por Tássia Kastner
Incentivo de bancos para saída do cheque especial não reduz uso da linha e altera pouco a inadimplência
Os juros do rotativo do cartão de crédito voltaram a subir em novembro e estão em nível próximo do registrado no primeiro mês de entrada em vigor das novas regras para uso da linha de crédito, há pouco mais de um ano.
A taxa de juro anual ficou em 255,6% ao ano, alta de 37,5 pontos percentuais em 12 meses, segundo dados do Banco Central divulgados nesta quinta-feira (27). Em maio de 2017, o juro era de 258,5%.
As novas regras do rotativo entraram em vigor em abril do ano passado, e maio foi o primeiro mês em clientes que estivessem no rotativo deveriam ser migrados para uma linha de parcelamento com taxas mais baratas. Antes disso, os juros médios rondavam os 500% ao ano.
Neste período, a taxa selic (o custo básico do crédito para os bancos) caiu de 11,25% para 6,5% ano ano, a mínima histórica.
Além disso, um volume menor de dívidas foi rolado por consumidores no rotativo no último mês. Foram R$ 6,7 bilhões, ante R$ 7,5 bilhões um ano antes.
Houve um crescimento no uso da linha de parcelamento no cartão, para R$ 4,5 bilhões. É para essa linha que clientes que não conseguem pagar o saldo do rotativo no segundo mês são migrados, mas a conta inclui ainda parcelamento do total da fatura, saques parcelados e compras parceladas com juros.
O juro médio cobrado nesta linha é de 161,5% ao ano, conforme o BC. A inadimplência avançou entre esses clientes, a 3,2%. Em novembro do ano passado, era de 1,6%. No rotativo, a inadimplência é de 35%.
O cheque especial segue como a linha de crédito de juros mais elevados do sistema financeiro, a 305,7% ao ano, apesar da queda de 18 pontos percentuais na comparação com novembro do ano passado.
O programa lançado pelos bancos para reduzir o endividamento de clientes nessa linha, porém, surtiu pouco efeito. Em novembro, foram emprestados R$ 31,8 bilhões em cheque especial. A inadimplência é de 13,6%.
Os bancos conseguiram, porém, reduzir a inadimplência na linha de composição de dívida, usada quando a instituição renegocia vários débitos do cliente em uma nova linha de crédito, a juros mais baratos. Os calotes caíram de 17,4% a 14,7%. A taxa média de juro ficou em 56,1% ao ano, e R$ 2,4 bilhões em dívidas foram repactuados no mês passado.
A concessão total de crédito a pessoa física cresceu 10% em um ano, para R$ 175,4 bilhões em novembro.
Já os novos empréstimos a empresas saltaram 15,6% em 12 meses até novembro, a R$ 126,9 bilhões, mas caíram 2,1% na passagem de outubro para novembro —o crédito a empresas se retraiu mais que para pessoas durante o pior momento da crise econômica.
Os dados do Banco Central mostram ainda que o spread (diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada nos empréstimos) voltou à tendência de alta após ter recuado. Em novembro, o spread foi de 18,2 pontos percentuais —na mínima alcançada em junho, a diferença foi de 17,7 pontos.
Neste mês, a Febraban lançou um livro em que aponta medidas que considera necessárias para a redução dos juros e dos spreads no país. De 21 ações, apenas 1 caberia aos bancos a implementação.
Fonte: Folha Online – 27/12/2018 e SOS Consumidor
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