1. Estado de SP: Como o senhor explica a derrota de sua candidatura ao Senado? O senhor esteve à frente nas pesquisas de intenção de voto praticamente durante toda a campanha... Alguns analistas dizem que o apoio de Bolsonaro a Arolde de Oliveira teria sido a principal razão desta derrota. Várias outras lideranças tradicionais da política brasileira também acabaram sendo derrotadas. Como o senhor analisa esse quadro?
Cesar Maia: A regionalização do voto no Rio é assim há muitas décadas. Perdi na Baixada e São Gonçalo. Nas pesquisas anteriores Lindbergh vencia aí e a diferença era pela margem de erro. Arolde venceu aí e por uma diferença global inferior a 1%. Em cada Estado há uma explicação. Aqui no Rio para o Senado a impulsão presidencial não explica a diferença entre segundo e terceiro. A evangélica sim para aquelas regiões.
2. ESP: O apoio da família Bolsonaro nos últimos dias da campanha também foi considerado crucial para o crescimento vertiginoso do candidato Wilson Witzel – que surpreendeu todo mundo, inclusive os institutos de pesquisa -- e acabou chegando em primeiro lugar, à frente do candidato do DEM, Eduardo Paes, que, até a véspera das eleições, aparecia dez pontos à frente do segundo colocado (que nem era Witzel!). O senhor atribui essa vitória ao apoio de Bolsonaro?
CM: Os sinais que ele se aproximaria e poderia ultrapassar Paes eram nítidos nos últimos dias ou até um pouco antes. As pesquisas medem opinião pública. Na Inglaterra nos anos 30 se diferenciava sentimento popular de opinião pública. Sentimento Popular é uma reação mais ou menos difusa das pessoas aos fatos. Na Universidade de Sussex (Mass Observation - MO), Madge e Harrison desenvolveram este sistema e em 1938 para a política e para a guerra. Churchill tomou suas primeiras decisões assim. Veja o filme O destino de uma nação que disputou o último Oscar.
3. ESP: Já na terça-feira, em campanha, Eduardo Paes se declarou neutro em relação à corrida presidencial para, em seguida, tecer vários elogios a Jair Bolsonaro. Disputar os eleitores de Bolsonaro é a estratégia para virar o jogo e conseguir uma vitória?
CM: Só conhecendo as pesquisas nas quais ele se baseou.
4. ESP: Qual o peso real dos evangélicos nessa disputa eleitoral?
CM: As Igrejas evangélicas tiveram pela primeira vez um peso maior que a católica nessas eleições no Rio. Seu ativismo e adaptação às regras do TRE, as diferenciou é muito. O vice de Witzel é vereador católico militante, mas isso nunca foi usado, pelos fatos e cenários.
5. ESP: Como o senhor avalia o impacto das Fake News na vitória de Bolsonaro? Muitos especialistas em comunicação dizem que as redes de WhatsApp da família e a disseminação de notícias falsas em progressão geométrica teriam sido cruciais para a vitória. Mais do que nenhum outro candidato, ele (que tinha pouquíssimo tempo na TV) dominou a nova mídia, usando-a a seu favor.
CM: Não creio. Essa é uma visão ingênua das redes sociais. Escrevi na terça feira que os analistas estavam se esquecendo da Lava Jato na mesma dinâmica da operação Mãos Limpas e com o mesmo impacto no parlamento. A tentativa de assassinato alterou a exposição dele na mídia que ficou muito maior que o tempo de TV eleitoral que ele não tinha, mudou o quadro das pesquisas. A vitimização sempre foi um significativo fator na decisão de voto.
6. ESP: Como o DEM se posiciona na disputa presidencial? E o senhor, pessoalmente?
CM: O DEM abriu para seus militantes e diretórios essa decisão. Aguardo a posição de nosso candidato a governador.
7. ESP: O senhor considera que a eleição de Bolsonaro pode ser um risco real à democracia?
CM: De forma alguma. Isso é uma besteira enorme ou completo desconhecimento das instituições pós constituinte já testadas em vários momentos.
8. ESP: Em análise publicada em seu blog, o senhor compara o que está acontecendo no Brasil hoje ao que ocorreu na Itália alguns anos atrás, durante a operação Mãos Limpas, e a subsequente eleição de Berlusconi. Qual a relação entre tais operações contra a corrupção e o surgimento de lideranças da extrema-direita?
CM: A relação não é ideológica. O impacto percebido nas ruas pelo “sentimento popular” atingiu todos o espectro político. Mas favoreceu mais aos que estavam incólumes a fatos contaminadores.
9. ESP: No caso da Itália, no entanto, o regime é parlamentarista. Como fica essa situação no caso do Brasil, que é presidencialista, diante de uma possível eleição de Bolsonaro?
CM: Na operação Mãos Limpas no parlamentarismo mudaram os personagens e a nominata dos partidos, mas a estabilidade parlamentar se manteve mesmo que oscilando as maiorias. Num presidencialismo vertical como o nosso o efeito da Operação Lava Jato se não for entendido pelos vencedores atribuindo-se causas, pode gerar um impasse legislativo. Isso vai depender -se for o caso- do entendimento do presidente.
10. ESP: O senhor acredita ser possível a criação de uma grande frente democrática ligada à candidatura de Fernando Haddad? Com Fernando Henrique, Ciro Gomes, Henrique Meirelles, entre outros? O senhor participaria? Quais seriam as chances de essa aliança ser bem sucedida?
CM: Não acredito. A pulverização político-parlamentar nessa eleição mostra que -digamos- os blocos serão reconstruídos no parlamento e não na campanha presidencial. As “mensagens” das campanhas é que serão fundamentais. Por exemplo. No Rio todos pensavam que o tema era a segurança pública e desemprego, e não foi.
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