários a outros inumeráveis grupos políticos. Esse confronto de interesses é uma das razões, se não for a principal, de não haver uma hegemonia totalitária na classe política que possibilitaria a convergência para um único interesse em comum.
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Um terceiro argumento poderia ser levantado: “os políticos são uma classe privilegiada, quem entra para a política entra somente para desfrutar destes privilégios.”. Ora, eu não vejo razão nenhuma para condenar a atividade política por essa razão; pelo contrário, ela pode fortalecer ainda mais a justificação de uma escolha política. Uma vez que somente pela atividade política os privilégios dados a esses mesmos políticos podem ser combatidos, bastando apenas a boa vontade de quem o faz. Podemos somar isso às considerações anteriores ao segundo argumento e teremos motivos suficientes para rechaçar essa possibilidade.
Mas qual é a razão fundamental que justifica a escolha de uma posição política? A meu ver a principal razão é a leitura correta da realidade. O que raios isso significa? A realidade é dividida em vários aspectos; esses aspectos são determinados por aquilo que chamamos de cosmovisão, uma “visão de mundo”. A cosmovisão escolhida determinará suas opções mais fundamentais, sejam elas éticas, políticas e religiosas. Ao escolher uma posição política, que é o nosso objetivo, temos que considerar qual das posições políticas se adequa melhor à nossa “visão de mundo”, e além, qual delas faz a melhor DESCRIÇÃO da realidade.
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Uma teoria política que pretenda ser levada a cabo deve oferecer uma descrição da realidade de forma mais fiel possível considerando coisas fundamentais, como: economia; organização social; organização comercial e de trabalho; posições religiosas; aspectos de moralidade, etc. Uma teoria política satisfatória deve tratar da forma mais completa e fiel possível do conjunto total de ramificações destes aspectos.
O papel de um participante de uma sociedade deveria ser de avaliar essas teorias e se aproximar da que se revele mais adequada segundo sua avaliação, que teria como fator central e crucial para decisão a sua própria cosmovisão. Observe que há um elemento que deve ser, se não totalmente, pelo menos suficientemente abandonado. Este elemento é o fator passional das escolhas. E isto por um motivo óbvio: as paixões têm a potência de enganar a capacidade racional humana, tendo uma interferência negativa nas nossas escolhas, principalmente em escolhas importantes como um posicionamento político. O prejuízo da passionalidade nas escolhas políticas é facilmente verificável, em que podemos acompanhar uma militância ferrenha para um determinado grupo, onde se ignoram completamente os equívocos e absurdos cometidos pelos representantes das ideias que defendem. E esse tipo de atitude passional não tem um lado, não tem uma bandeira: é simplesmente uma emanação da preguiça misturada com a estupidez humana. Ter uma posição política se assemelha, nestes casos, a se tornar um torcedor fanático, que apenas está ali para torcer para seu clube sem uma razão aparentemente razoável.
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Este texto é um apelo a racionalidade nas decisões concernentes a posições políticas. O objetivo maior de se fazer política, assim como toda ciência respeitável, deveria ser o progresso (não confundir progresso com progressismo) da humanidade, respeitando seus valores e tradições, e também suas diferenças, considerando cada ser humano como um indivíduo, uma peça singular e de difícil substituição, e claro, punindo de forma justa toda tentativa de se burlar essa harmonia um tanto desejável.
Portanto, considerando tudo que foi dito, temos alguns critérios e razões para se escolher uma posição política de forma equilibrada e racional.
*Sobre o autor: Rodolpho Lima Nagel é graduando em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense e coordenador local do Students For Liberty Brasil.
Instituto Liberal
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