sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Brasileiro conta com sobra no orçamento para poupar; saiba como se planejar

por Anaïs Fernandes

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Pesquisa aponta que maioria que não guarda dinheiro sequer tem reserva de emergência

Não há muito o que se comemorar no Dia Mundial da Poupança, celebrado nesta quarta-feira (31), no Brasil, mas a data pode servir de alerta para o descuido da população com suas finanças.

Menos de um terço dos brasileiros afirmavam ter o hábito de poupar e, entre esses, apenas 10% disseram estipular um valor fixo a ser guardado. O restante poupa o que resta do orçamento.

Os dados são do Indicador de Reserva Financeira da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) de setembro.

No mês anterior, isto é, agosto, poucos mais de 16% dos entrevistados afirmaram ter conseguido guardar algum dinheiro.

"A pesquisa mostra que não só o grupo de poupadores é pequeno, como ainda quem consegue guardar não faz isso da melhor forma, com planejamento. Muitos vão na sorte, quando dá, quando sobra", avalia Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.

Mais grave. Não só 61% dos entrevistados não costumam poupar, como quase 53% sequer tem uma reserva de dinheiro.

"O brasileiro vive de uma fora muito imediatista, depende de parcelas. Mas, acima de tudo, nunca tivemos educação financeira", diz Annalisa Blando Dal Zotto, planejadora financeira e sócia da Par Mais.

As principais justificativas de quem não guardou dinheiro, de acordo com o levantamento do SPC, foram renda insuficiente (45%), imprevistos (15%), o fato de estarem sem trabalho no momento (15%) e descontrole com relação aos gastos (12%).

Segundo Dal Zotto, o passo inicial antes de começar a poupar é traçar objetivos. Guardar dinheiro para comprar uma casa, fazer um sabático ou se aposentar exige estratégias diferentes.

“Essa atitude do ‘se sobrar’ não adianta, porque dificilmente acontece. A maioria das pessoas sempre posterga para o próximo mês”, diz.

A estratégia do "pague-se antes" é preferível. "Quando você separa, por exemplo, 10% do seu dinheiro logo depois que recebe o seu salário, pode ser difícil no início, mas gradualmente você aprende a viver com os 90% restantes", afirma a planejadora.

"Depois, a cada mês, você vai aumentando um pouquinho esse percentual, assim não leva um susto grande. Acaba criando um desafio consigo mesmo e um hábito. Mas vale começar guardando qualquer coisa, é como chutar uma bola, precisa sair dessa inércia", completa Dal Zotto.

Antes de tudo isso, no entanto, vem a formação de reserva de emergência.

Segundo o SPC, quatro em cada dez dos poupadores precisaram sacar, em setembro, ao menos parte dos recursos guardados em agosto. Entre esses, 16% disseram destinar o dinheiro para uma situação inesperada e 9% para pagar dívidas.

"A reserva está aí para ser usada quando aperta, mas tem que se organizar para recompor os recursos. Todo mundo passa por imprevistos, se você não tem dinheiro guardado, no primeiro obstáculo vai se endividar", diz Dal Zotto.

Muitas dívidas contraídas pelas famílias poderiam ser quitadas com valores considerados baixos.

Quase três em cada dez pessoas com o nome negativado no SCPC (serviços de proteção ao crédito) poderiam voltar pro azul pagando até R$ 500, aponta outro levantamento, da startup de finanças pessoais GuiaBolso.

"As pessoas não têm uma reserva de emergência ou poupança. Quando acontece a situação inesperada, como uma demissão, despesa hospitalar ou batida de carro sem seguro, dá esse soluço nas finanças. Por mais que depois ela volte a pagar em dia, é muito difícil quitar o passado. Pagar aqueles dois ou três meses que ficaram para trás requer um aperto de contas maior", diz Márcio Reis, diretor de dados e pesquisas econômicas da GuiaBolso.

Ele orienta que guardar valores menores, mas com constância, é mais vantajoso do que poupar esporadicamente montantes grandes. "O hábito gera valor", afirma.

Para criar constância, diz Dal Zotto, é essencial elaborar uma planilha de controle financeiro, em que o consumidor lance ganhos, custos e planeje o quanto vai guardar. "É chato, mas tem que fazer", afirma.

ESCOLHA DOS INVESTIMENTOS 

Se para quem poupa olhar para o presente já é difícil, planejar o futuro parece ainda mais distante. Apenas dois em cada dez brasileiros que guardaram alguma quantia em agosto separaram parte da renda pensando na aposentadoria, diz o SPC.

Marcela Kawauti, do birô de crédito, destaca que o brasileiro tem dificuldade para escolher os instrumentos mais adequados para poupar de acordo com seu objetivo.

A velha caderneta de poupança lidera o destino das reservas com folga (59%), bem abaixo de outros investimentos como fundos (10%) e Tesouro Direto (7%), de acordo com o levantamento.

Já 18% afirmam deixar o dinheiro em casa e outros 18% na conta corrente. "Isso é muito ruim, porque não oferece retorno nenhum", diz Kawauti.

"Não é só criar o hábito de poupar. Esse é o primeiro passo, planejar o objetivo, quanto vou guardar. Mas não adianta ter foco se não escolher o instrumento adequado para isso", ela acrescenta.

A planejadora Annalisa Dal Zotto explica que objetivos de longo prazo permitem ao investidor assumir maior risco em busca de mais retorno, como em fundos de ações ou multimercados. "Se houver perdas no curto prazo, com um universo de cinco, dez anos de aplicação, há tempo para se recuperar", afirma.

"O dinheiro da reserva deve estar ou em uma poupança ou num Tesouro Selic, por exemplo, em que não vai render tanto, mas também o risco de perda é menor", completa.

Fonte: Folha Online - 31/10/2018 e SOS Consumidor


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