26 DEZ ’18 MARCEL BALASSIANO
No ano de 2018, segundo ano pós-recessão, a economia cresceu ligeiramente mais do que o ano anterior, mostrando que a recuperação está sendo lenta e gradual. De acordo com a mediana das expectativas de mercado (boletim Focus), o crescimento em 2018 foi de 1,3%, pouco acima do 1,1% de 2017. Esse número poderia ser melhor, já que a greve dos caminhoneiros de maio impactou negativamente a atividade econômica, bem como a inflação. Apesar de ter sido um evento pontual, revertido nos meses seguintes, o impacto não foi desprezível. Além disso, a incerteza eleitoral somada aos baixos níveis de confiança prejudicaram a atividade econômica.
A inflação, notícia positiva da economia nos últimos tempos, deve ficar abaixo dos 4,0% (a prévia da inflação, o IPCA-15, já divulgado, foi de 3,9%), pelo segundo ano consecutivo abaixo da meta de (ainda) 4,5%. Após 14 anos, 2018 será o último ano com meta neste patamar. O Conselho Monetário Nacional já decidiu que a meta de 2019 será de 4,25%; 4,0% em 2020 e 3,75% em 2021. A taxa básica de juros chegou na mínima histórica (6,5%) em março deste ano, concluindo o ciclo de afrouxamento monetário iniciado no final de 2016. Naquela época, a taxa Selic estava em 14,25%.
A taxa de desemprego, variável macroeconômica mais importante para a população, ainda está num nível muito elevado, próxima dos 12%, fruto da pior recessão que o país enfrentou. Para ocorrer uma diminuição do desemprego, com um aumento do emprego formal, a atividade econômica tem que se fortalecer mais. Para isso, é necessário que a taxa de investimento cresça, já que houve uma perda de quase seis pontos percentuais da taxa de investimento em proporção do PIB.
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Como todos sabem, o grande problema macroeconômico do Brasil hoje em dia é o fiscal. Após 16 anos de superávit primário (1998-2013), a partir de 2014 o país passou a apresentar déficit primário. Entre 2014-2017, a média do déficit primário foi de 1,7% do PIB. Para este ano, as expectativas de mercado do boletim Focus indicam um déficit primário de 1,8% do PIB. Com isso, a dívida bruta (em proporção do PIB) subiu fortemente. A média da dívida entre 2006 e 2013 foi de 55%, e, a partir de 2014, a dívida cresceu até chegar aos 77% atualmente.
Para 2019, as expectativas de mercado, de acordo com a mediana do boletim Focus, são de um crescimento mais forte (2,5%); com uma inflação novamente abaixo da meta (4,0%); e uma taxa Selic maior (7,25%) do que atualmente (6,5%), já que uma recuperação maior da economia pode acarretar um aumento da inflação e uma subida dos juros. Lembrando que, como o Banco Central sempre reitera nos seus documentos, atualmente está ocorrendo uma “política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural” – por isso esse aumento esperado ano que vem. Mas, também vale frisar que as expectativas eram de um aumento maior no passado (7,75% há um mês atrás), ou seja, ao longo do ano que vem, esse cenário de aumento dos juros pode mudar na direção de menos aumentos ou até mesmo a manutenção da taxa Selic nos 6,5% até o fim do ano, como indica a mediana do top 5 de médio prazo do Boletim Focus, das instituições que mais acertam as projeções. Por fim, o boletim Focus indica uma taxa nominal de câmbio de R$ 3,80 / US$ no final do ano que vem, taxa não muito distante da observada atualmente; e um déficit primário de 1,5% do PIB.
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Em resumo: em 2019 possivelmente vamos continuar com a recuperação da economia, com um crescimento do PIB mais forte do que o deste ano; inflação próxima da meta; taxa básica de juros em patamares baixos; recuo do desemprego, fruto da continuação da recuperação da atividade econômica; mas ainda com o (grave) problema fiscal. Reverter isso é fundamental para manter, de forma sustentada, a inflação controlada e os juros baixos nos próximos anos, além de gerar mais crescimento e criação de empregos no país. Por isso que a reforma da previdência é fundamental nesse reequilíbrio fiscal, já que a maior parte das despesas primárias são gastas com a previdência. Esses são os motivos da grande importância do assunto previdenciário, devendo a reforma ser a principal prioridade da área econômica no começo do próximo governo. Por fim, no site do Ministério da Fazenda, há uma seção bastante interessante sobre Balanço e Perspectivas Econômicas, com as principais medidas tomadas pelo governo Temer, bem como os desafios do futuro governo. Feliz 2019!!
Marcel Balassiano
É mestre em Economia Empresarial e Finanças (EPGE/FGV), mestre em Administração (EBAPE/FGV) e bacharel em Economia (EPGE/FGV).
Instituto Liberal
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