Em tradicional evento andino, hiperinflação e crise migratória são lembradas em Táchira
Miss Inflação retrata Venezuela empobrecida neste Ano Novo | Foto: Carlos Ramírez / AFP
Uma boneca robusta vestida de farrapos é a “Miss Inflação”. Um carro velho repleto de malas e bandeiras de vários países retrata a migração sem precedentes. As calamidades da Venezuela se unem na queima da véspera de Ano Novo, uma antiga tradição andina.
Em um país considerado uma fábrica de rainhas da beleza, Enrique Labrador, um mecânico de 53 anos, criou a “Miss Inflação” para representar a implacável escalada de preços estimada em 1.350.000% para este ano e 10.000.000% para 2019, segundo o Fundo Monetário Internacional.
Pulverizado pela hiperinflação, o salário mínimo de 4,5 mil bolívares – equivalente a cerca de seis dólares no mercado de câmbio paralelo – apenas dá para dois quilos de carne, o que levou milhões de pessoas a deixar o país. “A Miss Inflação foi criada pelo que estamos vivendo na Venezuela, onde os preços sobem a cada hora. Isso passou dos limites”, comentou Labrador à agência de notícias AFP.
As cenas de figuras coloridas percorrem Táchira, estado fronteiriço com a Colômbia, onde todo 31 de dezembro é celebrado o ritual que busca deixar o mal para trás. As ruas de San Cristóbal, a capital, ficam cheias de bonecos que serão incinerados à meia-noite.
Ana Quintero, de 53 anos, que viu vários parentes partirem fugindo da crise, armou em frente a sua casa um cenário de migração que inclui um carro velho cheio de malas com uma família a bordo, um posto para carimbar passaportes e uma cerca onde se lê: “Adeus, Venezuela”. A representação do Fusca será consumida pelo fogo. “Este ano haverá cinco cadeiras vazias na sala de jantar de nossa casa, é forte expressar essa dor que sentimos”, conta Ana, com a voz embargada.
Labrador explica que a queima da véspera de Ano Novo é um costume para receber o novo com “boas energias”, incinerando as imagens de políticos que “se comportam mal”.
O atrativo das criações faz com que muitos se aproximem para tirar fotos. Tradicionalmente a queima da véspera de Ano Novo é feita com pirotecnia, mas este ano será escassa pois os preços para adquiri-la estão longe do alcance da maioria.
AFP e Correio do Povo
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